dialogo conversaFrancisco Viana*

Não se trata de defender o Judiciário. Mas, convenhamos, dizer, em público, que o ministro da justiça  se comporta "no máximo", como um "chefete de polícia" e chamar um juiz, seja qual for a instância, de "juizeco de primeira instância" não é uma forma civilizada de se comunicar. Não é, vale ainda ressaltar, um exemplo a ser seguido. Vivemos em uma democracia e a autoridade precisa dar exemplo de tolerância e bom senso. Senão o que se pode esperar do cidadão comum? A violência?

Sendo assim, o Presidente do Senado, Renan Calheiros, tem no seu passivo um pedido de desculpas à sociedade. E às instituições e pessoas atingidas por uma comunicação impensada. A prisão dos integrantes da polícia Legislativa pode ser um excesso cometido pela Polícia Federal. Um simples e objetivo comunicado ao Superior Tribunal Federal resolveria o caso. Por que reação tão intempestiva? Tudo que o Presidente do Senado conseguiu com suas palavras, que ferem o bom senso, foi atrair as críticas do judiciário. Nada mais.

No ar, ficou a pergunta: por que o legislativo precisa dispor de uma polícia? Não seria mais justo que usasse, quando necessário fosse, a Polícia Federal? Havia ou não interesse em dificultar as ações da Lava Jato nas varreduras realizadas pela polícia legislativa em residências de parlamentares? As prisões foram arbitrárias? Houve usurpação por parte do juiz de primeira instância das funções do STF? Ficam as questões.

Em todo caso, a boa comunicação, aquela que prima pelo bom senso, recomenda que não se insulte o outro. Insulto não é argumento. Pelo contrário, é sinal de incivilidade, para ser educado, ou desespero, numa visão mais extremada. No Congresso, o que hoje não falta são brigas e atitudes destemperadas, desrespeitosas entre parlamentares, que mais lembram o espírito da briga de rua do que de uma Casa Legislativa. Isto é ruim para a reputação e a imagem do Congresso. Não é construtivo. Em nada contribui para a valorização da Casa, que é do povo e no povo precisa pensar.

Palavras não voltam atrás. Dai, a necessidade de pensar antes de falar, de refletir antes de ser deselegante. Tudo pode, e deve ser dito, mas com arte. Com razão e precisão. Não desejo entrar no mérito das críticas de Renan Calheiros ao ministro da justiça e ao juiz que deu sinal verde para a prisão dos policiais legislativos. A tese é uma só: Renan poderia, e deveria criticá-los sem ofendê-los. Por que chamar o juiz de “juizeco”. Por acaso ele seria inferior a um senador? Ou, a um outro cidadão? Não. Não é. Se errou na sua conduta, deve ser colocado nos trilhos corretos. E isso não comporta insultos. Comporta fatos objetivos.

Já imaginou se o ministro e o juiz enfrentassem Renan com destempero? Que triste espetáculo não seria? O enfrentamento não interessa a ninguém. Não é demonstração de coragem, mas de tibieza. Vejam o caso de Eduardo Cunha. Há pouco era um dos homens mais poderosos do país. Hoje, está preso, sem mandato, sem seguidores, sem aliados. E por que? Fez a opção pelo conflito. Não é uma boa opção. No extremo oposto, há o exemplo de Michel Temer. Enfrentou a presidente Dilma Rousseff. Nunca foi deselegante. Agiu. Não julgo seu comportamento, mas apenas reconheço que cuidou da comunicação do conflito com a ex-presidente com habilidade. Foi civilizado.

Novos acontecimentos se sucederão. O papel do homem – homens e mulheres – está sendo passado à limpo, como o papel das instituições, do Estado e das empresas. Não basta aparentar ser, é preciso ser de verdade. Ser ou não ser: eis a questão hamletiana. O importante é que, desde já se absorvam as lições dos erros de comunicação. Homens públicos não devem protagonizar episódios que transmitam valores negativos para a sociedade. Que transmitam insegurança. Devem liderar. E a liderança ocorre pelo bom senso. Nunca pelo destempero.

*Francisco Viana é jornalista e doutor em Filosofia Política (PUC-SP).

 

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