Sala_redacao_new_york_city Ainda não há candidatos oficiais à presidência da República. As eleições só ocorrerão daqui a seis meses. Mas o debate tanto de alto quanto de baixo nível já começou. A mídia mais uma vez será o vetor natural dessa polêmica. Ela substitui os comícios em praça pública, quando os candidatos preferiam o contato direto com os eleitores e se digladiavam em debates antológicos pelo rádio, que depois repercutiam pelos jornais.

A TV ainda era uma grande novidade e não tinha nem de perto o potencial de hoje. Tempo românticos aqueles, em que os candidatos a presidente visitavam, em caravanas de trem, as capitais e as cidades do interior. Era uma festa a passagem do candidato pelos pequenos lugarejos. Não havia pesquisas eleitorais, para tirar a graça da eleição.  

Agora mudou. Além dos jatinhos, dos marqueteiros e pesquisadores regiamente pagos, a mídia passou a ser um importante termômetro para medir o desempenho dos candidatos. Só nos jornais deste fim de semana  podemos encontrar vários bate-bocas, num verdadeiro painel das ideias de cada um. Não dá ainda para chamar de debate, porque as versões são unilaterais. Eles preferem trabalhar mais na desconstrução do discurso do adversário, do que na construção do próprio discurso.

O que vimos na última semana, principalmente após a tragédia no Rio de Janeiro, foram discursos de acusações e de defesa em torno do nível das águas. No meio de muita retórica, mas pouca substância, desde o Presidente da República, governador, até prefeitos e ex-prefeitos, sobraram desculpas para o desleixo e o pouco caso com a vida de cidadãos pobres, que não têm condições de morar em regiões livres de enchentes e desmoronamentos. A discussão virou debate eleitoral. Preferiram culpar o passado do que assumir que todos erraram como governantes. Se alguém perguntasse para o governador do Rio de Janeiro, o que foi feito após a tragédia de Angra dos Reis, em janeiro, para evitar novos desmoronamentos, a resposta certamente seria: nada, absolutamente nada.

Pelas notícias da semana, a arena do embate da eleição foi armada. Dilma X Serra, o que significa PT X PSDB, de um lado. Como coadjuvantes, Lula X Justiça Eleitoral; Gilmar Mendes X Lula; Marina e Ciro contra o resto.  A mídia acabou se tornando a vitrine preferida dos políticos para expor suas idéias, com um avanço em relação às eleições passadas: agora tem a internet, as redes sociais. Especialistas até mesmo do exterior vêm dar o tom da campanha para que os candidatos possam conquistar corações e mentes dos eleitores.

Por que a mídia tem tanta importância nas campanhas políticas?  Porque, apesar de todas as tentativas de desconstruí-la, ainda é o principal meio de informar a opinião pública, principalmente os indecisos. Não bastam os atos de gestão, o passado político, os resultados para construir uma imagem. Naturalmente que o bom desempenho no mandato constitui excelente passaporte na campanha. É preciso usar técnicas de persuasão para que a opinião pública “compre” o discurso do candidato e mude ou consolide o voto. A opinião pública é muito instável. Pode mudar com facilidade. Por isso os marqueteiros têm seis meses para tentar construir um discurso, que forjará a imagem do candidato.

Para quem ainda tem dúvidas sobre o papel da mídia e sua capacidade de mudar opiniões basta lembrar dois fatos. Primeiro, o referendo sobre proibição de armas de fogo, em 2005.  As primeiras pesquisas de opinião davam 80% de vantagem para o sim, isto é, para aqueles que queriam banir de vez o comércio de armas e proibi-las no Brasil. Os partidários davam a vitória de lambuja. Após o início da campanha na TV, junto com um discurso bem construído pelos apoiadores do não, que eram contrários à proibição das armas, o resultado mudou completamente. Em poucos meses, o não, conquistou adeptos e acabou vencendo o plebiscito com mais de 80% dos votos. Os partidários do sim não conseguiram sustentar o discurso e reverter os argumentos bem fundamentados dos que aderiram ao não.

Na Espanha, quando do atentado terrorista na estação de Atocha, em Madrid, em 2004, o governo do primeiro-ministro José Maria Aznar tentou ludibriar a opinião pública, atribuindo o atentado ao grupo ETA e não a terroristas da Al Qaeda. Em poucas horas, os celulares e redes sociais desconstruíram o discurso oficial, pela falta de provas de alguma ligação com os separatistas bascos. Às vésperas de uma eleição, que questionava a presença espanhola no Iraque, a mentira do governo custou caro. Aznar perdeu a eleição para o líder da oposição José Luiz Rodriguez Zapatero. Foi o primeiro e mais rápido efeito das redes sociais numa eleição majoritária.

