Japao tsunami 2011Neste 11 de março, completam-se dez anos da tríplice tragédia do Japão: terremoto, tsunami e explosão de reatores da Usina nuclear de Fukushima. É considerado um dos maiores desastres naturais da história, porque a tragédia natural foi combinada com o acidente nuclear, que levou à explosão de reatores da usina nuclear, seguida da evacuação da região, e a prejuízos incalculáveis. A extensão e o custo da tragédia se devem mais às consequências da explosão do reatores em Fukushima, do que propriamente às dos fenômenos naturais.  

O terremoto e o tsunami varreram longa extensão do litoral japonês. Estima-se que o número de vítimas situa-se de 15 a 20 mil pessoas, entre mortos e desaparecidos. Os efeitos do vazamento nuclear, com a explosão dos reatores da Usina de Fukushima, perduram até hoje e milhares de pessoas que saíram da região nunca mais voltaram. Cerca de 300 mil pessoas foram retiradas da região e pelo menos 100 mil nunca mais retornaram ao lugar de origem, o que implicou um custo mais elevado para o governo japonês e um enorme problema social. 

O acidente que se seguiu ao tsunami mexeu não apenas com a política energética do Japão. Outros países, como a Alemanha, a partir desse desastre, tiveram a concentração em energia nuclear questionada, pelos altos investimentos em usinas, colocadas, a partir de 2011, sob suspeita de serem perigosas. Isso fez a Alemanha recuar em outros projetos, o que perdura até hoje, dez anos depois. No Japão, que tinha sua base energética na energia nuclear, o acidente foi um retrocesso imensurável. Mais de 50 usinas paradas. A retomada foi lenta e difícil, pelas reações populares e políticas.

Para completar melhor este artigo, reproduzimos parte do Capítulo 7 do livro “Gestão de Crises e Comunicação – O que Gestores e profissionais de Comunicação precisam saber sobre Crises Corporativas” (1), sobre Prevenção, que vai ajudar a entender qual foi o erro de gestão que aconteceu no Japão, que levou a essa tragédia, na Usina. Dois relatórios independentes, encomendados pelo governo japonês, chegaram à mesma conclusão.

Os culpados de Fukushima

Quem disse que desastres naturais são inevitáveis e muito difíceis de prever? A tragédia do Japão, ocorrida em março de 2011, poderia ser prevista e evitada? Quanto ao acidente na Usina Nuclear de Fukushima, sim, a julgar pelos relatórios feitos por entidades independentes, divulgados em julho de 2012. 

Um dos relatórios considerou que a Tokyo Electric Power – Tepco, administradora da central nuclear de Fukushima, e o governo do Japão “ignoraram os riscos e confiaram demasiado nas medidas de segurança da planta nuclear para fazer frente a um tsunami como o que provocou o acidente de março de 2011”.

Segundo o documento, a empresa tinha uma capacidade “fraca” para responder a uma crise como a que ocorreu, porque seus empregados não haviam sido treinados.

 “A empresa e os órgãos reguladores estavam demasiado confiantes e consideraram que acontecimentos piores do que os incluídos em suas estimativas não sucederiam, e não foram conscientes de que as medidas para evitar o pior dos cenários apresentavam muitas falhas”, segundo o relatório de 450 páginas da Comissão.

 “Os dois, o governo e as empresas, devem estabelecer uma nova filosofia sobre a prevenção de desastres naturais, independentemente da probabilidade de que eles ocorram”, conclui o relatório. O documento, com as conclusões finais do comitê criado pelo governo para investigar a catástrofe de Fukushima, foi publicado 18 dias após outro informe, assinado por um painel de especialistas convocado pelo Parlamento do Japão, considerando também que o desastre “poderia ter sido evitado” se as autoridades reguladoras e a empresa Tepco tivessem adotado as normas de segurança internacionais.

Fukushima disaster 2011Esse relatório do Parlamento foi considerado “demolidor” para a atuação do governo e da Tepco nessa crise. O documento chegou a afirmar que a empresa responsável pela usina de Fukushima “manipulou seu relacionamento próximo com os reguladores para deixar os agentes fora da regulação”. E detalha como os reguladores intencionalmente interromperam ou retardaram tentativas da Tepco de cumprir códigos de segurança. “Como é possível que o acidente de Fukushima tenha ocorrido em um país da tradição e excelência em tecnologia como o Japão?”, pergunta o Relatório.

Também denuncia a Tepco por ter usado o tsunami como bode expiatório, alegando que um grande tsunami foi um evento inteiramente previsível, cujo impacto potencial foi ignorado no interesse de lucros potenciais. Como se isso não fosse suficiente, o relatório também critica a gestão da crise pelo governo japonês, afirmando que a intromissão do gabinete do Primeiro Ministro foi diretamente responsável por acrescentar ainda mais confusão em torno da crise.

