ESCOLAS Violencia 2022 EUATrês publicações ajudam gestores a enfrentar os problemas

No momento em que os Estados Unidos, em menos de seis meses este ano, tiveram mais de 200 atentados a tiros, grande parte em ambientes escolares, convém se deter sobre a gestão escolar e por que essas instituições se tornaram cenários de tantas crises, não apenas naquele país. As rápidas mudanças de costumes das novas gerações, as novas tecnologias e as cobranças cada vez mais severas ao processo educativo jogaram as escolas num caudal de problemas, onde a violência é apenas uma das faces dessa crise. Se no Brasil não temos um quadro tão grave quanto nos EUA, não significa que as crises aqui sejam menores.

Nos EUA, principalmente a partir de 1999, quando do atentado em Columbine, em que dois fanáticos estudantes, com fuzis e bombas, invadiram a Columbine High School e mataram 12 alunos e um professor, além de ferir outras 21, os atentados à bala contra clubes, casas de diversões e, principalmente, escolas, incluindo universidades, se tornaram uma das maiores feridas da nação. Nem isso, faz o Congresso americano, de viés Republicano e conservador, se sensibilizar e mobilizar para, pelo menos, limitar a facilidade de comprar armas naquele país, de longe o mais armado do mundo.

As escolas, no caso americano, parecem ter uma atração especial do 'lobo solitário'. Aquele 'psicopata', geralmente jovem, aluno ou ex-aluno, que de repente sozinho, resolve descarregar suas frustrações, escolhendo um alvo aleatórioi, matando crianças e jovens. A polícia secreta americana já criou protocolos de segurança para atentados e inúmeras empresas se especializaram em dar consultoria de crise exclusiva para escolas, por serem o alvo preferido dos fanáticos que querem chamar a atenção, quando resolvem liberar sua fúria. Em nenhum outro país do mundo, essa crise no ambiente escolar chegou a nível tão grave, como nos EUA. E esses fanáticos quase sempre conseguem driblar a polícia e consumar a tragédia, deixando inúmeras vítimas inocentes e famílias dilaceradas. Os atiradores em geral se suicidam ou são mortos pela polícia. Apenas como exemplo de que não estamos livres dessa "epidemia", em junho de 2021, numa creche em Saudades, pequena cidade de Santa Catarina, um jovem descontrolado invadiu a escola com um facão e matou três crianças e duas professoras, além de ferir outras quatro. 

UNICEF Serviço deproteção à invasão escolar 2022Mas as crises na educação não se limitam ao risco do atentado ou violência. Inúmeras outras crises (veja lista exclusiva de mapeamento de crises em escolas, no fim do artigo) podem atingir o ambiente escolar. Por isso, em boa hora nos deparamos com três Manuais, bastante completos, produzidos pelo Unicef, sobre situações ou temas que podem gerar ameaças de crise ou mesmo crises para as escolas. Atualizados em julho de 2021, com muitas informações de como se conduzir em situações de crise no ambiente escolar, esses três Guias* estão à disposição dos interessados na Internet, para download, e toda a escola deveria manter os três volumes, na Biblioteca e na administração como um Manual de Primeiro Socorros, no caso de eventos graves, que ameacem a segurança, o ambiente e a rotina da escola.  Além disso, deveriam se tornar leitura compulsória para todos os dirigentes e professores, para discussões em grupos ou nos conselhos de classe.

UNICEF Crises nas escolas 1Embora a amplitude dos três trabalhos (abaixo) não seja em forma de Manual, a leitura desse conteúdo se torna também obrigatória para gestores de escolas, universidades e qualquer tipo de organização que lide com ensino, principalmente de jovens. É uma espécie de “Vade-Mecum” com orientações sobre como gerenciar a maioria dos problemas (que podem se tornar crises) que ocorrem hoje no ambiente escolar. Não nos esqueçamos que os problemas (issues, na acepção do Crisis Management) são a antessala de muitas crises.

As publicações foram concebidas em função da crise da pandemia, que afetou a educação de forma implacável no Brasil. Se a qualidade do ensino em nosso País, reconhecidamente, não é boa (basta ver o nosso desempenho nos ranking internacionais), a pandemia da Covid-19 agravou esse quadro. Consequências: a necessidade de muitos jovens abandonarem as escolas para trabalhar e ajudar a família; a dificuldade de conexão ou linhas de acesso à Internet que permitisse assistir de forma confortável, ou pelo menos razoável, aulas online. Sem falar que os próprios professores não colaboravam muito para levar esse tipo de aula a sério. Segundo um dos Guias do Unicef (2), "4,8 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, de 9 a 17 anos, não têm acesso à Internet em casa (o equivalente a 18% dessa população), segundo dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019. (...) Muitos estudantes também não possuem equipamentos que possibilitem a conexão digital ou não podem arcar com os custos dos pacotes de dados cobrados pelas empresas de telefonia celular. O acesso a materias impressos também é um desafio."

