Internet__boa_foto_para_siteDia 14 de janeiro, 3h22. O Blog do Noblat dá uma pequena nota com o título Prisão do bispo Edir Macedo foi expedida. A Rede Record  na tarde do mesmo dia desmente a notícia. Ainda no dia 14, às 16h09, o Blog registra o desmentido: “Processo contra Edir Macedo foi arquivado”, seguido do comunicado da assessoria da Record.

“A direção da Record tomou conhecimento da notícia publicada hoje pelo seu Blog “Prisão do bispo Macedo foi expedida”, fato que não confere com a realidade. É importante esclarecer que os autos processuais foram arquivados e tanto o acionista Edir Macedo como os demais diretores foram absolvidos da acusação”. ”Eu recebi essa informação e publiquei, mas era uma informação antiga”, disse o jornalista.

Além dos desmentidos, tanto da Record quanto do Blog, terem sido demorados para a velocidade do mundo on line, no jargão da imprensa, o que ocorreu foi uma “barriga”, erro jornalístico, com publicação de fato que não houve, mesmo que sem intenção de enganar o leitor.

Risco muito maior hoje, quando aumenta a disputa pelo furo nos veículos em tempo real. A busca pelo furo e a competitividade de blogs e agências on line reduziram os filtros que poderiam evitar erros desse porte. Os jornalistas blogueiros, na correria para sair na frente, estão cada vez sujeitos a escorregadas semelhantes.

A informação chega, não dá tempo de grandes apurações, é processada e em poucos minutos já está no ar. Com todas as consequências que daí possam vir.

A nota publicada no Blog do Noblat de madrugada repercutiu em outros sites, porque eles também se copiam. Muitos procuram checar a informação, antes de reproduzir, mas, na ânsia de sair na frente, no processo atual nem sempre isso ocorre. Já existe até um folclore em torno dessas  “barrigas”, muito mais comuns na imprensa do que o leitor imagina.

A ressurreição de ACM

Barriga semelhante, mas pior, ocorreu em 29/07/07, quando o jornalista Jorge Bastos Moreno, das organizações Globo, divulgou a morte de Antonio Carlos Magalhães
às 02h02. Nesse momento, ele estava em estado grave no hospital, em São Paulo. O Globo Online também confirmou a morte às 02h22, sem citar como fonte da notícia, a rádio Moreno.

Às 3h17, o mesmo Globo Online ressuscita ACM, dizendo que ele fora vítima de parada cardíaca e foi reanimado, atribuindo a notícia, agora, ao Blog do Moreno. Às 5h a rádio CBN noticiou que estado de ACM era grave.  O fato é que a morte de ACM só foi anunciada às 11h da manhã do dia 20/07. Especulou-se até que teriam “segurado” a notícia da morte para a manhã do dia 20, fato nunca confirmado. Até porque o falecimento do ex-senador ocorreu alguns dias depois do maior acidente aéreo do Brasil, com o avião da TAM, em Congonhas.

Nem todo mundo caiu no erro do Moreno. Outros blogs e agências de notícias on line certamente preferiram checar e, diante da não confirmação, evitaram apostar no “furo” do Moreno. Noblat foi um deles, checou com o governador da Bahia, com fontes no hospital, não teve confirmação e por isso esperou e não embarcou na “barriga”. Correu o risco de ter saído atrás dos outros com a informação, mas safou-se dessa.

Jornal anuncia concordata de empresa. A notícia era de seis anos atrás

No pregão do dia 8/09/08, nos Estados Unidos, em questão de minutos as ações da UAL Corporation, controladora da United Airlines, caíram 75%, em apenas meia hora, fazendo a bolsa Nasdaq suspender os negócios da empresa. A causa de tamanho estrago estava no Chicago Tribune  que repercutiu notícia postada no site do South Florida Sun-Sentinel no domingo.

Não um simples errinho. O site do jornal publicou equivocadamente notícia de seis anos atrás, sobre a concordata do grupo UAL Corporation, anunciada em 2002. Depois de correr o mundo, o erro foi descoberto por um funcionário da Income Securities Advisor (ISA), que a reenviou aos clientes de sua firma e às páginas da Bloomberg. Só que o estrago já estava feito.

A Tribune Company, empresa que edita os dois jornais, precisou se retratar da estúpida “barriga” cometida pelo South Florida. Consequência: os acionistas da United perderam centenas de milhares de dólares nas Bolsas, antes que o rumor fosse desmentido. As ações despencaram em pouco tempo de US$ 12,45 para US$ 3,00. Deve ter sobrado para alguém nessa barriga que custou muito caro.

Globo News derruba avião em SP

Em 20/05/08, a Globo News colocou no ar imagens de um incêndio em São Paulo. Renato Machado dizia no ar que um avião tinha saído de Congonhas e caído nas proximidades do aeroporto. “Foi na zona sul da capital paulista. Ainda não se sabe se há vítimas, fora a tripulação. A queda foi próxima do aeroporto de Congonhas. O bairro atingido pelo avião se chama Campo Belo. Três carros de bombeiros estão se dirigindo para o local. Não se sabe se apenas um prédio foi atingido”.

Durante alguns minutos, até que tudo se esclarecesse, a notícia gerou pânico em quem ainda não havia esquecido a tragédia com o avião da TAM, de 2007.

Foi o bastante para uma uma sucessão de sites noticiosos, incluindo o Blog de Noblat, e canais de TV repercutirem a notícia. Em questão de minutos, a suposta queda do avião da Pantanal virou manchete dos principais portais de notícias do país, com repercussões no exterior.

A pressa fez a Globo News entender como queda de um avião, um pequeno incêndio numa fábrica de colchão em São Paulo. As imagens ficaram vários minutos no ar. A tragédia, no caso, foi da Globo News e não com um avião.

Bloomberg publica obituário antes da morte

Pelo jeito, a mídia eletrônica tem que ficar mais esperta. Foi assim também que em 27/08/08 a Agência Bloomberg  colocou no ar por alguns minutos o rascunho do necrológio do fundador da Apple, Steve Jobs. O texto, capturado pelo site gawker.com, trazia até alguns depoimentos de personalidades famosas sobre o empresário.

Esse obituário provavelmente estava no arquivo, o que é muito comum, porque Jobs teve câncer há alguns anos e até hoje se recupera. A diferença é que Jobs está vivo e naqueles dias estava lançando mais um modelo do iPod. Ele levou na esportiva a escorregada da Bloomberg, ao lançar o iPod Nano mais fino, em 9 de setembro.

Naturalmente, a agência Bloomberg se desculpou, mas esse é o tipo de erro difícil de explicar e, digamos, extremamente constrangedor. O folclore das “barrigas” conta que o famoso escritor americano Mark Twain também teve seu necrológio publicado, quando estava bem vivinho. Ele não perdeu a esportiva.  Teria declarado com bom humor: “As notícias de minha morte estão decisivamente exageradas”...

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