Coronavírus avanço pelo mundo 2Até onde poderá chegar o poder de destruição da maior crise do século?

Às 15 horas de hoje (2 de março), o número de infectados passou de 1 milhão de pessoas em todo o mundo, quatro meses depois que a pandemia começou a aparecer na China, mais especificamente na cidade Wuhan. Isso significa dez vezes o número registrado há um mês.

O novo coronavírus SARS-CoV-2 se espalhou para 204 países e regiões, com extraordinária rapidez, e atingiu 1.009.000 pessoas, até a noite de 2 de abril* e já registra 53 mil vítimas fatais, segundo o Worldometer, que conta com várias fontes de dados para rastrear a propagação do vírus. Cerca de um mês atrás, em 6 de março, a contagem mundial de casos era de 100 mil. Levou 20 dias para atingir 500 mil contaminados pelo vírus e apenas sete dias para dobrar esse número.

O primeiro caso conhecido do novo coronavírus remonta a 17 de novembro de 2019, quando um indivíduo de 55 anos da província de Hubei, na China, contraiu a doença. A contagem de casos na China chegou a 60, em 20 de dezembro, de acordo com o South China Morning Post. Mas começou a contaminar a população de Wuhan com extrema rapidez.

Da China para o mundo

Coronavirus Espanha vazia 28 mar 2020Agora, mais de três meses depois, a China registrou 81.589 casos de COVID-19.* 3.318 pessoas morreram da doença e 76.408 se recuperaram após o diagnóstico de um caso confirmado. Após a China e alguns casos que começaram a aparecer na Coreia do Sul e Japão, o vírus começou a dar sinais de contágio em vários países.

Mas foi na Europa, provavelmente aproveitando o clima frio e úmido, e principalmente a falta de isolamento da população, que o coronavírus tem sido mais letal, principalmente no norte da Itália (a região rica do país), além da Espanha, França e Reino Unido. Na Itália, a pandemia virou uma crise nacional, transformando os hospitais e centros de saúde, improvisados para atendimento, num verdadeiro caos. Até hoje (2), já foram contaminados naquele país quase 120 mil pessoas, com 14,6 mil mortes, o lugar onde a letalidade se mantém acima de 10%. Na Espanha, que registrou hoje o recorde de mortes num dia (950), o total de infectados chega a 112 mil e de mortos pelo coronavírus são 10,3 mil. A curva da pandemia na Espanha, a exemplo da Itália, parece não querer descer, castigando o país há pelo menos duas semanas.

A saga do norte da Itália

Mas por que a Itália tem um índice de mortalidade tão alto? Segundo o site Live Science, "Um fator que afeta a taxa de mortalidade do país pode ser a idade de sua população - a Itália tem a população mais velha da Europa, com cerca de 23% dos residentes com 65 anos ou mais, segundo o The New York Times. A idade média no país é de 47,3, em comparação com 38,3 nos Estados Unidos. Muitas das mortes da Itália ocorreram entre as pessoas com idades de 80 e 90 anos, uma população conhecida por ser mais suscetível a complicações graves do COVID-19, segundo o The Local."

Além disso, os idosos parecem representar uma proporção maior de casos na Itália, com cerca de 37% dos casos com 70 anos ou mais, em comparação com 12% dos casos na China, de acordo com um artigo sobre a questão das mortes na Itália, publicado 23 de março na revista JAMA.

Mas é nos Estados Unidos que agora o vírus parece ter chegado com mais força. O país tem mais de 258 mil infectados e mais de 6,5 mil mortos.* No dia 2 de abril registrou o recorde mundial de mortos, num único dia, 1.169. O epicentro da pandemia nos EUA está no estado de Nova York, onde o governador alertou, hoje, que nos próximos cinco dias não haverá respiradores para todos os doentes que estão chegando aos hospitais com necessidade de UTIs. Foram 2.373 mortes no estado até dia 2 de abril. Na cidade de Nova York, são 52 mil casos e 1.375 mortes, 23% das mortes do país.

Dados iniciais da China sugeriram que a taxa de mortalidade do COVID-19 caiu entre 2% e 3,4%, mas com mais casos contabilizados, os cientistas agora estimam que a taxa de mortalidade seja menor - entre 0,66% e 1,38%, dependendo do número de infecções leves ou assintomáticas que não foram diagnosticadas. Um dado divulgado hoje impressionou a todos: quase 50% da contaminação com o vírus ocorreu em pessoas de 30 a 59 anos, ou seja, desmistifica a ideia de que só os idosos, com mais de 60 anos, seria o público mais vulnerável e mais atingido. A letalidade nessa faixa de idosos, sim, é maior. Mas a contaminação acaba também atingindo jovens.

Gráfico do avanço das mortes 2 abr 2020 2Estados Unidos, Itália e Espanha superaram a China, tanto em no número total de casos confirmados, quanto do total de mortes em cada país. Mesmo assim, vários governos, incluindo o dos Estados Unidos, e documentos de agências de notícias confiáveis questionam a validade dos números de coronavírus na China. A França também registrou mais mortes do que as registradas na China (5.400 em 2 de abril).*

Estudos recentes de modelagem sugerem que, mesmo com medidas de permanência em casa e de distanciamento social, cerca de 200.000 pessoas nos EUA poderiam morrer do COVID-19. A projeção é do Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e doenças infecciosas dos EUA. "Eu acho que é inteiramente concebível que, se não mitigarmos na medida em que estamos tentando fazer, você possa atingir esse número", disse Fauci, ao The Guardian. Sem nenhuma medida em vigor, entre 1,6 milhão e 2,2 milhões de pessoas poderiam morrer do vírus em todo o país, também afirmou a Dra. Deborah L. Birx, coordenadora principal da força-tarefa de coronavírus da Casa Branca, ao New York Times.

