O governo está pagando o alto preço de ter abusado de errar nos últimos anos. A decisão do TCU de admitir por unanimidade que a gestão Dilma cometeu “crime de responsabilidade fiscal”, ao utilizar recursos de bancos públicos para inflar resultados das contas da União, é o desfecho de uma sucessão de tropeços da equipe econômica, pelo menos até o fim de 2014.

Banco público não pode emprestar dinheiro para o governo. No entendimento do TCU, ao não pagar o BB, Caixa e outros bancos públicos, o governo deu calote e se autofinanciou, o que é proibido. A AGU começou uma “blitzkrieg”, em defesa das famosas “pedaladas fiscais”.

Nos próximos dias, o país irá assistir dois duelos que não contribuem para melhorar as relações institucionais nem para desanuviar o ambiente político do país: primeiro, a Procuradoria Geral da República intervindo na agenda de oitivas da Polícia Federal, dos réus da Lava Jato, sob o argumento de que precisa "melhorar a organização da estratégia". Familiarizados com as filigranas jurídicas, talvez tenham entendido. A PF reagiu. Divergências entre procuradores da República e policiais federais envolvidos na Operação Lava Jato estão impedindo o avanço no núcleo das investigações referente ao envolvimento de políticos suspeitos de participação no esquema de corrupção descoberto na Petrobras.

Na outra ponta, o governo tenta se defender da condenação pública feita pelo TCU. Mas não fica bem para um ministro da Justiça comparecer, junto com o Advogado Geral da União, a um púlpito para defender o governo com ares de militante, fazendo alusão à ameaça do "impeachment", apenas uma miragem ou uma especulação jurídica da oposição e não uma ameaça real. Ministros devem estar sempre acima das paixões partidárias e não devem sair correndo para defender o governo a qualquer ataque da oposição. Pelo menos é assim que eles atuam em repúblicas sérias. Enquanto isso, todos esperam o governo Dilma começar.

O governo que prometeu céu de brigadeiro na campanha política e voa desde o dia 1º de janeiro com alta turbulência, pagou para ver. Abusou de cometer erros, como, por exemplo, tentar dar uma encorpada na combalida economia com desonerações fiscais de bilhões de reais. A medida, agora, pelo menos no setor automotor, mostrou-se inócua. As montadoras estão com os pátios abarrotados de carros e não relutam em dispensar empregados para ajustar os estoques à realidade do mercado. É de se perguntar: para que serviram as desonerações?

Dilma chega aos emblemáticos 100 dias de gestão sem ter nada de positivo a apresentar ao país. Perdido numa teia de crises - política, econômica e até institucional –  sem ter sequer ajustado a megaequipe de 39 ministérios, o governo tenta encontrar uma luz no fim do túnel. Por mais escuro que ele pareça ou por mais fundo que o buraco aparente ser, ainda se ouvem batidas do fundo do poço. Importa saber se o Palácio do Planalto, acossado por ataques do Congresso, da oposição e no meio de um escândalo financeiro de proporções internacionais, terá ouvidos para ouvir o que ecoa na escuridão. Como diz o jornalista Ezra Klein, do Washington Post: pode dar errado? Vai dar.

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