Sienna_miller_perseguida_pelo_nofthewUm ano para ninguém botar defeito. 2011 conseguiu superar 1989 pelas profundas mudanças ocorridas no mundo. Verdadeiros muros de despotismo, privação da liberdade, corrupção e silêncio foram quebrados. Pelo menos em vários países árabes.

A agitação e agressividade dos jovens, que ocuparam ruas na América, Europa e Ásia lembraram as barricadas e passeatas de 1968. O corte de benefícios conquistados sob a bandeira do bem-estar social dos regimes social-democratas das grandes potências e a falta de respostas às aspirações da maioria foram as senhas para a juventude se articular em redes sociais.

  • Los años son como los seres humanos: hay muchos anodinos y grises y solo unos pocos consiguen permanecer en las memorias. Este que ahora termina ha hecho todos los méritos para conseguir el recuerdo, con tanto o incluso mayor merecimiento que el que le precedió en envergadura, que fue 1989, el año de la caída del muro de Berlín y punto final al mundo bipolar y a la guerra fria”. (Jornalista Lluís Bassets, ao analisar os acontecimentos de 2011 para o jornal El País, dePhotograph: Lefteris Pitarakis/AP Madrid).

 A Inglaterra nunca havia visto nas ruas tanta violência como aconteceu em 2011. Jovens da periferia de Londres, muitos de classe média, incendiaram prédios, depredaram e invadiram lojas e entraram em confronto com a polícia.

A morte de Bin Laden, o terrorista mais procurado pelo mundo ocidental, não ajudou Obama, com todo seu carisma, a resolver a crise dos Estados Unidos. Os americanos continuam patinando com crescimento insuficiente, um enorme déficit e incapacidade de gerar empregos. A direita não dá descanso ao presidente americano, num Congresso onde os Republicanos têm maioria. O pior dos mundos.  

Pela primeira vez, em muitos anos, emergiu dos desvãos das cidades a pobreza e a miséria da população americana para as manchetes da mídia. Os vilões são os banqueiros, políticos, investidores e operadores de Wall Street. A crise viajou de Manhattan a Detroit, sem poupar ninguém. Não bastasse o fracasso econômico, a liderança política dos EUA também está trincada. Aliados asiáticos caíram ou estão com as barbas de molho diante da pressão popular, porque Obama não se mexeu para ajudá-los.

A cilada do terrorismo de direita

País de melhor qualidade de vida do Planeta, a Noruega, pensava estar preparada para ataques terroristas. Quem temeu Bin Laden surpreendeu-se com fogo amigo, vindo de dentro do próprio país, pelas mãos de um militante de extrema direita. O terrorismo contra o próprio branco europeu. Em dois atentados na capital, na ilha de Utoya, e no centro da cidade, um fanático mata 92 noruegueses com uma frieza impressionante, a maioria jovens entre 14 e 18 anos.

A Noruega expôs a fragilidade e o despreparo para enfrentar uma crise interna, confirmando uma evidência do processo de gestão de crises de que 80% delas têm origem dentro das organizações ou países. Esse xenofobismo surpreendente tomou outras dimensões na Europa. Manifestou-se em ataques a imigrantes e na rejeição a levas de migrantes fugitivos do caos em seus próprios países. Sob qualquer ângulo que se analise, o atentado da Noruega contrariou a lógica das crises.

Nestes 12 meses,  se acumularam tantos acontecimentos como em 12 anos, diz Lluís Blastier. Por trás dessa velocidade, a tecnologia atual das redes sociais e dos apetrechos eletrônicos, que transformam o mundo numa aldeia global conectada 24 horas. Certamente grande parte do êxito dos movimentos sociais deve-se às redes, sobretudo Twitter e Facebook.

As redes ajudaram os movimentos sociais e protestos a tomar dimensão internacional e funcionaram como um viral fulminante nos ditadores. Mas elas servem também para expor cada vez mais a privacidade de pessoas, organizações, autoridades e governos. Foi o ano do WikiLeaks. Muito barulho no início do ano e um silêncio preocupante depois, até porque o fundador submergiu, processado na Inglaterra, com acusação de assédio sexual, na Suíça.

Mas o WikiLeaks decretou o fim do sigilo e exacerbou crises, expondo bastidores de poder que os governantes gostariam que caíssem no esquecimento. Algumas descobertas criaram casos diplomáticos. “O mundo de 2011 é especialmente reação à intermediação em qualquer atividade, política, econômica ou cultural. Os efeitos eletrônicos sobre as opiniões públicas e as novas gerações, os nativos digitais, antes de tudo, são fulminantes”, diz Lluís Bassets.  Mas a tecnologia, como diz o jornalista, nunca foi neutra. Pode servir para fazer revoluções e para sufocá-las; para melhorar a democracia ou para liquidá-la.