Foram esses dados que no fim da semana passada impressionaram o presidente Trump, de início relutante em aprovar o distanciamento social, preocupado com a interrupção das atividades de comércio e indústria, além das escolas. O discurso de Trump mudou completamente a partir do fim de março, apoiando o “lockout” das maiores cidades americanas, como está ocorrendo. Quando ele foi posto a par da tragédia que seria deixar tudo como estava, ele percebeu a gravidade da situação.

"Estamos vivendo um momento histórico de desaceleração, como se freios gigantes parassem as rodas da sociedade", explica o filósofo alemão Hartmut Rosa, em artigo publicado no jornal El País. "O choque elétrico deixou os humanos atordoados, em um estado que mistura calma, como Rosa diz, com inquietação, sem espaço físico para se mover ou espaço mental para saber como serão a vida, a cidade, o país e o mundo em dois ou três meses ou em um ano," assegura o jornalista Marc Bassets, correspondente do jornal El País, em Paris.

Analise da crise do coronavírus no Brasil

O Brasil talvez seja o único país do mundo, apenas alinhado com Belarus (você sabe onde fica?), em que um chefe de governo passa o dia inteiro boicotando o que governadores e ministros do próprio governo fazem para conter a pandemia. Na falta do que fazer para contribuir para o país vencer a crise do coronavírus, o presidente da República para o carro na saída do Palácio da Alvorada, todas as manhãs e, com uma claque previamente convocada, aborda sempre um tema controverso e na contramão, não apenas do próprio ministério da Saúde, mas também dos governadores, do Congresso e do STF. Com isso, ele ocupa espaço na mídia. Como diz o historiador e cientista político Boris Fausto, nesse governo, primeiro eles precisam ter um inimigo para combater e, depois, criar polêmica com algum tema. Esse é o "modus operandi" de Bolsonaro e dos filhos.

É o único chefe de governo que ataca o próprio governo na pessoa do ministro da Saúde e dos técnicos que trabalham com ele. Estes, apesar disso e das dificuldades de um país onde a Saúde sempre foi uma crise, vêm tentando fazer um trabalho no mínimo correto e em linha com o que as grandes potências do mundo estão fazendo para atacar a pandemia. O ministro, pode-se admitir agora, passado um mês de o país ter adotado medidas de combate ao coronavírus, demonstrou ser “the right person, in the right place”. E é um absurdo o que o presidente vem fazendo para desestabilizá-lo, defendendo um ponto de vista contrário às recomendações das autoridades de saúde de todo o mundo. 

Dez dias após o ministério da Saúde ter iniciado o trabalho de contenção dessa crise grave, provavelmente incomodado pelo protagonismo do ministro, o presidente resolveu criar um Comitê de Crise, na contramão do que qualquer especialista de crise recomenda. Esse Comitê deveria ter sido criado lá em fevereiro, quando a pandemia começou a se espalhar pelo mundo e se sabia que iria chegar ao Brasil. O dito Comitê, com 26 pessoas, nasceu morto. Porque Comitê de crise com essa quantidade de gente não funciona.

Passados alguns dias, e depois da foto para a imprensa, ninguém mais vê falar no Comitê. Muita gente para dar palpite, aparecer em entrevistas, mas de produtivo, nada. E o ministério da Saúde, com o seu Comitê, agregado vez ou outra por alguns ministros, continua conduzindo as ações de combate ao coronavírus. O ministério tem agido com transparência, mesmo sofrendo ataques diários do presidente e seguidores. Estes defendem a tese absurda, condenada por especialistas em saúde de todo o mundo, de o país voltar à normalidade, abrindo o comércio, as escolas, as indústrias. Na China, a região de Wuhan, onde começou a pandemia, esteve literalmente fechada durante 6 semanas. A Itália está em quarentena total desde o dia 13 de março e anunciou que continuará, pelo menos até 3 de maio. Prejuízo, desemprego, empresas quebradas? Naturalmente, todos os países terão. Mas é o preço que a humanidade vai pagar para conseguir pelo menos neutralizar em parte a letalidade do coronavírus.

O Brasil, segundo o ministério da Saúde, ainda não atingiu o “pico” da pandemia. Até porque os 8.165 casos oficiais de contaminação pelo Covir-19 seria um número muito aquém da realidade. Milhares de diagnósticos de pacientes com suspeita de coronavírus ou até mesmo que morreram ainda não foram processados. O que pode aumentar esse número. A pandemia no Brasil, até agora, ainda está restrita a áreas urbanas, atingindo uma população com melhor poder aquisitivo. Muitos, que viajaram para o exterior. A periferia onde há um grande adensamento habitacional, apenas começa a registrar os primeiros casos, o que pode transformar o país em poucos dias num cenário de guerra. É nesse momento que o país precisa unir os esforços de governo federal, governadores e demais instituições. Mas, lamentavelmente, não é isso que está acontecendo.

*Veja quadro atualizado acima, todos os dias.

Fotos: Getty Images.

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