Tivemos oportunidade de acompanhar alunos humildes, tentando assistir aulas online à tarde, no Ensino Médio. Com um celular (meio pouco confortável para aulas online) no dia letivo, apenas dois ou três professores apareciam, mesmo assim, com conexão ruim, mal dava para os alunos entender o que era explicado. Ou seja, num bom português, era um arremedo de aula, porque o aproveitamento era muito pequeno. Algo que, presume-se, foi uma constante no País, principalmente na área pública e nas regiões mais carentes. Resultado foi uma evasão escolar preocupante, além de queda na qualidade do conteúdo estudado, como se reflete agora nas pesquisas. Especialistas em educação já admitem que o resultado deletério da pandemia na educação do Brasil marcará para sempre essa geração de jovens.

Os três Guias do Unicef

UNICEF Fortalecimento psicossocialOs três compêndios do Unicef  - com a marca Educação que protege em crises e emergências - esclarecem vários pontos sobre esse problema, em particular, e dão dicas de como deveria ser a volta dos alunos à sala de aula. Contemplam uma série de outras crises que hoje se tornaram a dor de cabeça de diretores e gestores escolares: bullying, violência, consumo de drogas, roubos ou assaltos às escolas; plágio, dificuldade de acesso; distância e transporte; mobilidade; desinteresse, pela dificuldade de aprendizagem; violência urbana, violência doméstica, entre outros fatores negativos.

Outra sugestão seria esmiuçar cada Guia, isoladamente, e estimular a leitura, promovendo a seguir uma espécie de Seminário ou Workshops para discussão e entendimento melhor do conteúdo. Talvez, só assim os gestores possam valorizar melhor esse trabalho do Unicef, aproveitando para evitar o que hoje está comprometendo o sentido mais nobre da educação: formar o cidadão de amanhã, com autoestima, capacidade para fazer suas escolhas, num ambiente sadio e de oportunidades.

Foto: Robb Elementary School in Uvalde, Texas. Ivan Pierre Aguirre: The New York Times

*Tenha acesso gratuito às publicações da UNICEF

Fortalecimento psicossocial da Comunidade Escolar

Recomendações para construção coletiva de estratégias entre pro­ssionais, comunidades e estudantes

Serviços de Proteção no Enfrentamento à Exclusão Escolar (2)

Recomendações para equipes técnicas e gestoras de serviços que atuam na proteção de crianças e adolescentes

Comunidade Escolar na Resposta às Violências

Recomendações para gestores, professores e equipes da educação e dos demais serviços territoriais