O relatório sobre os erros na tragédia foi muito duro para os responsáveis. Os órgãos reguladores estariam empenhados em manter intacto o mito de segurança nuclear, antes do acidente. O documento salienta que a Agência de Segurança Nuclear se opôs firmemente em 2006 a implementar um plano para reforçar a preparação ante um possível desastre nuclear, por temor de que a população fosse se assustar e colocar em dúvida a segurança das instalações atômicas do Japão. Pecou por omissão, portanto.

O custo da omissão

Japao destruicao tshunamiA tragédia do Japão já se tornou o desastre natural mais caro da história. Avalia-se que os gastos totais passarão de 350 bilhões de dólares. Só o acidente na usina de Fukushima obrigou o país a paralisar 52 usinas nucleares, com um custo industrial e operacional incalculável. Quatro usinas tiveram que ser reabertas no verão de 2012, apesar da pressão popular contrária, pela falta de energia suficiente para dar conta do consumo.

Não bastasse isso, o custo social com o deslocamento e instalação de milhares de famílias, mais o isolamento de uma área de 30 km, ao redor da planta, causam enormes prejuízos à agricultura, indústria e comércio locais. O relatório também culpa o governo. Considera que as autoridades poderiam ter reduzido a exposição às emissões radioativas das pessoas que viviam nas proximidades de Fukushima, se tivessem utilizado eficazmente um sistema informatizado de alerta para prever a propagação dos elementos de contaminação. Isso só foi feito após o acidente na usina nuclear.

A tragédia do Japão vai deixar marcas por muitos anos, principalmente nas 100 mil famílias que tiveram que abandonar as residências e cidades, em função da onda radioativa. Mas a crise está longe de acabar. O documento de 450 páginas determina ao Estado aprofundar as investigações sobre o acidente, porque muitos pontos ainda não foram esclarecidos.

Lições a tirar dessa crise: o país sempre considerado o mais preparado para acidentes naturais falhou no momento crucial. Talvez pela autoconfiança. Por mais que os especialistas em gestão de crises indiquem a prevenção como ponto capital em qualquer programa de gestão, o descuido dos dirigentes da empresa Tepco, somado à falta de fiscalização, e os erros de gerenciamento do próprio governo, deixarão marcas na economia e na população japonesa por muitos anos.

Alguns desastres naturais podem ser difíceis de prever. Mas, quando, após a apuração dos culpados pela tragédia, fica evidente a sucessão de falhas apontadas por dois relatórios independentes, podemos inferir que a falha humana, relaxando nos procedimentos de segurança e não levando em conta mecanismos e alertas para evitar a extensão da catástrofe, contribuiu bastante para essa dimensão.

A tríplice tragédia do Japão deixou vários ensinamentos sobre gestão de crises, como vimos no capítulo do livro reproduzido acima. É importante registrar que duas usinas que ficavam próximas a Fukushima Daiichi, no litoral japonês, não sofreram qualquer tipo de interferência ou apenas pequena inundação, por causa do tsunami, que não comprometeu as instalações.

As ondas gigantes chegaram nessas usinas? Sim. Com a mesma intensidade que atingiu a unidade de Fukushima Daiiichi, que sofreu a explosão. Foram as Usinas Fukushima Daini (13 km ao sul) e a Usina de Onagawa (60 km ao Norte). Esta chegou a sofrer com o vazamento de água das piscinas de combustíveis. Era administrada pelo Tohoku Electric Power Company e teve a ameaça de crise contida pela experiência e preparo dos funcionários, principalmente em relação à preservação da vida das pessoas e a impactos ao meio ambiente. Pouco ou nada se ouviu falar dessas duas usinas, após a tragédia.

E por que não foram atingidas? As duas usinas tinham recebido – assim como a do acidente – um relatório do governo, de 2008, que alertava sobre como os acidentes naturais estavam se tornando mais violentos, destruidores e caros, no futuro. Os dirigentes de Fukushima também receberam essas recomendações, mas foram displicentes em adotar as medidas de prevenção e risco recomendadas pelo governo. O relatório ficou na gaveta e nada foi feito. Daí porque os relatórios das auditorias foram contundentes em acusar a gestão da empresa de ter sido negligente e, pela omissão, permitido que essa grave crise acontecesse. Naturalmente, que todos eles foram demitidos. O escândalo foi tão grande, pelas consequências humanas e econômicas, que ao longo da apuração até o Primeiro Ministro do Japão caiu.

(1) “Gestão de Crises e Comunicação – O que Gestores e profissionais de Comunicação precisam saber sobre Crises Corporativas” (Editora Atlas, 2019, 3ª edição). João José Forni. (Disponível nas principais livrarias online ou por solicitação no Contato deste site).

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