Petrobras Sede fotoO Brasil é um país surreal, realmente. Possui uma das maiores petroleiras do mercado de petróleo (chegou a ser a quarta maior empresa do mundo, em 2010)* e quem tenta destruir a empresa não são os concorrentes ou estrangeiros. São os próprios brasileiros de colarinho branco.

Se não,  vejamos. Esta semana ficamos sabendo que deputados do PT impetraram uma ação popular contra o ex-juiz Sérgio Moro, cobrando indenização pela conduta do magistrado na extinta Operação Lava Jato. Mas o mais surreal de tudo isso é que o destaque nessa ação são os “prejuízos” que Moro teria causado à Petrobras, durante a apuração de irregularidades na companhia, a partir de 2014, no governo do PT, portanto.

Segundo o jornalista Merval Pereira, "para os autores da ação popular, a atuação do então juiz prejudicou não apenas a economia do país, mas também a vida dos trabalhadores da estatal e de outras subsidiárias, como a Braskem. O interessante é que não se viu, à época em que os crimes cometidos na Petrobras foram revelados, nenhuma marcha sindicalista protestando contra o assalto à empresa."

Todo o mundo ficou sabendo o verdadeiro “saque” perpetrado por diretores e gerentes da Petrobras, durante o período em que a estatal esteve sob o comando de Sérgio Gabrielle, quando Lula e Dilma foram presidentes. O uso da empresa, para interesses privados e excusos, que durou anos, começou a ser desmontado exatamente quando Sérgio Moro comandou a chamada Operação Lava Jato, que levou quatro ex-diretores da empresa para a prisão. Fora outras pessoas, como gerentes, envolvidos nas irregularidades. Só em devolução de recursos desviados, a Operação Lava Jato entregou à Petrobras mais de R$ 6 bilhões.

Em 2014, o ex-gerente-executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco, fechou acordo de delação premiada em que se comprometeu a devolver cerca de US$ 100 milhões (R$ 500 milhões). Estamos falando de um único funcionário. Ao final da apuração, Para ter noção da situação surreal, Barusco devolveu à Petrobras R$ 182 milhões desviados no esquema montado pelo governo petista. Somente neste site, mais de 15 artigos foram feitos sobre os mais diferentes ângulos da grave crise da Petrobras (basta citar o nome da empresa no "busca no site). Um dos 'cases" citados também em livro**, aborda a crise da Petrobras.

Petrobras o mergulho do valor de mercadoSe a empresa tinha sete diretores e pelo menos quatro deles foram presos, poderia se chamar esse grupo de “diretoria”? E o que faziam a Auditoria, o Complaince a a Controladoria da estatal, enquanto os desvios e negócios malfeitos se sucederam. O que fazia o Conselho de Administração da companhia? Basta citar dois megaprojetos, que sangraram a Petrobras e não foram adiante, depois de consumirem bilhões de reais: a construção de uma refinaria em Pernambuco, até mesmo se cogitando uma parceria com Hugo Chávez, da Venezuela (eles que que praticamente quebraram a petroleira de lá, a PDVSA) e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o malfado Comperj, onde foram investidos mais de R$ 8 bilhões e até hoje não ficou pronto. Em 2015, calculava-se que a aventura do Comperj poderia dar um prejuízo de R$ 45 bilhões à Petrobras.

Em 2017, no projeto de resgate da imagem e das finanças da empresa, na gestão Pedro Parente, foi criado o cargo de diretor adjunto de governança e conformidade. “A medida é mais um avanço no sistema de governança da companhia dado que o diretor adjunto concentrará seu foco de atuação em ações internas, especialmente aquelas ligadas a demandas de controles internos, governança corporativa e governança societária, assim como prevenção e investigação", informou a estatal, em nota, na época. Ou seja, a própria empresa – ou a nova administração -  reconhecia falha nos seus controles.

Mover uma ação contra Sérgio Moro por eventuais “prejuízos” à Petrobras, patrocinada por deputados do partido que indicava os diretores e quase quebraram a estatal, soa trágico se não fosse cômico também. O Brasil, desde 2014 se acostumou a ver desfilarem nos telejornais diários vários executivos da Petrobras que se sucediam em audiências públicas, delações, prisões, liberações, e novas prisões. Tudo isso ao vivo. E quem mandava na Petrobras nessa época era a toda poderosa presidente do Brasil, Dilma Roussef, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em 2018, o juiz Sergio Moro, em entrevista, dizia que a Lava Jato já tinha investiado 40 empregados da Petrobras.

