Mafia dos medicos do DFA Polícia Civil do DF e o MPDFT desencadearam hoje uma Operação que envolve hospitais, empresas fornecedoras, médicos ortopedistas e agentes de saúde, num conluio que visava obter vantagens financeiras em cirurgias suspeitas e desnecessárias de órteses e próteses. A polícia suspeita que cerca de 60 pacientes foram lesados, só em 2016, por uma única empresa, e até tentativa de morte a paciente aparece na denúncia.

Sete médicos do Distrito Federal foram presos nessa operação da Polícia Civil e do Ministério Público. Ela visa a apurar a existência de uma organização criminosa formada por médicos e empresários que ganham dinheiro instalando órteses e próteses em pacientes, ou por preços superfaturados, ou sem necessidade. Foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão e 12 mandados de prisão. A Operação chamada Mister Hyde (em alusão ao filme) envolveu 240 policiais civis, entre delegados e agentes; 21 promotores do MPDFT e 21 agentes de segurança do MP.

De acordo com as investigações, o esquema envolvendo cirurgias desnecessárias, superfaturamento de equipamentos, troca fraudulenta de próteses e uso de material vencido em pacientes é milionário. Em Nota, o MPDFT explicou que "a ação investiga condutas criminosas praticadas por empresários de órteses e próteses (OPMEs), hospitais e médicos, em prejuízo da saúde dos pacientes, sempre com o objetivo de auferir ganhos astronômicos na realização de diversos tipos de procedimentos médicos ilícitos e que colocam em risco a vida de pessoas enfermas."

Na entrevista da Polícia Civil, o delegado afirmou que nas gravações, os médicos tratavam o paciente como um “projeto financeiro”. O conluio entre os ortopedistas, clínicas e empresários tinha um único objetivo: tirar o maior lucro possível. Também envolvia agentes públicos e parlamentares do DF, por meio de emendas, que liberavam recursos em troca de propina. Há casos, diz a polícia, de os médicos lesionarem o paciente para tornar necessária a utilização de placas e fios de titânio, durante as operações e, assim, atender aos interesses financeiros da “máfia”. Tudo era superfaturado. A saúde do paciente não era uma prioridade. O único objetivo era auferir o maior lucro.

Segundo a polícia, eles usavam próteses vencidas, forjavam próteses importadas e usavam as mais baratas, fabricadas no Brasil, e obtinham liminares para cirurgias, sem necessidade. “Não eram médicos, mas criminosos”, disse o delegado. “Nas gravações, eles falam de tudo, menos da saúde do paciente. Se a cirurgia era de risco, se era grave, nada interessava. O interesse era meramente pecuniário. Só isso que eles falavam. Isso foi o que mais nos chocou”, disse o delegado.

                "O interesse dos médicos era obter lucros ilícitos. A conduta menos grave é o superfaturamento. As conversas que foram gravadas demonstram que a menor preocupação dos envolvidos é a saúde do paciente. Cada paciente era uma vítima, um projeto financeiro para obtenção de lucro". (Luiz Henrique Dourado Sampaio, Delegado-chefe da Deco,).

Houve o caso, detectado nas gravações, de médico que não sabia fazer a cirurgia e pedia para um colega ensinar. E outros erros médicos aconteceram. Uma paciente só não teve o quadro agravado, porque procurou outro ortopedista, que não era da máfia, e descobriu o erro.

Existem casos de cirurgias sabotadas para que o paciente fosse continuamente operado, gerando lucro para o esquema. Os médicos também supostamente destinaram produtos vencidos para os pacientes, trocando produtos mais caros por mais baratos. Ainda segundo a polícia, uma testemunha que tentou denunciar o esquema sofreu tentativa de homicídio. "Deixaram um arame de 50 cm na jugular do paciente para matá-lo."

Os alvos, segundo o portal de O Globo, além dos sete médicos, são também dois empresários da empresa TM Medical (de manutenção de aparelhos hospitalares), um coordenador da Secretaria de Saúde, um diretor do hospital Home e funcionários. O diretor é um dos quatro alvos de mandados de condução coercitiva. Durante a ação, um dos médicos detidos tinha acabado de cheirar cocaína, informou a polícia.

A polícia apreendeu R$ 500 mil, entre reais e moeda estrangeira, na casa dos médicos e demais suspeitos. A polícia sabe que o esquema movimentou milhões de reais. Segundo o Ministério Público, o Conselho Regional de Medicina vai ser acionado para que os médicos envolvidos no suposto esquema sejam punidos e impedidos de exercer a profissão. Os acusados devem ser autuados por lavagem de dinheiro, estelionato e crime contra a saúde pública e podem pegar mais de 40 anos de prisão, em caso de condenação.

O Hospital de Ortopédico Home, de Brasília, divulgou Nota, no início da tarde, afirmando que "presta exclusivamente serviços hospitalares, sem qualquer interferência ou participação nas condutas médicas, dentre as quais aplicações e escolhas de OPME. Os médicos citados na operação não fazem parte do corpo clínico do Hospital HOME, apenas operando, eventualmente, nas dependências, já que são habilitados pelo CRM..."

Lições de gestão de crises

Os crimes que envolvem esses médicos, empresas e clínicas, se comprovados, deveriam ser classificados como “hediondos”, porque romperam um dos ativos mais preciosos na relação médico-paciente ou empresa-cliente, a confiança. Eles não merecem apenas ser processados (certamente ficarão em liberdade, em poucos dias, após as prisões temporárias, até porque podem contratar bons advogados), mas banidos para sempre da vida professional. Além de pesados processos financeiros dos pacientes lesados, deveriam responder também a processo rigoroso nos Conselhos Federal e Regional de Medicina, se o processo for levado a sério, como deveria. Não é o que tem acontecido, em outros casos. A categoria tem sido acusada de corporativista e são raríssimos os casos de médicos banidos da medicina.

Os hospitais e empresas envolvidas estão com a imagem e a reputação definitivamente arranhadas, ainda que consigam construir uma versão bastante consistente para explicar e dizer que a história não é bem essa. O lamentável nisso tudo é que nesses hospitais, certamente, haverá médicos e profissionais sérios, competentes, comprometidos com o juramento de Hipócrates e que sofrerão as consequências dos crimes praticados pelos colegas. A direção dessas clínicas e empresas precisarão de um longo trabalho de recuperação da imagem externa e, internamente, da autoestima dos empregados e médicos. É uma crise grave e que precisa de resposta clara, consistente, transparente, separando o joio do trigo, para tentar recuperar a confiança definitivamente abalada.

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