prefeito de torontoAutoridades e pessoas públicas não aprendem. Mentir em acusações graves pode tornar a crise muito pior. O prefeito de Toronto, Rob Ford, em maio deste ano foi questionado sobre a existência de um vídeo, em que ele aparecia fumando crack. Ele rapidamente improvisou uma confusa entrevista coletiva e negou com veemência não só o ato, mas duvidou da existência do vídeo.

O vídeo foi oferecido por uma quadrilha a dois jornalistas do site de notícias Gawker e a um jornal da cidade. Eles não aceitaram a extorsão e não quiseram pagar a quantia de 700 mil dólares, cobrada pela quadrilha para liberar o vídeo. Mas os jornalistas assistiram ao vídeo. E, na época, questionaram o prefeito, que se atrapalhou todo para explicar, num arremedo de entrevista coletiva.

Depois do fiasco da primeira tentativa de coletiva, quando ele trazia uma nota oficial, negando as acusações de uso de crack, e não conseguiu sequer ler a nota, convocou a imprensa no dia seguinte, e de forma mais organizada afirmou com toda a convição: “Eu não fumei crack” Só faltou jurar. A imprensa contou a história da existência do vídeo, mas ninguém foi a fundo na história, que permaneceu na seção de rumores e fofocas por quase seis meses.

Cinco meses depois das negativas, na última terça-feira (5), o prefeito de Toronto convocou a imprensa para se retratar. Mas não foi porque ele havia se arrependido da mentira ou teve um ataque de sinceridade. A história é outra.

Segundo reportagem da CNN, “A pressão sobre o prefeito aumentou na semana passada, quando o chefe de polícia anunciou que investigadores de Toronto haviam recuperado imagens de um vídeo onde, supostamente, o prefeito aparece fumando um cachimbo de crack. Eles prenderam um ex-drogado, que teria relações com o motorista do prefeito, e o prenderam sob a acusação de extorsão.

A folclórica figura de Ford, flagrado muitas vezes em situações ridículas, mas que ele aproveita para faturar politicamente, chegou agora no limite. Apesar de quase ter jurado, em maio, jamais ter consumido e que não tinha sido acusado de um crime, admitiu agora publicamente, em outra tumultuada entrevista, o que a mídia estava prestes a comprovar.

Após meses de esquivando das alegações, Ford disse a repórteres que ele fumou crack há um ano, “provavelmente bêbado”. - "Sim, eu fumei crack" - disse, na Prefeitura. - "Mas eu sou um viciado? Não. Eu experimentei? Ahan, provavelmente durante uma das minhas bebedeiras, há cerca de um ano”.

Ford disse, com semblante circunspecto na entrevista, que ele sabia que teria vergonha de todos na cidade: "Eu serei sempre triste".  Prometeu ao povo da maior cidade do Canadá que seus erros "nunca, nunca, nunca voltarão a acontecer". Alguém acredita?

Apesar dos apelos para ele se afastar do cargo, depois dessa escancarada confissão e, principalmente, por causa da mentira, o prefeito de Toronto disse que não vai deixar o cargo e concorrerá à reeleição no próximo ano.

"Fui eleito para fazer um trabalho e isso é exatamente o que eu vou continuar fazendo", disse  durante uma coletiva de imprensa na terça-feira em seu escritório. "Vivemos em uma democracia e em 27 de outubro de 2014, eu quero que o povo desta grande cidade decida se quer Rob Ford para ser o seu prefeito."

Segundo a CNN, a pressão sobre o prefeito aumentou na semana passada, quando o chefe de polícia anunciou que  investigadores de Toronto recuperaram um computador, com o vídeo com imagens do prefeito que, supostamente, mostra cenas onde ele fuma um cachimbo de crack, junto com outros homens. A apreensão foi feita numa operação de combate a drogas. A revelação apenas comprova o que jornalistas já haviam adiantado em maio, quando teriam negociado a compra do vídeo, nas mãos de uma quadrilha.

A prefeitura de Toronto diz que o prefeito  não vai renunciar, apesar da existência do condenável vídeo. Mas a pressão sobre ele já começou. "Eu sinto que um peso foi tirado dos meus ombros",  disse o prefeito durante a coletiva de imprensa. “Cometi erros no passado, e tudo o que posso fazer é pedir desculpas. Mas é o que é”, disse Ford, resignado

Ele admite que vai precisar recuperar a confiança do povo de Toronto. Ford disse em um programa de rádio, no domingo, que ele estava arrependido por "um monte de coisas estúpidas", inclusive pelo fato de aparecer bêbado em público.

Os cara de pau

prefeito toronto stuporstarAutoridades públicas fazendo bobagens não é novidade. Ninguém está questionando a atuação dele como prefeito, mas não há dúvidas de que o comportamento da truculenta e folclórica figura do prefeito deixa muito a desejar para uma autoridade pública.

O fato virou piada de programas humorísticos e todos os comediantes aparecem em público simulando consumir crack. O jornal Toronto Sun, um dia após a admissão da culpa pelo prefeito, estampou a manchete na primeira página "Rob Ford: Global Stuporstar." Não podia ser melhor.

Quando autoridades cometem deslizes, como aconteceu agora, muitas vezes o eleitor consegue separar o escorregão, da atuação como administrador ou da popularidade obtida. Isso aconteceu com Bill Clinton, em 1996, após o escândalo com a estagiária Monica Lewinsky, devido ao desempenho da economia americana; e no Brasil, com o presidente Lula, quando das denúncias do mensalão, que ele nega de pés juntos que não sabia, ameaçaram a reeleição.

Esse fenômeno, popularmente chamado de "efeito teflon", é classificado em algumas análises de administração como “descolamento moral”. O capital de popularidade e prestígio do acusado são tão fortes que levaria o eleitor menos esclarecido a “perdoá-lo” pelo deslize, livrando-se do escrutínio público racional. Assim também ocorreu com Tiger Woods, o desportista americano que teve uma crise pessoal, sofreu sério desgaste, mas pela reputação conquistada acabou tendo um desgaste menor.

No caso de Ford, além do fato de ter-se envolvido num deslize pouco aceito pela sociedade puritana da América e do mau exemplo dado aos jovens, o mais grave foi a forma como ele sustentou a mentira por quase seis meses. Será que os eleitores de Toronto irão querer conviver com um prefeito tão trapalhão e mentiroso, por mais quatro anos?

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