news_of_the_world_adeusO fim de um jornal é sempre um dia triste. Neste domingo, não importam as razões que levaram à decisão, fecha-se um capítulo de 168 anos, com a última edição do jornal inglês News of the World. Mais lamentável ainda são os motivos que levaram ao fechamento. Não foram problemas econômicos, como tem acontecido com jornais nos EUA e em tantos outros lugares pelo mundo, sob pressão da internet. Foram problemas éticos, exatamente um dos valores considerados sagrados para a imprensa. 

O dramático fim do tabloide dominical será marcado, neste domingo, por uma edição de 5 milhões de exemplares, com 48 páginas, e o lucro da publicidade será destinado a obras de caridade, anunciou o editor.

"O maior jornal do mundo 1832-2011", registrado na capa da última edição, se desculpa num editorial, dizendo aos leitores: “muito simples, nós perdemos nosso caminho”.

E continua: "Não há justificativa para este delito terrível. Não h[a qualquer justificativa para a dor causada às vítimas, nem para a mancha profunda que deixou em uma grande história."

O editor concluiu, dizendo: “Eu quero fazer uma homenagem a esta belíssima equipe de pessoas, que depois de um dia realmente de dificuldades, produziu brilhantemente um jornal profissional”. Como eu disse ao meu staff, hoje pela manhã, este não é onde nós queríamos estar ou onde nós merecíamos estar”. 

Rupert Murdoch voou para Londres neste sábado para administrar a grave crise que atinge seu grupo,  após o escândalo das gravações ilegais. O executivo da News chega sob intensa investigação e pressão da polícia, políticos, órgãos reguladores e o público, segundo o Financial Times.

The Church’s Ethical Investment Advisory Group, grupo de investidores que detém significativa parcela de ações da News, disse que o fechamento do jornal “pode não ser uma resposta suficiente às revelações de práticas ilegais do jornal, nem remedeia a falha dos executivos da News International e da News Corporation de conduzir, no passado,  uma investigação própria e de tomar decisivas ações para remediar o problema, tão logo a polícia descobriu gravações ilegais em 2006”.

"Não podemos imaginar circunstâncias em que estaríamos satisfeitos com qualquer resultado que não seja responsabilizar os executivos sêniors da News Corp pelas grosseiras falhas de administração da News of the World", disseram os conselheiros da The Church. 

A revista The Economist, na edição desta semana, disse que “é necessária imediatamente uma completa investigação judicial para limpar o jornalismo britânico”. Chamou o jornal de uma “caixa de esgoto”.

“As denúncias de que o News of the World, o maior jornal dominical britânico, violou a caixa de mensagens do celular de uma adolescente assassinada é uma mancha para o jornal e para a News International, sua proprietária. Mas o mau cheiro chega muito mais longe. Na medida em que novas denúncias de violações vêm à tona, o próprio jornalismo cheira mal. Bem como os políticos britânicos e especialmente a polícia”.

O semanário econômico alerta que uma das consequências do escândalo poderá ser o reforço da regulação da imprensa a Inglaterra, o que “causaria mais danos do que benefícios, já que a Grã-Bretanha tem uma das legislações mais duras do mundo sobre calúnia e difamação”.

E foi mais ácida, ainda, a The Economist: “Se for provado que os dirigentes da News Corporation acobertaram violações da lei, eles não deveriam estar no comando de jornais ou emissoras de televisão. Deveriam estar na cadeia”.

News_of_the_world_novoMurdoch fecha tablóide após escândalo dos grampos

O News of the World, tradicional jornal do Reino Unido, com 168 anos, circula pela última vez neste domingo. A News International, grupo do todo poderoso magnata da mídia Rupert Murdoch, não aguentou a pressão e a dimensão do escândalo dos grampos ilegais. Mergulhado na crise, o magnata liquidou com o jornal centenário. O tablóide, celebrizado por furos de escândalos de celebridades e o mais vendido no país, não resistiu ao próprio veneno. Criou-se na redação uma cultura de grampos ilegais para conseguir notícias, desde 2006.

As acusações de grampos ilegais levaram à perda de vários anunciantes do jornal britânico e ao rompimento de relações com outras organizações. O filho do magnata anunciou hoje (7), em um comunicado, que o tablóide vai fechar. O jornal vendia 2,8 milhões de exemplares no domingo.

