Pegasus massive leal jul 2021Dados vazados para um consórcio de organizações de notícias sugerem que vários países usam o Pegasus, uma poderosa ferramenta de ciberespionagem, para espionar ativistas de direitos humanos, dissidentes e jornalistas, além das próprias autoridades, entre elas o presidente da França, Emmanuel Macron. O New York Times repercute hoje a notícia que foi publicada nos últimos dias por vários jornais do mundo, alguns como The Guardian, Financial Times e Washington Post que fazem parte do consórcio que apurou e denunciou os vazamentos.

Segundo o NYT, “Uma grande empresa israelense de vigilância cibernética, NSO Group, foi submetida a um rigoroso escrutínio, desde domingo, depois que uma aliança internacional de meios de comunicação informou que governos usaram seu software para atingir jornalistas, dissidentes e políticos da oposição.” O governo israelense também enfrentou pressão internacional renovada para permitir que a empresa faça negócios com regimes autoritários que usam o spyware para fins que vão muito além do objetivo declarado da empresa: alvejar terroristas e criminosos, diz o New York Times. A NSO negou veementemente as reivindicações.

NSO sede do grupo em 2019 em IsraelA NSO atraiu o escrutínio desde 2016, quando o software da empresa foi usado contra um ativista de direitos humanos nos Emirados Árabes Unidos e um jornalista no México. Desde então, o New York Times noticiou que o software foi implantado contra jornalistas, ativistas de direitos humanos e legisladores no México e na Arábia Saudita. Os novos relatórios publicados no domingo sugerem que o software da empresa foi usado contra mais pessoas em mais países do que o relatado anteriormente.

Entre outras ações, a empresa teria vendido um aplicativo de vigilância sofisticado conhecido como Pegasus que o consórcio de jornalismo disse que parece ter sido usado para tentar hackear pelo menos 37 smartphones pertencentes a jornalistas de países que incluem Azerbaijão, França, Hungria, Índia e Marrocos. Separadamente, uma pessoa familiarizada com os contratos da NSO disse ao New York Times que os sistemas da NSO foram vendidos aos governos do Azerbaijão, Bahrein, Índia, México, Marrocos, Arábia Saudita e os EUA.

Segundo o NYT, “As alegações podem aumentar as preocupações de que o governo israelense tenha sido cúmplice nos abusos da empresa, concedendo à NSO uma licença de exportação para vender software a países que o usam para suprimir ou intimidar dissidentes.” Os relatos, publicados pelo The Washington Post e uma aliança de 16 outros meios de comunicação internacionais, seguem uma reportagem recente do New York The Times de que Israel permitiu que a NSO fizesse negócios com a Arábia Saudita e a encorajou a continuar fazendo isso mesmo depois que o governo saudita foi implicado no assassinato de 2018 de um jornalista e dissidente saudita, Jamal Khashoggi.

A PBS – um serviço da TV pública dos Estados Unidos, junto com Frontline, publicaram um documentário sobre o escândalo do Pegasus, denunciando que a noiva do jornalista dissidente do governo saudita, Hatice Cengiz, foi espionada pelo Pegasus, durante muito tempo. As novas acusações aumentaram a preocupação entre os ativistas de privacidade de que nenhum usuário de smartphone - mesmo aqueles que usam softwares como WhatsApp ou Signal - está protegido dos governos e de qualquer outra pessoa com a tecnologia de vigilância cibernética certa.

Noiva de Jamal Khashoggi Hatice Centiz espionada pelo PegasusSegundo o NYT, “Os ativistas dizem que, sem acesso a comunicações sem vigilância, os jornalistas não poderão mais entrar em contato com as fontes sem medo de expô-las à retaliação do governo. E os defensores dos direitos não poderão se comunicar livremente com as vítimas de abusos cometidos pelo Estado.”

“Pare o que está fazendo e leia isso”, tuitou Edward Snowden, o denunciante que vazou grandes quantidades de informações confidenciais da Agência de Segurança Nacional em 2013. “Esse vazamento vai ser a história do ano”.

O consórcio de jornalistas vinculou a NSO a uma lista vazada de mais de 50.000 números de celulares de mais de 50 países que, segundo ele, pareciam ser alvos de vigilância propostos para os clientes da empresa. A aliança disse que a lista continha centenas de jornalistas, proprietários da mídia, líderes governamentais, políticos da oposição, dissidentes políticos, acadêmicos e defensores dos direitos humanos.