Crises de reputação

As crises pessoais de pessoas públicas também fizeram estragos em 2011. Durante várias semanas, a história do ex-Diretor-Geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que teria estuprado uma camareira em hotel de luxo de Nova York, ocupou as manchetes internacionais. Possível candidato para suceder Nicolas Sarkozy, nas próximas eleições presidenciais, Strauss-Kahn viu ruir, com a cobertura pouco isenta da mídia americana, seu presente de banqueiro e o futuro de político. Demitido do FMI, empenhou-se em provar sua inocência. Pelo menos as investigações o absolveram, ao colocar em dúvida o depoimento, pouco convincente, e a idoneidade da camareira. O escândalo pareceu mais uma operação tabajara.

O calvário de Strauss-Kahn perseguiu outros políticos pelo mundo. O deputado democrata Anthony Wiener teve que renunciar, ao postar a própria foto, de cuecas, no Twitter.  Não aguentou a pressão.  O mesmo aconteceu com o ex-porta-voz de David Cameron, Andy Coulson, envolvido, como de resto toda a família Murdoch, no maior escândalo da mídia dos últimos anos: a indústria de grampos do jornal News of the World.

Nem a mídia escapou

Desde 2005 havia indícios. Mas o fato se agravou em 2011, por conta da série de reportagens, do jornal The Guardian, de que os jornais News of the World e The Sun, do poderoso magnata Rupert Murdoch, dono da News Corporation, utilizavam grampos ilegais para obter informações exclusivas. Nem o Príncipe herdeiro escapou.

Houve várias investigações nos últimos anos, que levaram pelo menos um jornalista à prisão. Mas nada superou a denúncia de que o jornal havia grampeado o celular da menina Milly Dowler, 13 anos, desaparecida em 2002 e, depois,  encontrada morta.  Durante as escutas, jornalistas teriam apagado mensagens do telefone da menina, atrapalhando as investigações. A editora e queridinha de Murdoch, Rebeka Brooks, sempre negou saber dos grampos. Agora, meses depois, a polícia de Londres diz não encontrar evidências de que isso aconteceu. Tarde demais.

murdoch_e_rebekaRupert Murdoch, ao manifestar surpresa com a descoberta do escândalo, tomou uma medida radical e corajosa:  decretou a morte do News of the World, um jornal de 168 anos. Foi a maior crise da mídia internacional dos últimos anos e até agora um tremendo constrangimento para a família Murdoch. Seu filho era diretor do grupo no Reino Unido.  Fala-se que até 4 mil pessoas teriam sido grampeadas nos últimos seis anos. Se o “News” não fosse fechado, provavelmente iria à falência pelas quantidade de ações financeiras.

O editor do jornal até 2009, Andy Coulson, foi nomeado porta-voz da campanha e depois Diretor de Comunicação do governo David Cameron. Ele demitiu-se no auge das denúncias. Até o primeiro-ministro saiu chamuscado do episódio, que ainda está longe de acabar.

indice_acidentes_aereosDe vez em quando, no meio do caos e da crise aparecem números positivos. O que foi crise em anos passados, melhorou em 2011. Relatório publicado nesta quarta-feira (28), informa que 2011 foi o ano mais seguro da aviação civil no mundo. Foi registrada uma morte em acidentes aéreos por 7,1 milhões de passageiros, o menor índice desde 1990.

Mas não faltaram emoções em 2011. Como conclui o analista do El País, “a crise galopa a cavalo das transações especulativas fulgurantes e a política anda quase em passo de formiga”.

Para os analistas internacionais, tudo indica que no apagar das luzes de 2011 terminou muito mais do que uma época. “Quiçá uma idade ou um éon geológico. O tempo que se está vendo pedia a gritos novas ideias, novas esperanças, formas distintas de fazer as coisas. Sarkozy queria refundar o capitalismo. Nada como o bom senso para não fazer nada ou para decidir a data em que decidiremos algo”, conclui Lluís Bassets.

Por força das crises que teimam em não nos abandonar,  os recuos de 2011 foram bem superiores aos avanços. Se o próximo ano, pelo menos tiver um cenário menos conturbado, poderemos ter alguma esperança de que aconteça algo.

Foto: Lefteris Pitarakis/AP - Sienna Muller - atriz, modelo e socialite americana, radicada no Reino Unido, grampeada pelo News of the World, processou o jornal.

Para entender melhor as crises de 2011

The top 10 stories from 2011 - Huffington Post

Até que ponto governos devem ter segredos

A história mal contada de Strauss-Kahn

As amargas lições da tragédia grega

Jovens vão para as ruas e assustam governos

Bolsas derretem na pior semana desde a crise de 2008

Protestos fazem Londres viver noites de horror

 

Retrospectiva dos acontecimentos mundiais 2011

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