jpmorganO sonho de todo o jovem recém-formado é entrar para a galeria dos executivos bem-sucedidos das multinacionais. Além do prestígio, altos salários e bônus em ações os transformam em pouco tempo nos novos milionários globais. Só que a distância entre o paraíso e o inferno é bem mais curta do que as ilusões do mercado deixam perceber.

Nos últimos dias, crises de reputação afetaram vários executivos pelo mundo milionário das grandes corporações. Caíram por erros, por suspeita de fraude (um dos crimes mais presentes nesse ramo) e até por curriculum forjado.

Sem falar nos governantes que dançaram com a crise econômica. Sarkozy foi o último de uma lista de líderes políticos que perderam a batalha e abreviaram a carreira por causa da crise econômica.

O impasse político na Grécia, a deposição do governo na Holanda e a eleição na França mostram como é difícil ser líder num período de crise. Para Bill George, empresário e professor da Harvard Business School, “a crise é o grande momento do líder”. Pode também ser o seu calvário. O que pode significar a aposentadoria precoce ou a desgraça reputacional no mercado.

Desde a crise econômica, iniciada em setembro de 2008, pelos menos nove países da Zona do Euro sofreram tempestades no poder. Em 2009, o primeiro premiê a rodar foi o do governo da Islândia, em meio a uma crise econômica e financeira sem precedentes. Geir Haarde renunciou e foi condenado em abril deste ano por negligência, ao tratar a crise financeira no país.

Em 2010, nem o poderoso Reino Unido se safou. Gordon Brown, em certos momentos cotado para liderar a recuperação mundial em 2008, não aguentou os efeitos da crise. Um ano depois, teve que renunciar, após perder as eleições. Ele encerrou 13 anos de governo trabalhista na Grã-Bretanha, cedendo espaço para os conservadores.

Em 2011, houve quedas em cascata. Na Irlanda, o premiê Brian Cower perde eleições, antecipadas por causa da crise econômica. Assim também com o governo de José Zapatero na Espanha. Pressionado a convocar eleições, entrega o poder para o conservador Mariano Rajoy. Com bolsos e estômagos vazios, até as ideologias balançam. Foi-se o sonho da esquerda espanhola no poder.

Hoje, a alternância do poder nos países europeus parece ter menos a ver com convicções políticas do que com a capacidade do governante de conciliar bem-estar social com austeridade, uma equação que nem a poderosa Alemanha, de Angela Merkel, parece capaz de resolver.

Grécia, Itália e Portugal foram outros países castigados pela recessão, com mudanças de regime em 2011. Na Grécia, onde a crise parece não acabar, a saída do premiê abriu um vácuo político difícil de solucionar, tantas são as tendências a conciliar, da esquerda radical aos neonazistas. Desencanto, suicídios, desemprego e incerteza sobre o futuro incomodam uma nação que já foi berço da civilização ocidental. 

E na Itália, o todo poderoso e controvertido Silvio Berlusconi renuncia ao cargo, em meio à débâcle econômica e escândalos sexuais. Ou seja, não bastasse o arranhão na reputação política e gerencial, também a pessoal saiu chamuscada. O milionário empresário parece não ligar muito para os tropeços. Mas as consequências desastradas do seu governo ficam. A Itália amarga uma queda de 0,8% no PIB, no primeiro trimestre.  

Em Portugal, o primeiro-ministro socialista José Sócrates renunciou ao tentar impor medidas de austeridade exigidas pela União Europeia. O atual dirigente, de centro-direita, Pedro Passos, não conseguiu ainda tirar Portugal da sala de recuperação. Desemprego, cortes em benefícios e aposentadorias e déficit público levaram o país a até mesmo cortar alguns feriados do ano, visando à recuperação econômica. O PIB português caiu 1,3% no primeiro trimestre.

Em 2012, além da volta ao poder do Partido Socialista, na França, sepultando as pretensões de Sarkozy se manter no poder, a Romênia e a Holanda também dispensaram governantes. Na Holanda, o premiê entrega o poder sem conseguir diminuir o déficit público. E na Romênia, a pressão popular faz Emil Boc e seu gabinete renunciar em meio a protestos contra as medidas de austeridade.