A lista foi obtida pela Anistia Internacional, a agência de direitos humanos, e a entidade Forbidden Stories, um grupo que se concentra na liberdade de expressão. Eles então compartilharam a lista com os jornalistas. O consórcio disse que os números da lista incluem os do editor do The Financial Times, Roula Khalaf; pessoas próximas ao jornalista assassinado, Jamal Khashoggi; um repórter mexicano que foi morto a tiros na rua, Cecilio Pineda Birto; e jornalistas dos veículos CNN, The Associated Press, The Wall Street Journal, Bloomberg News e The New York Times.

Segundo o NYT, em janeiro de 2020, o Sr. Hubbard publicou um relato de uma tentativa de hacking contra seu próprio telefone. O Sr. Hulio negou que o telefone do Sr. Hubbard tenha sido atacado pela Pegasus e sugeriu que ele era o alvo de um produto feito por uma empresa de tecnologia rival israelense.

Michael Slackman, editor-gerente assistente do NYT para notícias internacionais, disse: “Azam Ahmed e Ben Hubbard são jornalistas talentosos que fizeram um trabalho importante descobrindo informações que os governos não queriam que seus cidadãos soubessem. A pesquisa (ou monitoramento) de repórteres visa intimidar não apenas esses jornalistas, mas também suas fontes, que devem ser motivo de preocupação para todos”.

O artigo do NYT acrescenta ainda que “Com Nicole Perlroth, o Sr. Ahmed ajudou a liderar a reportagem do Times sobre como o governo mexicano usou o aplicativo Pegasus contra alguns dos jornalistas mais proeminentes do país, defensores da democracia, combatentes da corrupção e advogados - e mais tarde contra investigadores internacionais trazidos ao país para investigar o trágico desaparecimento de dezenas de estudantes, bem como parentes do próprio círculo íntimo do governo mexicano, depois que eles começaram a desafiar a corrupção governamental. Tomás Zerón, que dirigia o F.B.I. do México, e esteve envolvido na compra de sistemas de espionagem para o país, agora é procurado no México por delitos relacionados à investigação e encontrou refúgio em Israel.”

Macron vigiado por software israelense 2021O NYT também noticiou que Pegasus foi implantado no México em 2017 contra legisladores e ativistas de nutrição que pressionavam por um imposto sobre refrigerantes em um país com sérios problemas de saúde relacionados ao consumo de refrigerantes, bem como contra adversários políticos de altos funcionários dos Emirados.

O Spyware do Pegasus também estaria por trás da descoberta do paradeiro, após a fuga, da princesa Latifa, filha do xeique Mohammed bin Rashid al-Maktoum, um dos governantes de Dubai. Ela fugiu após acusar o pai de prisão e tortura. Ao usar redes sociais para se contectar com a família e amigos, a princesa possibilitou que seu telefone, muito provavelmente, caísse nas redes de vigilância do sistema Pegasus, que provavelmente tinha sido contratado pelo governo de seu país. A história ds tentativas de fuga da princesa, até hoje mal explicadas por ambos os lados, acabaram se tornando um enredo apropriado para novelas ou histórias de intrigas palacianas.

Analistas da Anistia Internacional analisaram 67 smartphones associados a números em sua lista vazada e concluíram que 24 haviam sido infectados pelo Pegasus e que mais 13 haviam sido alvejados. Os testes nos 30 restantes foram inconclusivos, disse o consórcio. Dois dos telefones visados pertenciam a Szabolcs Panyi e Andras Szabo, repórteres investigativos na Hungria que cobrem regularmente corrupção governamental. Outro pertencia a Hatice Cengiz, noiva do Sr. Khashoggi, cujo telefone foi invadido dias após seu assassinato. (Veja documentário citado abaixo).

O Pegasus pode permitir que espiões obtenham acesso à memória de um telefone infectado e vejam fotos, vídeos, e-mails e textos, mesmo em aplicativos que oferecem comunicação criptografada. O software também pode permitir que espiões gravem conversas feitas em ou perto de um telefone, usem suas câmeras e localizem o paradeiro de seus usuários.

Fotos: NYT: Corinna Kerr - NSO Group in Herzliya, Israel, in 2019.

Nicholas Kamm/Agence France-Presse - Hatice Cengiz, noiva do jornalista assassinado Jamal Khashoggi, espionada.

Emmanuel Macron: ilustração do The Guardian.

Outras noticias sobre o tema

Documentário da PBSFrontline

The Pegasus Project

A série de reportagens do jornal The Guardian

The Pegasus Projetct Part 1 – An invitation to Paris

The Pegasus Project Part 2 – cat and mouse

The Pegasus Project Part 3 – cartels, corruption and cyber-weapons

Pegasus project sparks clamour for investigations into use of NSO spyware

Revealed: leak uncovers global abuse of cyber-surveillance weapon

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