Criancas escravos da tecnologia"A tecnologia é um produto que vicia e deve ser regulada como tal. 48% dos jovens que passaram mais de cinco horas por dia ligados ao celular sofreram depressão, isolamento ou tendências suicidas, de acordo com um estudo apresentado em Washington” no dia 7 último. Artigo publicado nesta segunda-feira no jornal El País, de autoria do jornalista Nicolás Alonso, correspondente em Washington, que acompanhou o evento, alerta que a dependência exagerada da tecnologia está se tornando um problema de saúde pública.

“A tecnologia domina nossas vidas. Acordamos com ela e dormimos com ela. Grandes empresas, como o Facebook ou o YouTube, manipulam seus algoritmos para que os usuários aumentem o uso de seus produtos, ganhem mais e possam aumentar seus lucros através da publicidade. Para crianças, o problema é maior: devido ao uso constante de dispositivos, 50% dos adolescentes se consideram viciados; 48% daqueles que passaram mais de cinco horas com o telefone relataram sentimentos de depressão, isolamento ou suicídio”, diz o jornalista.

Essas são as conclusões de estudos que objetivam alertar pais e professores para um novo perigo que ameaça a capacidade de discernimento e concentração ou até mesmo a saúde física e mental de crianças e adolescentes, principalmente atrapalhando a vida social, os relacionamentos, os estudos e até mesmo o lazer.

Segundo o jornal El País, “Com este prisma, um grupo de ex-funcionários dessas empresas (os gigantes da Internet) adverte sobre os perigos da tecnologia. Agora eles lideram uma iniciativa dos Estados Unidos para alertar sobre as repercussões sociais da constante conectividade a que estamos sujeitos. "O incentivo é atrair nossa atenção e rentabilizar isso através de contratos de publicidade, não importa quão bom eles sejam para os seres humanos. Devemos transformar o objetivo para o bem comum e exigir responsabilidade dos líderes da indústria", defendeu esta semana o “designer thinker” Tristan Harris, ex-engenheiro da Google e promotor da nova campanha, lançada em Washington.

"É hora de o setor de tecnologia ser regulado para que haja um equilíbrio entre as vantagens e desvantagens do uso de dispositivos digitais", disse James Steyer, diretor e fundador da Common Sense Media, uma ONG que promove a segurança nas redes. Outro depoimento comparou a indústria tecnológica com a do tabaco ou álcool: "É um produto viciante e, portanto, deve ser regulado como tal".

 Mas por que de repente a tecnologia, que em tese veio para facilitar a vida dos cidadãos, pode ser uma ameaça, principalmente às crianças? Como todo o produto inovador, o que está acontecendo é o mau uso da tecnologia com a complacência dos responsáveis, sejam os pais ou professores. E os dados apresentados não deixam dúvida. Segundo Nicolás Alonso, “a tecnologia tem efeitos negativos nos níveis individual, social e político. 27% dos adultos se consideram viciados; 48% vêem a necessidade de responder imediatamente a mensagens ou alertas de suas redes sociais. As cifras entre os adolescentes são de 50% e 72%, respectivamente. Além disso, cerca de 75% dos pais dizem que eles discutem com seus filhos sobre o uso de telefones celulares.”

Além desses índices extremamente preocupantes, que de certa forma desviam os usuários de outras atividades que exigem concentração, a dependência da tecnologia traz outros efeitos emocionais e culturais. "Vivemos em um ambiente projetado pela Samsung e pela Apple. É um drama existencial. A tecnologia nos separa dos nossos pais, dos nossos amigos e até mesmo tira o nosso sono. É uma indústria baseada na extração", argumenta Tristan Harris. “O uso permanente de computadores, tablets e telefones também leva a uma perda gradual de habilidades, como planejamento e organização ou tomada de decisão, e aumenta a impulsividade e o nervosismo.”

         É um modelo de negócios baseado em bajular as crianças desde pequenas. As crianças não podem fazer parte do sistema.   Devemos protegê-las.

No plano político, as recentes eleições (americanas) são um bom exemplo para Steyer e Harris. Após a interferência russa demonstrada através do Facebook e Twitter, os números confirmam a susceptibilidade de cair em mentiras. 67% dos americanos recebem notícias através de redes sociais. E apenas 44% das crianças entre 10 e 18 anos sabem como diferenciar uma notícia real de uma falsa. Esse o dado mais assustador. Até certo ponto, nas redes sociais chegamos ao paradoxo de não saber o que é verdadeiro ou falso e, na pressa de compartilhar, estamos agindo como multiplicadores de fake news”.

“Os mais jovens são os mais vulneráveis à capacidade de bloqueio com os quais as grandes empresas projetam seus produtos. "A ferramenta do YouTube que liga um vídeo após o outro, ou o mecanismo "like" no Instagram, onde você só precisa tocar a tela duas vezes, são mecanismos para capturar o consumidor", explicou Tristan Harris. O especialista contrastou esse tipo de "aplicativos" com outros, como o Google Maps, que oferecem uma ferramenta útil para o consumidor durante um determinado período de tempo sem gerar dependência.

 A solução para reverter o dano social, de acordo com este pequeno grupo, é a regulamentação das grandes plataformas de tecnologia. "O governo deve ampliar e aumentar sua presença no campo da tecnologia para resolver esta crise. As empresas devem fazer mais para criar melhores projetos e aplicativos, que incentivem o bom uso, mas não induzam ao envolvimento", segundo o senador democrata Mark Warner.

"É um modelo de negócios baseado em fisgar ou seduzir as crianças desde uma idade muito precoce. O pior é que os pais, cada vez mais ocupados, ou também dependentes da tecnologia, acabam sendo cúmplices dessa dependência. “As crianças não podem fazer parte do sistema. Devemos protegê-las", alerta Ed Markey, outro senador progressista.

Depois de mais de uma década de popularidade, o Facebook e outras plataformas poderosas da Internet estão enfrentando esse debate que começa a ter imensa repercussão nos EUA. "É um problema moral. Devemos reinventar o sistema para que seja positivo não para os bolsos dos gerentes dessas empresas, mas para toda a sociedade ", disse Tristan Harris, que, mais do que ninguém, conhece e sabe o que está falando.

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