hsbc gradesEm Londres, o Parlamento britânico acusou hoje os executivos do HSBC de incompetentes, por ignorarem as atividades de sonegação de impostos que ocorreram na filial da Suíça. Ao ouvir executivos sobre o chamado Swissleaks, os parlamentares se referiam, entre outros, a Chris Meares, ex-chefe da divisão de private do banco HSBC. Ele declarou, quando o escândalo veio à tona, que não sabia “até onde o pessoal tinha ido”.

Com Rona Fairhead, membro do comitê de auditoria do HSBC, até 2010, e hoje com um cargo na BBC, os parlamentares foram ainda mais duros: "Ou você é completamente incompetente em suas funções de supervisão ou você sabia sobre isso", disse a presidente do  Comitê de Contas Públicas (PAC), Margaret Hodge.

“Quando as coisas vão mal no setor público, sob sua supervisão, você deve renunciar. Ninguém se dignou assumir a responsabilidade”, disse a parlamentar. A ex-executiva do HSBC é hoje membro da BBC Trust. E sabe o que Hodge disse: “Eu acho que o governo deveria demitir você”.

Também durante a audiência, Stuart Gulliver, o executivo-chefe do HSBC, admitiu que denúncias sobre aplicações suspeitas de suas finanças pessoais também tinham arranhado a reputação do banco. E culpou "insinuações da mídia" para o problema. O executivo disse que seus acordos bancários, que incluíram uma empresa panamenha, não foram criadas para a evasão fiscal. E pediu uma chance de completar o trabalho que iniciou.

Brasileiros são alvo

Hervé Falciani, ex-funcionário do HSBC, que denunciou esquema de corrupção no banco, concedeu uma entrevista exclusiva ao Estadão, afirmando que “Brasil é o principal alvo de bancos que lavam dinheiro". Para ele, país é o local onde os bancos ‘opacos’ tém mais esperança de encontrar novos clientes.

Falciani disse na entrevista que o escândalo da Petrobras é o exemplo acabado da ocultação de dinheiro, do "dinheiro sujo". "É um esquema organizado para partilhar o mercado da concorrência pública. É o maior problema de uma democracia".

A ponta do iceberg

O escândalo do HSBC, revelado pela mídia há um mês, escancarou o que se suspeitava e poucos tinham a coragem de falar. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o escritor Jean Ziegler, autor do livro “A Suíça lava mais branco”, publicado há 25 anos,  diz que “o caso HSBC é só a ponta do iceberg”.

O caso HSBC, revelado por um consórcio de mídia de 45 países, mostrou que o banco britânico utilizava a filial da Suíça para transações ilegais com lavagem de dinheiro, fraude fiscal e outras irregularidades. O banco se defende dizendo que desde 2008, quando começou a serem investigadas as fraudes, ele mudou as normas para impedir que seus serviços sejam usados para lavar dinheiro sujo.

Dos mais de 106 mil correntistas que mantêm dinheiro suspeito na Suíça, mais de 6 mil seriam brasileiros e não está afastada a hipótese de que os operadores da operação Lava Jato tenham se servido desse banco para esconder capitais.  O escândalo envolve 203 países e valores que chegam a US$ 118 bilhões.

O escritor suíço continua reafirmando o que dizia no livro, em 1990: “A Suíça é o principal local de lavagem de dinheiro do nosso planeta, o local de reciclagem dos lucros da morte”.  Ele não tem pruridos para dizer que o HSBC é apenas parte de um sistema corrupto. Os bancos, principalmente após a crise de 2008, tanto na América quanto na Europa, se transformaram nos grandes vilões pelas operações que abalaram o sistema financeiro.

Nos últimos anos, os órgãos controladores do sistema financeiro nos Estados Unidos e na Europa têm imposto pesadas multas a grandes corporações bancárias por conta de fraudes em operações, pouca transparência nas taxas praticadas e, principalmente, por permitirem transações ilícitas com capitais que vão de grandes milionários, celebridades até dinheiro proveniente do tráfico de drogas.

A matéria prima da Suíça é o dinheiro estrangeiro

O escritor suíço, de 80 anos, foi processado quando seu livro saiu e até hoje paga multa de US$ 6 milhões, tendo sido acusado de “traidor” pelos políticos, pois quando publicou o livro ele era membro do Parlamento suíço.

Ele não tem meias palavras para dizer que existe uma corrupção institucional na Suíça e são os bancos que comandam o país do relógio.  Veja a íntegra da entrevista de Jean Ziegler, publicada no jornal “O Estado de S. Paulo”.

“O Caso HSBC é só a ponta do iceberg”, diz escritor

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