Toyota_CEO_entrevistaO ano de 2010 se despede com más lembranças para grandes corporações e alguns países. Além de ameaçar as economias da Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal, grandes multinacionais se viram envolvidas em crises graves, que arranharam a reputação dessas empresas. Sem falar na crise da Igreja Católica, que ocupou as manchetes durante três meses do ano.

O ano começou com uma grande crise em andamento, envolvendo a poderosa e tradicional Toyota. É bom lembrar que o drama da corporação japonesa começou em 2009, quando ela fez pouco caso de acidentes que aconteciam nos Estados Unidos com alguns modelos da marca. Os acidentes, que causaram pelo menos 20 mortes, foram atribuídos a defeitos no pedal de aceleração, que prendia, por um defeito na colocação dos tapetes.

A Toyota não levou as queixas a sério e foi interpelada pelas autoridades e órgãos de fiscalização dos Estados Unidos. Resultado: teve que fazer recall de cerca de 5 milhões de veículos, sem falar no desgaste para a imagem da empresa a exposição negativa de seus executivos, sendo convocados para dar explicações ao Congresso americano. O presidente da empresa, neto dos fundadores, teve que pedir desculpas públicas pela forma atrapalhada de conduzir essa crise. A crise da Toyota teve desdobramentos em outros países, como Inglaterra, Canadá, Alemanha e até no Brasil.

desgaste da Toyota foi atribuído a uma arrogância muito própria de empresas que atingem um patamar de destaque no mundo empresarial e deixam de dar importância a problemas que considera sem importância. Um fato localizado nos EUA acabou gerando no mundo todo um grande desgaste para a marca, acentuado pela inabilidade com que seus dirigentes conduziram a crise, desde o início. Atribui-se também esse descaso ao fato de a empresa ficar obcecada com a perspectiva de assumir a liderança mundial na venda de carros, o que ocorreu no fim de 2009, passando pela primeira vez na frente da GM. De qualquer forma, embora hoje a crise tenha saído da pauta, a Toyota teve as vendas afetadas, principalmente nos EUA, e sofreu um pesado desgaste para sua marca e credibilidade.

Igreja vulnerável

Nem bem a Toyota estava saindo das manchetes, eclodiu outra grande crise em 2009, desta vez envolvendo a Igreja Católica.Instituição por vezes considerada intocada, a Igreja viu expor suas mazelas publicamente, numa das maiores crises dos últimos séculos. Acusações de pedofilia começaram a pipocar em vários países. O escândalo mais badalado ocorreu na Irlanda. No fim do ano passado, o Ministério da Justiça da Irlanda divulgou relatório sobre abusos cometidos por padres contra crianças entre 1975 e 2004. Em nove anos de investigação, existem evidências de que milhares de crianças e jovens sofreram abusos naquele país. As ações arrolam quatro bispos.

De início acuada e assumindo o papel de vítima, a Igreja não conseguiu administrar bem essa crise. As denúncias se agravaram quando se soube que por muitos anos a própria Igreja ignorou as queixas das vítimas e contribuiu para a impunidade dos acusados, muitos deles apenas transferidos de local, sem qualquer punição ou registro policial. O relatório irlandês critica a Igreja Católica por ter priorizado a preservação da própria imagem, a fim de evitar um escândalo, e não a proteção das vítimas e a punição dos culpados.

O próprio Papa Bento XVI foi acusado de ter feito pouco caso de uma denúncia de abusos, envolvendo um padre, registrada na Alemanha, quando era Cardeal, fato negado pelo Vaticano. Mesmo assim, a Igreja foi lenta para reagir e custou a admitir a culpa. No segundo semestre, o Papa veio a público se penitenciar e admitir que a igreja foi muito complacente com os acusados e que essa mancha será carregada para sempre. O pior é que as denúncias não são novas. Desde 2002, a Igreja Católica enfrenta ações na Justiça por conta de vítimas de abusos na diocese de Boston, onde a instituição teve que assumir pagamentos de US$ 1,2 bilhão.

Essas denúncias testaram a capacidade da Igreja em reagir a crises. E, sob o aspecto da gestão de crise, a Igreja foi lenta e não assumiu de imediato a culpa pelas transgressões. O resultado foi um desgaste muito grande da imagem, principalmente nos países do norte da Europa e nos Estados Unidos, todos de tradição protestante.

