Burguer King sanduicge fakeDuas grandes marcas internacionais. Dois gigantes do “fast-food”. Mas escorregaram, ao deixar o marketing atropelar os fatos. A área operacional deveria ter mais cuidado para não parecer que a estratégia foi concebida para enganar o consumidor. Molho de picanha, não é igual à picanha. Whopper Costela não é a mesma coisa que sanduíche com molho de costela. E os consumidores não são bobos. Perceberam que estavam sendo enganados. Eles estão cada vez mais atentos a essas ‘armadilhas’ publicitárias.

Quando o fornecedor, a marca – não importa a força que ela tenha - não entrega o que promete, entramos no campo de estudos da gestão de crises relacionado com a ética. A empresa promete uma coisa, mas engana o consumidor. Assim aconteceu com o sanduíche McPicanha da rede McDonald’s, que não continha a carne prometida.

Picanha com costela

Depois do McDonald's virar alvo de denúncias de consumidores, ao causar confusão com seu lanche de picanha sem picanha, foi a vez do Burger King se envolver em uma polêmica com um de seus hambúrgueres, o Whopper de Costela. Exatamente o que estava escrito no cardápio nas lanchonetes.

Nas redes sociais, uma página de indicações gastronômicas acusou a rede de fast-food de comercializar um hambúrguer sem costela, levando consumidores ao erro. A suposta propaganda enganosa acontece, pois o lanche de costela, na verdade, não é feito de costela suína. O Burger King afirma, em sua comunicação de marca, que o hambúrguer é feito à base de paleta de porco, "com aroma de costela".

Em tempos de transparência total, qualquer desrespeito ao consumidor cai como uma bomba nas redes sociais. Segundo a revista Exame, “o perfil do Instagram responsável pela denúncia afirmou que levaria o caso ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). "A partir de agora teremos de ficar muito atentos aos textos legais, porque cada vez mais estão tentando nos enganar. Mais uma vez você está sendo induzido ao erro", afirma a página no post.

Em nota, o Burger King afirmou que, desde o lançamento do produto, "sempre comunicou com clareza em todo o seu material de comunicação a composição do hambúrguer presente no sanduíche, produzido à base de carne de porco [paleta suína] e com aroma 100% natural de costela suína". Ora, o consumidor vai ao balcão de um fast-food e compra por impulso. Em geral, ele não conhece todo o conteúdo divulgado sobre o produto. Como acontece naqueles contratos com letrinhas que mal dá para se ler. O que importa na hora de comprar e faz o consumidor se decidir em segundos é o que está escrito no cardápio. Nota de rodapé? Quem lê?

A empresa ainda afirma que a transparência é um valor fundamental, e que "todas as informações sobre a composição do produto podem ser facilmente identificadas nas peças publicitárias, cardápios e demais materiais oficiais do Burger King". Não foi bem isso que o consumidor entendeu. No cardápio estava explícito “Whopper Costela” e sequer deixava claro que a suposta costela era de porco e não de gado. O pior viria depois, quando se descobriu que apenas o molho era da costelinha.

A exemplo do que aconteceu com o concorrente, a rede de fast food Burger King também entrou na mira do Procon do Distrito Federal por propaganda enganosa. A controvérsia do anunciado Whopper Costela decorre do fato de que o produto não contém carne de costela suína, como o nome indica. A informação de que o produto na verdade é aromatizado levou o Procon-DF a suspender a comercialização do sanduíche no Distrito Federal, até que a publicidade seja corrigida.

Picanha queimada

McPicanha McDonakdsO McDonald's anunciou, durante o mês de abril, o lançamento de uma nova linha de hambúrgueres em seu cardápio. A novidade, chamada de McPicanha, faz referência ao corte nobre da carne bovina, porém, não possui picanha em sua composição. No lugar, está um molho com "aroma de picanha".  

Impressiona a facilidade com que se coloca um produto no mercado, sem passar por um controle de qualidade das áreas operacional, jurídica e de marketing, em conjunto. Imagina-se que quando um produto diferente, como esse, vai ser lançado, há uma longa discussão que certamente envolve várias áreas da empresa. Ninguém levantou a possibilidade de que era um produto “fake”? Ou se sabia e, deliberadamente, o produto foi lançado com essa ‘pegadinha’? O que é muito grave. 

A confusão rendeu à rede de fast-food, em sua representação brasileira Arcos Dorados, uma notificação do Procon São Paulo. Em nota, o órgão de defesa do consumidor afirmou que a empresa deveria apresentar a tabela nutricional dos sanduíches, atestando a composição de cada um dos ingredientes (carne, molhos, aditivos, dentre outros), bem como "documentos que comprovem os testes de qualidade realizados, demonstrando o processo de manipulação, acondicionamento e tempo indicado para consumo".

Precisaram os consumidores gritarem nas redes sociais para a empresa entender que errou? Segundo a revista Exame, “depois de virar alvo de inúmeras reclamações de consumidores nas redes sociais, a rede de fast-food decidiu remover o hambúrguer do cardápio.” Promete que o produto voltará. Mas seria uma estratégia de marketing correta? A picanha já foi contaminada e pode virar piada nas redes sociais. O consumidor não perdoa quando a empresa aparenta ter dado uma de esperta.