CASES DE CRISE NAS ESCOLAS***

1) O Caso da Escola Base (um dos mais emblemáticos cases de crise na educação)
2) Atentados, agressões, atos terroristas, invasões com morte
3) Bullying de qualquer natureza, levando alunos à depressão/morte/suicídios
4) Greves de professores, funcionários, terceirizados
5) Morte natural ou acidental de aluno, nas dependências da escola: piscina, parquinho, ginásio, aula, etc.
6) Aluno flagrado portando arma de qualquer natureza, na escola ou redondezas
7) Atentado contra outro aluno, tanto com arma de fogo, quanto arma branca
8) Morte de aluno (criança) no transporte escolar ou em local, sob responsabilidade da escola
9) Acidente grave com feridos, graves ou não, nas dependências da escola (1)
10) Roubos de qualquer natureza, de objetos pessoais, de professores ou alunos
11) Sequestro, desaparecimento de criança sob responsabilidade da escola
12) Uma ameaça de bomba (falsa ou verdadeira)
13) Vazamento de gás de um prédio vizinho, com repercussões na escola
14) Contaminação da água (ampla ou localizada) na escola ou na cidade
15) Vazamento de vídeos de conteúdo sexual ou abusivo contra alunos ou professores, em redes sociais, “nudes”, com chantagem de alunos ou contra alunos
16) Acusação de assédio/abuso sexual pela imprensa (mesmo sem comprovação)
17) Ações por assédio moral de professor ou empregado
18) Acidente com veículo escolar, sob responsabilidade da escola
19) Contratação de ônibus, transporte escolar irregular (sem licença, etc.)
20) Escola mal classificada em exames de avaliação: Enem, OAB, MEC
21) Assalto à escola com prejuízos e ataques a instalações e equipamentos
22) Atentados violentos contra alunos, com tiros ou outro tipo de ataque
23) Agressões a alunos por fanáticos, com arma de qualquer natureza
24) Incêndio, provocado ou acidental, de prédio abrigando alunos
25) Alunos com problemas graves em casa, que afetam o comportamento na escola
26) Assédio sexual ou moral de qualquer espécie, com qualquer pessoa ligada à escola
27) Pedofilia – envolvendo professores, alunos, empregados, motoristas da escola, do transporte escolar, etc.
28) Uso de textos nos livros que pendem pra uma facção política, pregam a reforma agrária, luta de classes, discriminação de qualquer natureza, violência, exclusão, etc.
29) Suicídios (de alunos ou membro do staff da escola)
30) Severa violência: ataques de gangs, ladrões, traficantes contra empregados, professores ou alunos
31) Tráfico de drogas dentro ou nas proximidades da escola
32) Sequestro com refém na escola (invasão de quadrilha, fugitivo, etc.)
33) Incêndio ou desabamento nas dependências da escola (acidentes, provocado, ou desastre natural, como raio, etc.)
34) Uso de drogas (ou outras substâncias) por alunos dentro do estabelecimento
35) Atentado com tiros à escola, sem vítimas fatais;
36) Atentado com tiros à escola, com vítimas fatais, não importa o número
37) Falha na segurança da escola – despreparo, roubos, drogas, acesso livre, não identificação
38) Acesso da imprensa às dependências do estabelecimento (seguir protocolo estabelecido), até mesmo para assistir às aulas
39) Crise financeira: alto índice de inadimplência com prejuízo às atividades
40) Greve por causa de aumento na mensalidade
41) Demissão de professores, causando protesto de alunos ou de colegas
42) Briga de alunos que gera ação judicial de pais ou do próprio aluno
43) Morte de aluno por bala perdida dentro da escola
44) Ações por assédio moral contra alunos ou contra professores/diretores
45) Qualquer forma de violação à privacidade dos alunos (filmagens, vídeos, celulares, fotografias, etc.)**
46) Privilégio a empresas ou marcas de qualquer natureza, pra atividades da escola, nas dependências, sem a aprovação do conselho de pais
47) Ações judiciais contra o colégio por parte de pais e alunos
48) Instalações mal-conservadas, que possam representar perigo para os alunos
49) Plágio – Ocorrência de plágio com professores, pesquisadores, como administrar
50) Plágio – Ocorrência de plágio em dissertações, teses, etc. por parte de alunos
51) Orientação de professor na própria residência, que pode acabar com acusação de assédio (acusações de ambos os lados);
52) Abono da falta de aluno, ausente da aula (enquanto este praticava delitos, crimes ou poderia ser vítima de crime)
53) Invasão das dependências da escola ou da diretoria por alunos, empregados, professores, manifestantes de qualquer natureza;
54) Falta de registro da escola, de algum curso, o que poderia gerar ações na Justiça por parte dos alunos
55) Déficit/Fraude – dinheiro pago pelos pais foi usado para outras finalidades e a escola não tem caixa para suportar o ano letivo
56) Membro da escola: diretor, professor, aparecer em acusação de crise, que comprometa a própria reputação, mesmo que esse passivo não seja vinculado à imprensa
Flórida: membros da escola forjavam, falsificavam notas dos alunos para escola aparecer melhor na avaliação anual e assim obter mais verbas. Virou escândalo.
57) Universidades brasileiras acusadas de mascarar Enade, postergando notas de alunos, selecionando apenas os bons para prova (Unip, Uniesp);
58) Faculdade (Cásper Líberto) demite professor com câncer e gera crise.
59) Universidade administra a verba de um Museu (Nacional). Por falta de manutenção, de verba, o Museu pega fogo e perde o acervo. (UFRJ)
60) Incêndio no prédio do colégio, evacuação, lugares alternativos pra abrigar as vítimas, rapidez do socorro, etc.
61) Veículo da escola atropela e mata pedestre, ciclista, etc.
62) Denúncia de plágio por professor, que sofre retaliação na Justiça por parte do aluno
63) Cyberataque com comprometimento de dados sigilosos ou sem comprometimento; colapso no sistema da escola;
64) Professor ou professora acusado de ataque sexual, grave ou não, a vulnerável
65) Ataque a professores ou alunos pelas redes sociais
66) Venda ou oferecimento de diplomas, certificados ou outros documentos, que não seja pelo canal oficial da instituição
67) Fraude em evento coordenado pelo estabelecimento de ensino.

(1) Um dos mais trágicos acidentes em escolas foi o deslizamento de uma mina de carvão, em Aberfan, uma vila no sul do País de Gales, em 1966, e que rompida deixou resíduos de carvão caírem sobre uma escola primária e residências, matando 144 pessoas, sendo 116 crianças.

**No Reino Unido e outros países da Europa a privacidade cada vez mais se torna uma espécie de tabu. É proibido, por exemplom fotografias de qualquer espécie, mesmo dos pais, em escolinhas de crianças, práticas esportivas oficiais, em campeonatos, sem que sejam feitas por fotógrafo oficial, licenciado pela Federação do esporte ou pela escola. Nem os pais podem fotografar, principalmente competições coletivas.

*** © Professor João José Forni – Material de Cursos de Gestão de Riscos e Crises Corporativas ou Workshop de Gestão de Crises Corporativas (para Escolas e entidades mantenedoras).

 

 

 

 

 

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