CabralA prisão do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, se surpreendeu alguém, foi apenas os que não acompanhavam a carreira, os exibicionismos e o marketing pessoal desse político gestado e incensado na bolha populista de Lula. Ele conseguiu enganar os cariocas até 2013, quando caiu a ficha e sequer conseguia sair à rua.

Quem assistiu ontem aos telejornais, com imagens de Cabral, ainda novo, como deputado e depois como senador, pregando a moralidade na política e na gestão do Rio, deve ter pensado: o que aconteceu para essa metamorfose cabralina? A resposta é simples. O poder inebria, seduz, corrompe aqueles que não têm firmeza de caráter; que se “lambuzam” quando têm a chave do cofre e o cargos para manipular orçamentos e pessoas. Aqueles que não se contentam em viver como 99,9% das pessoas deste país; com um salário apertado; pagando as contas, os impostos e construindo aos poucos um pequeno patrimônio para tentar sobreviver e garantir o futuro.

Sérgio Cabral é filho de Sérgio Cabral Santos, jornalista, escritor, compositor e pesquisador, mais conhecido pela crítica musical. Órfão de pai, Sérgio Santos trabalhou nos principais jornais do Rio e estudou em escola pública, “graças a Getúlio Vargas”, como ele mesmo reconhece. A caravela de Cabral, filho, foi lançada ao mar, portanto, com uma excelente base familiar de que o pai é o exemplo.

Mas no oceano do poder ela se perdeu. E não foi por causa das “calmarias”. Mas pela vaidade, a sedução do dinheiro e da permissividade de usar os cargos políticos e a influência para realizar sonhos privados. Pela ostentação. Típico de quem não sabe lidar com o poder e acaba se locupletando em benefício pessoal, com a conivência dos áulicos que o rodeiam. Para sobreviver nesse mundo de corrupção é preciso envolver a família e os assessores mais próximos, como mostrou a Polícia Federal, e manter sob controle uma verdadeira quadrilha especializada em criar estratégias para arrombar os cofres públicos. Uma autêntica “cosa mostra”, mantida por bilionários contratos com empreiteiras e outras empresas que irrigavam as contas dos acusados e do partido deles.

Cabral é um filho dileto, embora tardio, do grupo que subiu ao poder em 2003 e que tem quase todos os tesoureiros e principais estrategistas indiciados ou presos por corrupção. Ele aproveitou o vácuo populista de Lula, após o primeiro governo, em 2006, para subir e criar factoides como UPPs, teleféricos, museus, obras faraônicas e eventos como Pan-Americano, Copa do Mundo, Olimpíadas, mancomunado com grandes empreiteiras e empresários corruptos, como se o Brasil tivesse virado potência e ele, como afilhado dileto do “pai dos pobres do século 21”, também merecesse o seu quinhão na repartição do butim representado pelo canteiro de obras em que se transformou o Rio. A caravela de Cabral, portanto, lançada com o marketing da redenção do Rio de Janeiro, acabou virando um “navio pirata” que sugou o estado e a cidade, levando-os à beira da falência.

Sérgio Cabral e sua trupe conseguiram enganar só aqueles que se deslumbram muito facilmente com populistas de araque, seduzidos por grandes obras, VLT, museus de hoje e de amanhã, viadutos. Que pagam festas pessoais; viagens de helicóptero para a praia; e restaurantes de luxo no exterior. Ele é uma figura patética do novo político que promete o Paraíso, com projetos voltados sempre para a promoção pessoal; e deixa como legado um inferno, ou seja, o estado literalmente quebrado.

Causa arrepios só de pensar que esse cidadão inescrupuloso em algum momento sonhou e até foi cogitado pelo seu partido para ser vice-presidente na chapa de Dilma, no mandato que agora ela perdeu. O Brasil poderia hoje estar na mão de um Trump tupiniquim. Em pouco tempo, teríamos afundado de vez.

Perdulário e exibido, financiava festas pessoais, jóias e mordomias no Brasil e no exterior, com dinheiro público, enquanto a saúde, a segurança e a educação do Rio de Janeiro eram sucateadas. Ele deveria ser julgado em praça pública, diante de todos os habitantes que ele prejudicou e continua a prejudicar. Seria o mínimo que a sociedade fluminense mereceria para dar exemplo e banir da vida pública outros sérgios cabrais que possam estar sendo gestados à sombra do poder público, enganando, como esse populista de araque enganou. A crise do Rio de Janeiro não é só financeira. É uma crise de ética, de costumes, de reputação.

Sérgio Cabral é a escória da política. Ele não merece sequer o benefício da dúvida. A peça jurídica que sustentou sua prisão chega a ser até branda pelo mal que ele fez ao Brasil e ao Rio de Janeiro. Mas diz bem do que ele representou e representa para que o estado tenha chegado hoje à beira do caos.

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