Somente no Governo Temer, quando Pedro Parente e Ivan Monteiro assumiram a empresa, ficamos sabendo o tamanho do rombo. Num dos primeiro balanços, após a tentativa de saneamento da empresa, o prejuízo anunciado foi superior a R$ 6 bilhões. Apenas com o cartel de 24 empresas que atuou na estatal de 2004 a 2012, o Tribunal de Contas da União aprovou estudo econométrico em que foram estimados prejuízos de R$ 18 bilhões. O valor a mais em cada contratação era de 14,53%. E tudo isso aconteceu com a complacência ou a falta de controle da diretoria comandada por Sérgio Gabrielli. Até a compra de uma refinaria sucateada no Texas foi aprovada, usina essa que se tornou o símbolo roto e acabado daquela gestão conivente e incompetente.

Quando Parente chegou à Petrobras, em 2017, a empresa enfrentava prejuízos em série, dívidas bilionárias, interferência governamental nos preços de combustíveis, queda nos preços internacionais de gasolina e possuía ativos não eficientes. A empresa ainda sofria uma crise de credibilidade por estar no centro da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, segundo reportagem da revista Exame de 2018.

Em pouco tempo, a nova diretoria restabeleceu a credibilidade do mercado na Petrobras, pela forma transparente e ousada dos novos dirigentes, tentando sanear a estatal. Numa crise grave, uma das principais ações da diretoria que quer buscar o reconhecimento do mercado e recuperar a reputação da empresa, é realmente fortalecer a confiança dos investidores, acionistas e empregados. 

Troca-troca de presidentes

Petrobras livroMas o calvário da Petrobras não acabou com o programa de saneamento. Na atual gestão, desde que o preço dos combustíveis começou a incomodar o governo, o presidente da República vive batendo na companhia, por ajustar os preços pela cotação do dólar. E, com isso, qualquer soluço na economia brasileira ou internacional, acaba impactando os combustíveis no Brasil. De conflitos no Oriente médio à Guerra na Ucrânia. Pois é nesse cenário que a Petrobras se vê num dilema de troca-troca de presidentes (teve três em menos de três meses). O presidente derruba o CEO da estatal para ver se resolve o dilema do preço dos combustíveis, mas nenhum executivo que preserve sua biografia quer botar a carreira fora, bancando o que estaria totalmente errado do ponto de vista da gestão. Segurar preço de combustíveis já se mostrou um crasso erro, no passado, levando a estatal a prejuízos e a perder a capacidade de investimentos. No atual governo, já passou por lá um general e, mesmo assim, ele manteve o que as boas práticas do mercado recomendam. O que não agrada o governo, porque o resultado da política de preços é impopular e, certamente, compromete o projeto da reeleição.

A escolha da Petrobras como a bola da vez não acontece por acaso. Essa instabilidade só prejudica a imagem e reputação da empresa e, por extensão, do próprio país. Depois de anos de uma gestão política, até 2017,  leniente com os controles da empresa, que permitiu a autênticas quadrilhas assaltarem os cofres da empresa, só faltava agora esse desgaste contínuo por causa da política de preço dos combustíveis. A pior coisa que pode acontecer para a imagem de uma estatal é o mercado constatar que o controlador se intromete na gestão, tolhendo as decisões técnicas da diretoria, sob risco iminente de comprometer o futuro da empresa.

*Com os cerca de US$ 70 bilhões que a Petrobras conseguiu com o processo de capitalização,  em 2010, a petrolífera brasileira se tornou a quarta maior empresa do mundo em valor de mercado, considerando o fechamento das bolsas de valores de 23 de setembro de 2010. A Petrobras passou a valer cerca de US$ 217 bilhões, mais do que companhias como a Microsoft, o Wal-Mart e a General Electric. À frente da Petrobras estão a Exxon Mobil, com valor de mercado de US$ 311 bilhões, a PetroChina, com US$ 265 bilhões, e a Apple, com US$ 264 bilhões.

** Livro "Gestão de Crises e Comunicação - O que Gestores e Profissionais de Comunicação precisam saber para Enfrentar crises Corporativas", Atlas, 2019, 3ª edição. João José Forni. Case 11, pág. 73: O longo caminho de recuperação da Petrobras.

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