argentina_um2O governo da Argentina parece que gosta de brincar com fogo. Ou está procurando começar uma crise internacional. Para isso, vai “buscar enemigos fuera para tapar lo de dentro", como diz um jornalista espanhol. 

A agênca Young & Rubicam, Buenos Aires, contratou um grupo de atletas argentinos. Simulando que iam participar de uma maratona, eles entraram nas Malvinas e a agência gravou de maneira clandestina um anúncio publicitário associado às Olimpíadas.

A peça publicitária mostra o capitão da seleção de hockey masculino, Fernando Zylberberg, correndo por lugares característicos das Malvinas, como se estivesse treinando, e a assinatura provocativa “Para competir em solo inglês, treinamos em solo argentino”.

O anúncio começa como se fosse um estímulo ao esporte e acaba com uma provocação aos ingleses. No final do anúncio, talvez como forma de buscar um álibi para idéia politicamente tão infeliz, acrescentaram uma frase em homenagem aos soldados mortos e ex-combatentes da Guerra das Malvinas, ocorrida em 1981 contra os ingleses, exatamente os anfitriões dos Jogos Olímpicos, daqui a três meses.

Nenhuma empresa privada, principalmente aquelas com algum tipo de patrocínio às Olimpíadas, quis patrocinar ou assinar o anúncio. O governo da Argentina, que resolveu brigar com todos que cruzam o seu caminho, da imprensa às petroleiras, foi o único que aceitou assinar a infeliz peça publicitária. E o anúncio rodou alguns dias nas tevês do país. 

O canal de esportes TyC, do Grupo Clarín, que vem sendo perseguido pela presidente Cristina Kirchner, e tem os direitos para transmissão dos Jogos Olímpicos, não quis associar o conteúdo dessa publicidade com sua imagem. Mesmo clientes da agência de publicidade também se negaram a patrocinar. 

Não se sabe ainda qual a aceitação desse anúncio internamente. Mas, além de uma provocação política, usando a imagem de um evento que exatamente prega a união e o congraçamento de povos, a Argentina conseguiu desagradar os ingleses e os moradores das Ilhas, que se sentiram enganados pelos verdadeiros propósitos da viagem dos atletas às Malvinas. E gerou questionamentos na própria agência de publicidade, em Buenos Aires e na sede, em Nova York, que divulgou uma nota, pedindo a retirada da peça: "Nos llamó la atención que nuestra agencia en la Argentina haya creado una publicidad para el gobierno argentino que ha ofendido profundamente a mucha gente en Gran Bretaña y alrededor del mundo. Condenamos fuertemente este trabajo y pedimos a los gobernantes que retiren esa pieza".

O mais surrealista na ideia maluca é que o fundador do grupo a que pertence a agência Young & Rubicam, o WPP, um conglomerado britânico gigante de empresas de comunicação, foi um nobre inglês, Sir Martin Sorrell. 

Não satisfeitos em fazer a estripulia, que pode gerar até um incidente diplomático, os autores do anúncio cometeram uma imprudência e uma afronta, ao haver utilizado para uma das tomadas de vídeo o monumento que nas Ilhas Malvinas honra os soldados ingleses, caídos na Segunda Guerra Mundial. Haja gafe. 

A reação dos ingleses não demorou. O jornal sensacionalista The Sun, do magnata Rupert Murdoch, estampou o título “Os argies (como chamam depreciativamente os argentinos) sobre nossas tumbas. Um vídeo da equipe olímpica insulta nossos mortos”. 

A sucursal da agência de publicidade, em Buenos Aires, tentou se defender da avalanche de protestos, justificando o trabalho numa nota, assinada pelo diretor local: “O anúncio de Malvinas se origina como uma mensagem para o país, para os argentinos. Não para fora. Sim, quisemos honrar a nossos ex-combatentes e dar uma mensagem que reivindique o que consideramos nossa soberania. Não quisemos ofender a ninguém. Cremos na força da publicidade, porém nunca se nos ocorreu semelhante repercussão a nível mundial. Entendemos os distintos critérios e opiniões; e agradecemos as mostras de afeto, que nos chegaram, de todas as pessoas”.

Diante a polêmica internacional suscitada pelo anúncio, a agência anunciou neste sábado que substituiu a polêmica peça por outra: "Al final del video, la dedicatoria del original argentino - "homenaje a los caídos y ex combatientes" - fue sustituida por otra: "en homenaje a quienses dieron su tiempo, y a quienses que nunca volverán a tenerlo". "Luego de la polêmica que levantó en el país y en Gran Bretaña la publicidad del Gobierno sobre los Juegos Olímpicos filmada en forma clandestina en Malvinas y del pedido formal de su retiro del aire por parte del holding de comunicación y publicidad WPP, proprietaria de la agencia de publicidad inglesa Young & Rubicam que realizó el aviso, el mismo video, apenas modificado, surgió como respuesta en las últimas horas".  

Se a agência pretendeu se justificar com a primeira nota, ou não entende de comunicação. Ou, então, buscou apoio interno para uma gafe que, naturalmente, mexe com o patriotismo e feridas ainda não cicatrizadas da Guerra das Malvinas, aventura da ditadura militar que sacrificou centenas de jovens argentinos. Mas, naturalmente, jamais iria ficar limitada à divulgação e escrutínio apenas nos limites das fronteiras da Argentina.

A provocação dos argentinos

Statement from Y&R

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Argentinos substituem peça polêmica por outra versão

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