Segundo a BBC, o atual escândalo ganhou grande repercussão na Grã-Bretanha, após a revelação de que o jornal grampeou o celular da Milly Dowler, uma garota de 13 anos que desapareceu em 2002 e foi encontrada morta depois. Durante as escutas, mensagens deixadas na caixa de recados do telefone foram apagadas, prejudicando as investigações. Ou seja, não havia limites – se é que nesse caso poderia existir – para editores e jornalistas invadirem a privacidade dos cidadãos ingleses, não importa de que classe social eles fossem. A decisão de fechar o tabloide foi rápida e decisiva, porque nem os familiares de vítimas dos atentados de julho de 2005, em Londres, foram poupados da ilegalidade.

“- Consultei colegas mais experientes e decidi que devemos tomar uma ação mais decisiva em respeito ao jornal. A edição deste domingo será a última do News of the World - disse James Murdoch, vice-chefe de operações da News Corp, conglomerado de mídia que controlava o "News of the World".

James Murdoch repudiou a prática ilegal do jornal e afirmou que se as acusações forem verdadeiras, o uso de grampos ilegais "foi desumano e não há lugar na nossa empresa (para isso)". "Malfeitores transformaram uma boa redação numa ruim. E isso não é compreensível ou adequado", afirmou ele no comunicado. Ele informou que existem pessoas presas por envolvimento nos grampos, mas que a direção do jornal falhou em não ter aprofundado a investigação.

"O News of The World tem a missão de fiscalizar e responsabilizar (as pessoas). Mas não fez isso consigo mesmo”, afirmou James Murdoch.

O tabloide, de propriedade da mesma empresa que edita os diários The Sun e The Times, controlada pelo magnata australiano Rupert Murdoch, também é acusado, desde 2006, de ter pago detetives para interceptar mensagens telefônicas de celebridades, políticos e esportistas. Há informações de que chegaram a pagar 100 mil libras (R$ 260 mil) a detetives e policiais como propina.

Crise liquida com jornal

Segundo a BBC, as revelações feitas pelo jornal The Daily Telegraph de que a polícia encontrou celulares de familiares dos soldados mortos nos arquivos do detetive particular do News of the World, Glenn Mulcaire, provocou revolta nos parentes. O coronel Richard Kemp, ex-comandante das forças britânicas no Afeganistão, disse que as acusações o deixaram "absolutamente sem palavras e com raiva". 

Ontem, diante dessas revelações, aliadas às gravações no celular da adolescente desaparecida em 2002, o primeiro-ministro David Cameron pediu uma investigação rigorosa do escândalo. A oposição criticou o primeiro-ministro, pelas proximidades dele com o jornal, o que teria retardado uma apuração mais rigorosa. Não esquecer que, além da News Corporation ter apoiado a eleição do Partido Conservador no Reino Unido, o editor do jornal, quando o escândalo dos grampos estourou, Andy Coulson, se tornou, logo após a eleição, diretor de comunicação do primeiro-ministro. Coulson pediu demissão quando o escândalo do jornal começou a tomar proporções incontroláveis.

Em 2009, no artigo Tablóide inglês grampeia fontes e estimula discussão sobre ética, publicado neste site, informamos que os jornais concorrentes do grupo de Murdoch já vinham batendo duro no jornal. E não era para menos. Começaram a aparecer processos de atores, cantores e políticos, quando descobriram terem sido grampeados. Criou-se na publicação uma cultura de grampear celebridades, com a maior desfaçatez, e nem o Palácio de Buckingham foi poupado. Revelações sobre doença de membros da corte britânica vazaram, informações essas obtidas também por grampos ilegais, o que gerou na época o afastamento do jornalista que cobria a família real.

Nesta quinta-feira, a Legião Real Britânica informou que deixará de ter o tabloide como parceiro em suas campanhas, até que sejam esclarecidas todas as denúncias de que famílias de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão também teriam sido alvo de grampos, realizados pelo jornal.

Calcula-se que 4 mil pessoas serão ouvidas pela Scotland Yard, no processo, neste que é um dos maiores escândalos da história da mídia britânica. Segundo fontes do jornal "Times", cinco jornalistas e executivos do tabloide, suspeitos de envolvimento no caso, serão presos nos próximos dias. Nesta tarde, circularam informações em Londres de que o ex-editor e ex-diretor de comunicação de Cameron, Andy Coulson, será preso amanhã, dia 8.