O maior vazamento da história

A crise da Igreja ainda estava no auge e já estourava outro grave problema nas manchetes internacionais. Desta feita comprometendo a indústria do petróleo. No dia 20 de abril explodiu no Golfo do México uma plataforma de petróleo da Transocean Deepwater Horizon, em campos explorados pela gigante inglesa British Petroleum-BP. No acidente, a 50 km de distância da costa da Louisiana morreram 11 operários.

A BP cometeu erros também primários na condução dessa crise, a ponto de até agora não ter se recuperado da pancada. O vazamento, minimizando pelos dirigentes da empresa nos dias seguintes, acabou sendo uma tremenda dor-de-cabeça para a companhia e para o governo Obama, que se sentiu co-responsável pela tragédia, principalmente pelas facilidades com que licenças ambientais foram concedidas a empresas de petróleo. Isso levou Obama a proibir, no momento, novas prospecções no Golfo do México.

Até agosto, quando o vazamento da BP foi contido, calcula-se que tenham vazado 750 milhões de litros de petróleo. O que significa isso? Para ponderar a gravidade dessa tragédia, basta lembrar que o vazamento de petróleo do navio Exxon Valdez, na costa do Alasca, em 1989, foi de 40 milhões de litros, ou seja dez vezes menos do que o acidente atual. O estrago feito pelo vazamento no ecossistema da Flórida, Louisiana e outros estados próximos, além das implicações para pescadores, pesquisadores e para a vida marinha em geral são até agora incalculáveis. Esse vazamento é considerado o maior da história nos EUA.

Entre os erros mais flagrantes da BP, além de minimizar a extensão do acidente, nos primeiros dias, foi a postura do CEO Tony Hayward. Já na primeira semana do vazamento, quando conduzia a administração do problema, o CEO queixava-se de que estava cansado e queria voltar para casa. Além de ausente em muito momentos, as declarações do CEO geralmente pioravam a situação da Cia.

A BP, além do passivo na reputação, numa empresa que usava o slogan “Muito além do petróleo”, vai pagar caro pelo erro. O governo americano a obrigou a formar um fundo de US$ 20 bilhões só para pagar indenizações. Além disso, gastou outros US$ 5 bilhões em operações de limpeza do mar e das praias atingidas e em indenizações iniciais para pescadores da Louisiana, impedidos durante vários meses de pescar. A empresa também não pôde pagar os dividendos de US$ 17 bilhões, no primeiro semestre, impedida pelo governo americano. Ou seja, os acionistas também ficaram no prejuízo. Para completar, nesta semana o Departamento de Justiça dos EUA acionou a empresa por conta de passivos que podem ir de US$ 4 a 21 bilhões.

Crises de Deus

Uma das maiores tragédias do ano ocorreu por aqueles fenômenos que os especialistas em gestão de crises chamam "atos de Deus". Um terremoto sacudiu o Haiti no início do ano, matando 75 mil pessoas, entre elas 21 brasileiros. Foi a maior crise internacional do ano, tendo mobilizado centenas de países, que enviaram homens e equipamentos para tentar ajudar o país mais pobre da América. O eufemismo "crises de Deus" é para designar aqueles fenômenos da natureza sobre os quais o homem não teria controle. Entretanto, no caso do terremoto do Haiti, um lugar que não era considerado de risco para esse tipo de tragédia natural, a construção precária das residências certamente contribuiu para aumentar a gravidade do acontecimento. É portanto um tipo de crise natural já possível de ser minimizado, como acontece hoje no Japão, um território considerado de alto risco para terremotos.  

Da crise ao sucesso

Para encerrar o ano, a tragédia com 33 mineiros chilenos, soterrados a 700 metros de profundidade, após desabamento em uma das galerias da mina San José, em Caiapó, no norte do Chile. O acidente começou com uma crise grave, expondo a falta de segurança das minas do Chile, que deveriam ser fiscalizadas pelo governo. Uma tragédia que se somaria a outras tantas a que nos acostumamos a assistir, acabou em festa.

O governo chileno administrou muito bem a tragédia, procurando ajuda e agindo rápido, sempre com a maior transparência. Depois de prometer resgatar os trabalhadores em até quatro meses, o governo conseguiu, com o apoio da Nasa e de outros países, trazer os 33 mineiros à luz do sol, em dois meses. A operação de resgate rigorosamente controlada, simulada e estudada, foi transmitida ao vivo para todo o mundo. Calcula-se que 1 bilhão de pessoas assistiram ao resgate dos mineiros. Ou seja, virou um espetáculo midiático.

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Foto: Presidente da Toyota em entrevista. 

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