No Brasil, o sucesso de Lula sem dúvida se deve à sua capacidade de conversar com as massas. Embora o próprio presidente vez ou outra critique a imprensa, por não publicar aquilo que ele gostaria de ver publicado, seu sucesso se deve em grande parte ao espaço que a mídia lhe concede. A superexposição do presidente, que, ao contrário dos anteriores, discursa quase todos os dias, acaba fortalecendo a sua imagem na opinião pública, principalmente entre aqueles que são seus principais eleitores.

O poder da internet

Na eleição de 2006, o publicitário Duda Mendonça, já “queimado” por causa dos escândalos do mensalão, desdenhou do poder da internet, por causa do baixo acesso do brasileiro à rede mundial. A web não foi utilizada como instrumento forte de marketing naquela campanha, nem pelo governo, nem pela oposição.

Mas o cenário mudou. Obama foi o primeiro presidente de um país desenvolvido a utilizar a internet como um dos principais canais mercadológicos. Tanto para divulgar seu discurso, quanto para arrecadar dinheiro de campanha. Milhões de dólares jorraram dos internautas, a ponto de o candidato ter dispensado o fundo oficial de financiamento de campanha, para não ficar atrelado a determinadas regras. Ninguém tem dúvidas hoje de que a eleição de Obama se deve em grande parte ao poder da internet e das redes sociais.

Mas o Brasil ainda está longe de ter uma inserção tecnológica no nível dos EUA. Fala-se em 70 milhões de internautas. Sabemos, entretanto, que esse número é superdimensionado, mais por causa da publicidade. Menos de 40 milhões realmente utilizam a internet e poderiam ser influenciados por campanhas na rede. O acesso ao computador também limita o uso da rede. Grande parte do interior do país, principalmente nos bolsões de pobreza e regiões mais distantes dos grande centros, o acesso à internet banda larga é uma longínqua promessa

Com isso, não é ainda a internet que vai decidir eleição no Brasil. Poderá quando muito influenciar uma parcela da população que está mais ligada on line, pelo menos nas grandes cidades. A mídia em geral, principalmente a TV, junto com as revistas semanais e os jornais poderão fazer grande diferença. Não podemos esquecer que às vésperas da eleição de 2006, a revelação pela revista Veja de um dossiê contra o governador José Serra, construído por militantes ligados ao PT,  foi fator decisivo para levar a eleição para o segundo turno.

Mas, afinal, a mídia influencia o resultado da eleição? Em 2006, o então comentarista político Franklin Martins afirmou: “A mídia até influencia, mas quem decide a eleição é o eleitor”. Após o sociólogo Pierre Bourdieu ter decretado que “a opinião pública não existe”, discute-se muito hoje se realmente uma massa da população que alguns chamam de opinião pública, poderia ser influenciada pela mídia.  Há uma tendência dos pesquisadores, pessoas do marketing e mesmo candidatos de relativizar o poder da mídia. Mas não há dúvida de que uma pressão negativa da imprensa sobre um candidato poderá sensibilizar boa parte do eleitorado. Há quem desdenhe desse poder, mas poucos apostam para ver se ele é verdadeiro. Preferem não brigar com a imprensa.

No caso do Brasil, há que levar em conta também a falta de hábito de leitura da população, o que reduz os jornais e até mesmo revistas a coadjuvantes nesse processo. A mídia televisiva e o rádio têm um poder muito maior. Em muitos casos, a mídia impressa pauta a mídia eletrônica. E esta carrega a opinião pública. Outra variável que relativiza o papel da mídia é a escolaridade. Quanto mais alta, menos influência poderá ter a mídia para decidir uma eleição.

Não adianta fazer essas constatações para os candidatos. Eles sabem que devem figurar cada vez mais e melhor na mídia. Por mais que o contato pessoal angarie votos, principalmente no interior, todos os candidatos entendem que uma boa imagem, construída com ou sem o auxílio da imprensa, é decisiva para conquistar votos. Na Inglaterra, onde haverá eleições no próximo mês, nota-se uma tendência da mídia a favor do candidato conservador James Cameron. A mídia insiste que a população está cansada do partido trabalhista. Resultado: Cameron é favorito e recebe generosos espaços na mídia inglesa todos os dias. O que reforça cada vez mais sua posição. Pelo sim, pelo não, certamente José Serra, Dilma Roussef, Marina Silva e Ciro Gomes estão com um olho no eleitor e outro no que a mídia repercute. Eles sabem que nenhum candidato, nem no tempo de Getúlio, ganhou eleição brigando com os meios de comunicação.

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