Nessa crise, principalmente na Europa, o emprego do político é de alta rotatividade. Não bastassem os protestos e passeatas populares e pressionados pelos dirigentes da União Europeia a tomar medidas impopulares, com ajustes rigorosos nas contas públicas, eles não suportam a pressão popular que exige emprego, menos austeridade e mais desenvolvimento. Com esse discurso, o socialista François Hollande se elegeu, na França.

Fraudes, incompetência e medo do escrutínio balançam executivos 

Em maio, vários executivos de multinacionais perderam o cargo por crises de reputação. O presidente da TIM, no Brasil, Luca Luciani, renunciou ao cargo, após rumores no mercado de que teria fraudado a base de clientes com chips inativos. A investigação, iniciada há cinco anos, está ligada à fraude para inflar a base de assinantes da operadora.

Embora reconhecido como o homem que salvou a operadora, nesse mundo corporativo a falha não vai para baixo do tapete, como no serviço público. Descoberto, uma nota lacônica da Telecom Itália, controladora do grupo no Brasil, mandou o executivo procurar emprego em outro lugar.

Na fila, outro executivo de cacife alto. O presidente do Yahoo, Scott Thompson, vai deixar o cargo após imbróglio com suas credenciais acadêmicas. O pedido de afastamento veio de acionistas que não engoliram informações forjadas no curriculum do executivo, há quatro meses à frente do Yahoo. 

Embora conste no curriculum e nas informações oficiais enviadas às autoridades americanas, de que ele era formado em Contabilidade e em Ciência da Computação no Stonehill College, descobriu-se que a informação sobre o último curso era falsa. Ele não concluiu. E nesse mundo, mentir é fatal.

Essa fraude não é nova, vem de outras empresas por onde o executivo passou. A exigência de seu afastamento veio com a explicação “para evitar danos irreparáveis à cultura do Yahoo”. Ou seja, arranhão na reputação. A corporação está acima das vaidades pessoais.

No Brasil, onde as crises de reputação derrubaram ministros em cadeia, desde o início do governo Dilma, a última cabeça cortada foi de Fernando Cavendish, o festivo e todo poderoso diretor da Delta Construções. Aquele que aparece com bandana na cabeça, num convescote com dinheiro público, em Paris, ao lado de Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro.

Saiu menos por convicção reputacional ou interesse público do que para fugir à responsabilidade, diante do emaranhado de relações promíscuas e negócios mal explicados da construtora no escândalo Carlinhos Cachoeira. Apenas uma quarentena, para ver se a imprensa o esquece.

Erro, autossuficiência e falta de controle podem custar a carreira

No mercado financeiro, crises de reputação ou erros custam mais caro. Nesta segunda-feira (14), a maldição dos executivos fez mais uma vítima nos EUA. Um erro com derivativos, que causou perda de US$ 2 bilhões, manchou a imagem do JPMorgan Chase, o maior banco americano em ativos. O presidente Jamie Dimon aceitou a demissão de Ina Drew, diretora de investimentos, há 30 anos na empresa. Com ela, cairão mais dois executivos também responsáveis pelo erro. O Senado americano classificou esse erro como fruto de uma regulação “falha, complexa e pouco monitorada”.

O presidente do JPMorgan se projetou no meio da crise que afetou a indústria bancária americana, desde 2008, pela forma como conduziu o banco. Todo o cacife adquirido perante políticos, a Casa Branca e o mercado podem se esvair por causa dessa crise de reputação. A perda bilionária no mercado é um tropeço na carreira desse executivo, que se orgulha de conduzir com mão de ferro os 270 mil empregados do Conglomerado.

Dimon disse numa entrevista à TV que ele estava “mortalmente errado” quando ignorou as denúncias sobre negócios do banco, no mês passado. “Eu cometi um terrível e imperdoável erro. Não há praticamente nenhuma desculpa para isso”.

A crise, realmente, pode ser “o grande momento do líder”. Para o bem, ou para o mal. Depende de como o executivo se comportou antes e como vai sair após a crise.

Foto: Getty Images

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