The Economist 280215 O atoleiro“A economia brasileira está uma "bagunça" e enfrentará dificuldades para sair do "atoleiro" onde se encontra. Escapar deste atoleiro seria difícil, mesmo com uma forte liderança política. Dilma, no entanto, é fraca. E tem uma frágil base política.” A afirmação é da matéria de capa, na edição da América Latina, da revista britânica The  Economist, que circula hoje.

A reportagem da The Economist (leia aqui) faz uma breve análise do cenário atual brasileiro, sem deixar de citar o escândalo da Petrobras, o acerto na escolha de Joaquim Levy para o ministério da Fazenda, mas ressata as dificuldades da presidente e do ministro com o Congresso Nacional, incluindo a eleição de Eduardo Cunha para presidente da Câmara.

A reportagem apontou o aperto fiscal para equilibrar as contas públicas, os cortes de benefícios previdenciários e a elevação de impostos e preços, que estavam represados, além da redução de subsídios a bancos públicos que antes eram repassados a setores e empresas.

A seguir, alguns tópicos da reportagem:

-- Em campanha para um segundo mandato como presidente do Brasil em uma eleição em outubro passado, Dilma Rousseff pintou um quadro róseo da sétima maior economia do mundo.

-- A economia do Brasil está uma bagunça, com problemas muito maiores do que o governo admite e os investidores parecem perceber.

-- A torpe estagnação na qual o país caiu em 2013 está se tornando uma completa – e provavelmente prolongada – recessão, uma vez que a inflação pressiona os salários e a capacidade de pagamento das dívidas do consumidor.

-- Um vasto escândalo de corrupção na Petrobras, a gigante estatal de petróleo, envolveu várias das maiores empresas de construção do país e paralisou os investimentos em várias faixas da economia, pelo menos até os procuradores e auditores concluírem o trabalho.

-- Escapar deste atoleiro seria difícil, mesmo com uma forte liderança política. Dilma, no entanto, é fraca. Ela ganhou a eleição por pequena margem. Já sua base política está se desintegrando. De acordo com o Datafolha, um instituto de pesquisas, seu índice de aprovação caiu de 42% em dezembro para 23% este mês.

-- Se o Brasil quiser salvar algumas conquistas, a partir de seu segundo mandato, em seguida, ela (Dilma) precisa levar  o país em uma direção totalmente nova.

--Problemas do Brasil são em grande parte autoinfligidos. Em seu primeiro mandato, Dilma defendia um capitalismo de Estado tropical que envolveu frouxidão fiscal, contas públicas nebulosas, a política industrial minando a competitividade e intromissão presidencial na política monetária. No ano passado, sua campanha de reeleição viu uma duplicação do déficit fiscal, para 6,75% do PIB.

-- Com a inflação ainda acima de sua meta, o Banco Central não pode cortar sua taxa de referência a partir do nível atual de 12,25%, sem arriscar ainda mais a perda de credibilidade e sem minar a confiança dos investidores. Um aperto fiscal e altas taxas de juros significam aperto para empresas e famílias brasileiras e um retorno mais lento do crescimento. O que faz esse ajuste perigoso é a própria fragilidade política de Dilma Rousseff.

-- Assim, o país enfrenta seu maior teste desde o início de 1990. Os riscos são claros. Recessão e redução das receitas fiscais podem comprometer o ajuste do Sr. Levy. Qualquer retrocesso por sua vez pode levar a uma corrida ao real e ao rebaixamento na classificação de crédito do Brasil, elevando o custo do financiamento para o governo e as empresas.

--No entanto, a fraqueza da presidente é também uma oportunidade e para o Sr. Levy, em particular. Ele agora é indispensável. Ele deve construir pontes com o Sr. Cunha (presidente da Câmara), enquanto deixa claro que, se o Congresso tentar fazer alguma barganha para o apoio aos ajustes, ele terá que cortar em outros lugares. A recuperação da responsabilidade fiscal deve ser duradoura para a confiança das empresas e a volta dos investimentos. E quanto mais firme for o ajuste fiscal, mais cedo o Banco Central pode começar a cortar as taxas de juros.

-- É preciso fazer mais para o Brasil retornar ao crescimento rápido e sustentado. Pode ser muito esperar Rousseff para reformar leis trabalhistas arcaicas, que ajudaram a estrangular a produtividade, mas ela deve pelo menos tentar simplificar os impostos e reduzir a inconsequente burocracia. Há sinais de que o governo vai mudar a política industrial e fomentar mais o comércio internacional no que resta de uma economia excessivamente protegida.

the economist-- O Brasil não é o único membro do quinteto BRICS de grandes economias emergentes que está em apuros. A economia da Rússia, em particular, tem sido atingida pela guerra, sanções e dependência do petróleo. Mesmo com todos os seus problemas, o Brasil não está em tão grande confusão quanto a Rússia. Ele tem um grande e diversificado setor privado e instituições democráticas robustas. Mas seus problemas podem ir mais longe do que muitos imaginam. A hora para colocá-los em ordem é agora.

Em 2009, a revista The Economist publicou uma reportagem de capa ilustrada com a imagem do Cristo Redentor decolando como um foguete, sinalizando para um rumo promissor da economia. Mas a revista voltou atrás em 2013, mostrando o mesmo Cristo desgovernado, dando conta de que o país teria perdido a direção.

Ilustração: capa da The Economist, para a América Latina.

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