O episódio demonstra que ninguém, incluindo a mídia,  está imune a crises de ética. Nesse caso, a crise é tão grave que não restou opção ao grupo News Corporation a não ser fechar de vez o jornal, procurando cortar o mal pela raiz. Caso contrário, todo o grupo seria contaminado pelo processo que a Justiça está movendo contra a publicação e dezenas de envolvidos. E certamente levará muito tempo para se encerrar.

James_MurdochAbaixo o Comunicado, divulgado hoje em Londres, pelo diretor do grupo James Murdoch

I have important things to say about the News of the World and the steps we are taking to address the very serious problems that have occurred.

It is only right that you as colleagues at News International are first to hear what I have to say and that you hear it directly from me.

You do not need to be told that the News of the World is 168 years old. That it is read by more people than any other English language newspaper. That it has enjoyed support from Britain's largest advertisers. And that it has a proud history of fighting crime, exposing wrong-doing and regularly setting the news agenda for the nation.

When I tell people why I am proud to be part of News Corporation, I say that our commitment to journalism and a free press is one of the things that sets us apart. Your work is a credit to this.

The good things the News of the World does, however, have been sullied by behaviour that was wrong. Indeed, if recent allegations are true, it was inhuman and has no place in our Company.

The News of the World is in the business of holding others to account. But it failed when it came to itself.

In 2006, the police focused their investigations on two men. Both went to jail. But the News of the World and News International failed to get to the bottom of repeated wrongdoing that occurred without conscience or legitimate purpose. Wrongdoers turned a good newsroom bad and this was not fully understood or adequately pursued.

As a result, the News of the World and News International wrongly maintained that these issues were confined to one reporter. We now have voluntarily given evidence to the police that I believe will prove that this was untrue and those who acted wrongly will have to face the consequences.

This was not the only fault.

The paper made statements to Parliament without being in the full possession of the facts. This was wrong.

The Company paid out-of-court settlements approved by me. I now know that I did not have a complete picture when I did so. This was wrong and is a matter of serious regret.

Currently, there are two major and ongoing police investigations. We are cooperating fully and actively with both. You know that it was News International who voluntarily brought evidence that led to opening Operation Weeting and Operation Elveden. This full cooperation will continue until the Police's work is done.

We have also admitted liability in civil cases. Already, we have settled a number of prominent cases and set up a Compensation Scheme, with cases to be adjudicated by former High Court judge Sir Charles Gray. Apologising and making amends is the right thing to do.

Inside the Company, we set up a management and standards committee that is working on these issues and that has hired Olswang to examine past failings and recommend systems and practices that over time should become standards for the industry. We have committed to publishing Olswang's terms of reference and eventual recommendations in a way that is open and transparent.

We have welcomed broad public inquiries into press standards and police practices and will cooperate with them fully.

So, just as I acknowledge we have made mistakes, I hope you and everyone inside and outside the Company will acknowledge that we are doing our utmost to fix them, atone for them, and make sure they never happen again.

Having consulted senior colleagues, I have decided that we must take further decisive action with respect to the paper.

This Sunday will be the last issue of the News of the World.

Colin Myler will edit the final edition of the paper.

In addition, I have decided that all of the News of the World's revenue this weekend will go to good causes.

While we may never be able to make up for distress that has been caused, the right thing to do is for every penny of the circulation revenue we receive this weekend to go to organisations - many of whom are long-term friends and partners - that improve life in Britain and are devoted to treating others with dignity.

We will run no commercial advertisements this weekend. Any advertising space in this last edition will be donated to causes and charities that wish to expose their good works to our millions of readers.

These are strong measures. They are made humbly and out of respect. I am convinced they are the right thing to do.

Many of you, if not the vast majority of you, are either new to the Company or have had no connection to the News of the World during the years when egregious behaviour occurred.

I can understand how unfair these decisions may feel. Particularly, for colleagues who will leave the Company. Of course, we will communicate next steps in detail and begin appropriate consultations.

You may see these changes as a price loyal staff at the News of the World are paying for the transgressions of others. So please hear me when I say that your good work is a credit to journalism. I do not want the legitimacy of what you do to be compromised by acts of others. I want all journalism at News International to be beyond reproach. I insist that this organisation lives up to the standard of behaviour we expect of others.

And, finally, I want you all to know that it is critical that the integrity of every journalist who has played fairly is restored.

Thank you.

Foto: Chris Ratcliffe/Bloomberg News

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