Facebook boa imagem

O Facebook completou 20 anos em 4 de fevereiro, mas hoje é um ímã de controvérsia, dinheiro e crises, tanto quanto um adolescente impetuoso e que quebrava tudo. Em 31 de janeiro, Mark Zuckerberg, o fundador da rede social, foi criticado por senadores americanos sobre a disseminação de material prejudicial, principalmente a crianças e adolescentes. A cena bizarra em uma comissão do Senado americano viu Mark Zuckerberg se levantar, sob pressão, para se dirigir aos pais e a ativistas que protestavam com fotos dos filhos, contra o Facebook, e pedir desculpas pelo conteúdo tóxico da rede oferecido aos usuários da rede.

O Facebook foi fundado há 20 anos como um espaço básico de encontro para jovens e agora evoluiu para um rolo compressor endurecido pela batalha que, apesar da impressão de ser uma ameaça aos filhos adolescentes, para preocupação dos pais, continua a crescer, apesar da concorrência de outras redes e do desgaste no público jovem, que migrou para o WhatsApp e Instagram.

O Facebook, assim como o Google, tornou-se uma potência de publicidade online. Em 2023, os lucros da empresa Meta, que controla o Facebook, sediada no Vale do Silício, totalizaram US$ 39 bilhões. E o faturamento chegou a US$ 139 bilhões. Provavelmente, nenhum conglomerado de comunicação cresceu tanto, em tão curto período de tempo.

A propósito desses 20 anos do Facebook, (a controladora Meta tem valor de mercado de US$ 1.22 trilhão, só atrás da Microsoft como a empresa mais valiosa do mundo), a revista The Economist publicou um artigo fazendo uma espécie de inventário da rede, hoje quase uma unanimidade universal, que está sob pressão de governos e parlamentares, tanto nos Estados Unidos, quanto na Europa.

Segundo a revista britânica The Economist, “apesar de as redes sociais atraírem de forma confiável grande quantidade de atenção tanto dos viciados como dos críticos, elas passam por uma transformação profunda, mas pouco notada.”

“A estranha magia das redes sociais online era combinar interações pessoais com comunicação de massa. Agora esse amálgama está se dividindo em dois novamente. As atualizações de status de amigos deram lugar a vídeos de estranhos que lembram uma TV hiperativa. As postagens públicas estão migrando cada vez mais para grupos fechados, como o e-mail. O que Zuckerberg chama de “praça da cidade” digital está sendo reconstruída – e levantando problemas.”

Por que isso é importante? Segundo a publicação britânica, “porque as mídias sociais são a forma como as pessoas vivenciam a Internet. O próprio Facebook conta com mais de 3 bilhões de usuários. Os aplicativos sociais ocupam quase metade do tempo de tela do celular, o que, por sua vez, consome mais de um quarto das horas de vigília. Eles consomem 40% mais tempo do que em 2020, à medida que o mundo fica cada vez mais online, inclusive nos países mais pobres. “Além de divertidas, as redes sociais são o cadinho do debate online e uma catapulta para campanhas políticas”, diz a revista.

A crise do Facebook

Mas a crise do Facebook não surgiu agora, quando o escrutínio público sobre as Big Techs tomou uma dimensão global. “A característica marcante das novas mídias sociais é que elas não são mais muito sociais. Inspirados no TikTok, aplicativos como o Facebook oferecem cada vez mais uma dieta de clipes selecionados pela inteligência artificial de acordo com o comportamento de visualização do usuário, e não com suas conexões sociais. Enquanto isso, as pessoas estão postando menos. A percentagem de americanos que afirmam gostar de documentar a sua vida online caiu de 40% para 28% desde 2020. O debate está migrando para plataformas fechadas, como WhatsApp e Telegram.”

Há pelo menos seis anos a plataforma vem sendo confrontada com fatos negativos que arranharam a imagem, exigindo de Zuckerberg e diretores contínuas explicações. Não fosse a rede poderosa, sustentada por mais de 3 bilhões de usuários, provavelmente ela teria fraquejado. O Facebook confrontou denunciantes, tempestades de relações públicas e investigações do Congresso nos últimos anos. Sofreu denúncias de ex-funcionários expostas em documentários. Em 2017, enfrentou uma combinação dos três problemas ao mesmo tempo, naquela que foi a crise mais intensa e abrangente na curta história da empresa.

O escândalo da Cambridge Analytica

O escândalo da Cambridge Analytica ocorreu em 2018, quando foi revelado o uso de dados de usuários do Facebook sem autorização. A empresa foi banida do Facebook sob acusação de violar informações de 50 milhões de usuários da rede social nos Estados Unidos. Não houve invasão ou atuação de malwares. Os dados foram capturados a partir de um “inocente” aplicativo de teste psicológico.

A trama veio à tona depois de uma extensa investigação conjunta entre New York Times e The Observer (do The Guardian). De acordo com ambos os veículos, o assunto é delicado não só por envolver violação de dados de milhões de pessoas, mas também por ser um indício do quão valiosas as informações pessoais podem ser para diversos fins, inclusive políticos. O escândalo tomou uma grande dimensão, até porque a Cambridge Analytica havia trabalhado na campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Essa crise foi exposta da pior maneira, com depoimentos de ex-funcionários e o lançamento de documentário no streaming

Como disse o jornal britânico The Guardian, na época: “As revelações da Cambridge Analytica podem não ter mudado o Facebook, mas nos fizeram mudar. Nossos olhos agora estão abertos. A questão é o que faremos.”

Após acusações de que a Rússia utilizou a plataforma para tentar influenciar o resultado das eleições presidenciais de 2016, nos EUA, agravou-se o escândalo, que não passou sem deixar sequelas na rede global, principalmente porque seria um desdobramento dos erros cometidos pela Cambridge Analytica.

Em 2021, o Facebook foi pressionado por denunciantes que afirmavam que os executivos priorizavam os lucros antes da segurança e do bem-estar dos usuários. Apesar disso, o Facebook continuou a crescer. O crescimento do titã digital permitiu-lhe investir em avanços como inteligência artificial e realidade virtual.

Segundo artigo do jornalista e LinkedIn Top Voice Paulo Silvestre, em artigo publicado no Linkedin, ainda em 2021, o Facebook “passou por outro escândalo: o “Facebook Papers”, em que a ex-funcionária Frances Haugen expôs uma enxurrada de documentos que demonstravam que a empresa conscientemente não fazia o suficiente para proteger seus usuários, especialmente os mais jovens. A empresa continua sendo acusada disso.”

O Facebook mudou o nome de sua empresa controladora para “Meta” no final de 2021, citando a visão de Zuckerberg de mundos virtuais imersivos apelidados de “metaverso” como a próxima grande plataforma de computador. Foram decisões de governança que tentavam mitigar as crises sucessivas da rede. Mas, pelo visto nos últimos meses, o gigante em que se transformou em 20 anos a mais poderosa rede social do universo não consegue escapar das crises, vivendo sob intenso escrutínio dos governos, da mídia e da sociedade.

Como diz a colunista Rana Foroohar, do Financial Times, estamos na semana em que a maré das ‘big tech’ mudou. Reguladores pressionam por mudanças no seu modelo de negócios. O Twitter anunciou que vai policiar o conteúdo político de sua publicidade. O Facebook e o Google estão sob a mesma pressão. Só o tempo mostrará como a grande rede irá sobreviver a tantas intempéries.

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