Papa francisco vaticanoO Papa Francisco concedeu entrevista à revista semanal “Viva”, do jornal argentino El Clarín, ao completar 500 dias do pontificado. Na entrevista ao enviado especial ao Vaticano, Pablo Calvo, o Papa se mostra comovido com o recrudescimento da violência, preocupado com o desemprego juvenil e com as guerras. Segundo a reportagem, o Papa revela uma história mínima e emotiva e dá várias dicas para encontrar aquilo que, de certo modo, todos nós perseguimos durante a vida: a felicidade. O modo de se viver contribui para isso?

O jornalista argentino Pablo Calvo é conhecido de longa data do Pontífice. Na entrevista, o Papa resumiu dez princípios que ele recomenda para facilitar o caminho da felicidade, envolvendo o âmbito pessoal e as relações com a comunidade e as pessoas que nos rodeiam. Para Antonia Blumberg, do Huffington Post, "suas dicas podem não refletir uma receita simples para o crescimento pessoal, mas elas oferecem uma visão sobre alguns dos valores próprios do Papa”. Se não resolvem o controvertido dilema da felicidade, também não atrapalham na sua eterna busca.

Ao contrário de outras listas de conselhos, de gurus, médicos e pessoas longevas, que vão desde a obsessão por exercícios físicos, até o corte de hábitos não saudáveis, como não fumar e não beber, os conselhos de Francisco transitam pelo território da simplicidade. Brincar com os filhos, proteger a natureza, trabalhar pela paz e respeitar a crença e a opinião das outras pessoas são algumas das recomendações para alcançar a felicidade.

Aqui estão as dez dicas de Francisco, extraídas da entrevista, publicadas no site do jornal argentino El Clarín e que acabaram sendo reproduzidas e comentadas em várias publicações pelo mundo, principalmente pela Internet:

1. Viva e deixe cada um viver

"Os romanos têm um ditado, que poderia ser tomado como um ponto de referência", disse o Papa. "Eles dizem: Campa e lascia campà (Viva e deixe os outros viverem também). Esse é o primeiro passo para a paz e a felicidade. "

2.  Doar-se incansavelmente aos outros

"Se a pessoa vive cansada, corre o risco de se tornar egoísta. E água parada é a primeira que apodrece", afirmou.

3. Fazer as coisas tranquilamente ou transite pelo mundo de forma leve

Francisco aprofunda e ressalta o conceito de vida tranquila, como a capacidade de fazer as coisas com benevolência e humildade. "No romance 'Don Segundo Sombra' há uma coisa muito bonita, um homem que olha para trás em sua vida. Ele diz que na juventude ele era um córrego rochoso que levava tudo pela frente. Já adulto, ele era um rio correndo, e que na velhice, se sentia em movimento, mas  "remansado".

“Eu gostaria de usar esta imagem do poeta e romancista argentino Ricardo Güiraldes, o último adjetivo “remansado”. A capacidade de mover-se com benevolência e humildade, o “remanso”(*) da vida. Os idosos têm essa sabedoria, são a memória de um povo. E um povo que não cuida de seus idosos não tem futuro”, disse.

4. Brincar com as crianças

O Papa aprofunda a necessidade de deixar de lado o consumismo e o cansaço e ressalta a importância de dedicar tempo às crianças e ao “ócio criativo”. “Esteja disponível para os seus filhos e familiares. O consumismo levou à essa ansiedade de perder a cultura sã do ócio, como ler, desfrutar da arte", diz ele.

"Quando confessava, perguntava para uma mãe: quantos filhos tens? Brincas com teus filhos? Jogar com os filhos é a chave de uma cultura sã.” Ele diz que as pessoas devem investir mais tempo em "lazer saudável": "É difícil. Os pais vão trabalhar e voltam quando os filhos estão dormindo. Mas isso (brincar, jogar) deve ser feito".

5. Passar os domingos com a família

Segundo Francisco, o domingo é um dia "para estar em família". “Passe os domingos (ou um dia de descanso com a família)". Esta dica se conecta ao quarto conselho - ter a intenção de reservar um tempo para os entes queridos, apesar das pressões do trabalho. O Papa diz que outro dia, na Itália, foi a uma reunião com pessoas da universidade e com trabalhadores. Todos reclamavam de não poder trabalhar no domingo.

6. Ajudar os jovens a conseguir emprego

Trabalhar para capacitar os jovens. O Papa discutiu a necessidade de encontrar formas criativas de criar empregos, para ajudar os jovens a um ocupação segura, já que o fato de não contar com oportunidades pode fazê-los cair na droga ou no suicídio. “Está muito alto o índice de suicídio entre jovens sem trabalho. Outro dia li, embora não seja um dado científico, que há 75 milhões de jovens, abaixo de 25 anos, desocupados. Não é suficiente dar-lhes de comer: é preciso inventar cursos de um ano de encanador, eletricista, costureiro. Levar o pão para casa dá dignidade", afirma.

7. Cuidar do meio ambiente

O Papa reforça observações anteriores de que devemos proteger esse "presente especial" do Deus: a Criação. O Papa considera que atualmente este é um dos nossos maiores desafios.

8. Siga em frente. Esquecer rápido as coisas negativas

O Papa incentiva encontrar maneiras de superar rapidamente experiências negativas. O perdão é a chave para isso, como é ter a vontade de deixar o momento seguinte ser melhor do que o último. "A necessidade de falar mal do outro indica uma baixa autoestima, ou seja: eu me sinto tão lá embaixo que em vez de subir, puxo o outro para baixo. Esquecer rápido das coisas negativas é saudável", afirmou na entrevista.

9. Respeitar quem pensa diferente

Isso remete ao primeiro ponto. Não vamos concordar com as crenças e estilos de vida de todos, mas isso não, necessariamente, os torna menos válidos. Para Francisco, as pessoas devem dialogar não para convencer o outro, mas para trocar idéias, respeitando a identidade do outro. "A igreja cresce por atração, não por proselitismo", disse.

10. Buscar ativamente a paz

"Estamos vivendo uma época de muitas guerras. A guerra destrói.” No contexto internacional atual, segundo o Papa, "o clamor pela paz deve ser gritado. A paz, às vezes, dá a ideia de tranquilidade, algo parado, mas nunca é “tranquilidade” . É sempre uma paz ativa. Eu acho que todos devem estar comprometidos em matéria de paz, de fazer tudo o que podem, o que posso fazer, a partir daqui. A paz é a linguagem que nós devemos falar ".

(*) Remanso: Trecho do rio, após as corredeiras, onde as águas se espalham mansamente, anulando quase toda a correnteza.

Fonte: Entrevista publicada em espanhol, no site do jornal El Clarín, de Buenos Aires; em português, no site do Brasil; e em inglês, no site do Blog Huffington Post. Edição: João José Forni.

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