Cancelaram a costela

Segundo a publicação Meio e mensagem, “Nessa segunda-feira, 2, após o assunto ter gerado debates nas redes sociais, o Procon-DF proibiu o Burger King de comercializar o sanduíche no Distrito Federal. Segundo o orgão, que diz que seus fiscais avaliaram o produto após as denúncias dos consumidores, apesar da adição de aromatizante, não há a presença da carne de costela no sanduíche. “A informação sobre a real composição do sanduíche não é disposta de modo claro e ostensivo na publicidade do produto, induzindo o consumidor a erro e se caracterizando publicidade enganosa”, declarou o Procon do Distrito Federal.”

Em nota publicada no site do orgão, o diretor geral do Procon-DF, Marcelo Nascimento, diz que, “mais uma vez, vemos uma grande rede cometendo infração grave na publicidade de seus produtos” e que “no caso do Burger King, a forma como o nome ‘costela’ é utilizado e como é feita a publicidade do sanduíche levam o consumidor a entender se tratar de sanduíche feito de costela, e não que contém apenas aroma de costela”.

Pela medida do Procon-DF, o Burger King não pode mais vender o sanduíche até que a correção total da publicidade seja feita, sob pena de sofrer sanções como multa, apreensão dos produtos ou interdição do funcionamento das lojas da rede. Esse sanduíche nasceu com polêmica, como mostra um comercial onde torcedores de outros times fazem menção à costela de porco, insinuando alguma ligação com o Palmeiras, que não gostou desse marketing e notificou a rede americana. 

Senado quer ouvir as duas empresas

Senado aprovou a realização de uma audiência pública para que as redes de fast food McDonald’s e Burger King Brasil expliquem os casos de publicidade enganosa em relação aos sanduíches “McPicanha” e “Whopper Costela”. A reunião ocorrerá no dia 12, na Comissão de Transparência, Fiscalização, Controle e Defesa do Consumidor (CTFC).

O requerimento é de autoria do líder do PSD, Nelsinho Trad (PSD-MS). “Não podemos admitir que possam desvirtuar o que está sendo anunciado, enganando a população brasileira. Aqueles que induziram a um equívoco dessa natureza precisam ser responsabilizados”, disse o senador. “Sanduíche fake, era só essa que faltava. Isso precisa ser esclarecido”.

Carne de cavalo nos embutidos

Em 2013, a maior rede de supermercados do Reino Unido – Tesco – foi surpreendida por uma análise feita na Irlanda de que determinadas carnes vendidas em redes de supermercados britânicos tinham 29% de DNA de cavalo. Ou seja, a suposta carne bovina, vendida em embutidos de vários produtos continha quase um terço de carne de cavalo, o que era proibido no Reino Unido.

Descobriu-se com esse exame que havia uma verdadeira rede de frigoríficos na Europa que misturava a carne de cavalo. E o supermercado, apesar de também ser vítima da fraude, soube agir com transparência e reconhecendo que seu controle de qualidade deveria melhorar. Essa crise foi analisada em dois artigos nesta página:

Escândalo da carne de cavalo se alastra de escolas ao Parlamento britânico

Carne de cavalo constrange rede de supermercados

Foto: BurgerKing Costela. Foto: Reprodução/BugerKing

Nota do Burger King

Depois da publicação da Nota do Procon, o Burguer King divulgou uma nota. 

“A transparência para com os nossos clientes é um valor fundamental e inegociável para o Burger King. Nesse sentido, em relação ao Whopper Costela, a rede ressalta que o produto, feito de paleta suína, leva em sua composição aroma de costela 100% natural sem qualquer ingrediente artificial.

Além disso, reforça que desde o lançamento do produto sempre trouxe com clareza em sua comunicação e em todos os materiais e peças publicitárias, cardápios e materiais oficiais de marca a composição do hambúrguer presente no sanduíche feito com carne de porco (paleta suína) e sabor de costela.

A marca ainda reforça que alinhado aos seus compromissos de sustentabilidade assumidos o produto Whopper Costela é 100% livre de quaisquer corantes, conservantes e aromatizantes artificiais.

A marca se mantém à disposição de seus clientes através de seus canais de contato para tirar dúvidas e prestar esclarecimentos sobre esse e quaisquer outros produtos de seu portifólio”.

Nota do Procon RJ

Presidente do Procon/RJ, Cássio Coelho, comentou o caso e avaliou mais um caso de propaganda que leva o consumidor ao equívoco.

“O Código de Defesa do Consumidor estabelece que é direito básico do consumidor o recebimento de informação clara, correta, precisa e ostensiva, sobre as características dos produtos e serviços colocados no mercado de consumo. Além disso, o artigo 37 também proíbe a veiculação de publicidade enganosa, ou seja, aquela que é falsa ou capaz de induzir o consumidor em erro.

É com muita preocupação que recebemos essas notícias de que fornecedores tão bem estabelecidos no mercado possam estar se utilizando da vulnerabilidade do consumidor para colocar no mercado, produtos em desacordo com a legislação consumerista.

Diante desse cenário, é de grande importância o papel do Procon, no desempenho de sua função institucional de defesa e proteção do consumidor, a fim de coibir o cometimento de infrações pelos fornecedores”.

 

 

 

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