Samarco rompimento fotoUma das controladoras da Samarco, mineradora que teve duas barragens de resíduos rompidas na última sexta-feira, a australiana BHP Billiton, que detém 50% do capital da joint venture, (os outros 50% são da brasileira Vale), já precificou o custo da crise com a tragédia de Mariana, apenas de seu lado: US$ 1 bilhão. Quem avaliou foram analistas do Deutsche Bank. Esse valor para a BHP seria a conta dos passivos de limpeza do meio ambiente, indenizações a parentes dos mortos e às pessoas atingidas pelo rompimento. Além de todo o prejuízo causado às cidades por onde os resíduos irão chegar.

O preço das ações da BHP, a maior mineradora do mundo, criada no século XIX, caiu 2,32% na segunda-feira. O Deutsche Bank também avalia que a mineradora Samarco só terá condições de operar em 2019. As informações foram publicadas na edição de hoje do jornal britânico The Times. As ações da Vale também caíram nos primeiros dias, em torno de 9%.

"Se eles fossem reiniciar, eles teriam que reconstruir uma barragem de rejeitos e eu acho que para fazer isso o licenciamento levaria mais de um ano", diz o analista de investimentos do Deutsche Bank, Paul Young, à Bloomberg. "O prédio também levaria mais de um ano." Ou seja, essa crise não irá acabar com rapidez. Irá durar anos.

O presidente da BHP, Andrew Mackenzie, falou com a imprensa e divulgou nota de pesar pelo acidente. E embarcou para o Brasil. Mas até agora não vimos nenhuma atitude mais efetiva do presidente da Vale, Murilo Ferreira, que apenas soltou uma nota, na sexta-feira. O governo brasileiro, envolvido em inúmeras crises, a maioria criada por ele mesmo, também tem sido pouco efetivo no episódio. Onde estão os ministros das Minas e Energia e do Meio Ambiente? E a presidente Dilma, que continua entregando casas de um programa habitacional que não tem mais recursos? A crise de Minas Gerais, a seca no Nordeste, as chuvas no Sul não são crises também graves?

Até agora o governo de Minas e o Ministério Público é que estão à frente das ações. O MP suspendeu as atividades da mineradora, diante da gravidade do ocorrido. Não há como consertar a maior parte do desastre ecológico que atinge os rios e a vegetação da região pelo menos nos próximos anos. Muito menos a vida das 200 famílias que moravam no distrito de Bento Rodrigues.

Até a tarde desta terça-feira, já são quarto mortos reconhecidos e 22 desaparecidos. Segundo a jornalista Miriam Leitão, na coluna de hoje em O Globo, “a atividade mineradora no mundo inteiro tem uma série de procedimentos já consolidados ao longo do tempo para prevenir e mitigar desastre. Neste caso, se vê, a cada novo passo da investigação, que as empresas foram displicentes na prevenção e não demonstraram ter um plano de ação preparado para o caso de desastre. Prevenção e mitigação de danos é o mínimo que se pode exigir de empresa que lida com atividade de alto risco”.

Num primeiro momento, talvez nem o governo tivesse a dimensão dessa crise. Tanto por falta de preparo para situações de emergência, como acontece em outros eventos, quanto pela lentidão em tomar decisões que precisam de agilidade, recursos e liderança. De que é exemplo positivo o ministro da mineração do Chile, quando do soterramento de 33 mineiros, em 2010, numa mina nas montanhas do país. Nem da parte do governo, nem da parte da Vale se notam ações efetivas e marcantes para explicar o acidente e as ações que serão tomadas para cobrar responsabilidades e minimizar o impacto nas pessoas e no meio ambiente. No meio do caos, ficamos sabendo que existem pelo menos 35 barragens desse tipo no país, armazenando resíduos de mineradoras, e que não são devidamente fiscalizados.

Ainda segundo Miriam Leitão, “A reação corporativa é absolutamente insuficiente. A Vale não pode ficar dizendo apenas que está prestando todo o apoio à Samarco e às autoridades. O que a empresa fará para proteger e indenizar as famílias das vítimas? Que plano tem para conter os efeitos do desastre? Como fará a descontaminação da área? Que desdobramentos os seus estrategistas em riscos estão vendo para as consequências como a contaminação das águas em Minas Gerais e no Espírito Santo? Já instalou uma sala de controle das informações sobre o desastre, no estilo situation room? É inacreditável que uma tragédia que aconteceu na quinta-feira tenha até agora de reação da empresa controladora apenas uma nota divulgada na sexta, um sobrevoo do CEO ao local e conversas entre executivos da Vale e da Samarco.”

Outro problema em crises dessa dimensão é o excesso de porta-vozes. Revezam-se na mídia desde bombeiros, interlocutores da defesa civil, Ministério Público, até governadores, secretários, prefeito e CEO. No limite, eles têm pouca ou nenhuma explicação para dar, até mesmo quanto ao resgate dos mortos, tarefa difícil no meio da lama em que se transformou o vilarejo onde residiam os moradores. Talvez o significado mais terrível dessa tragédia seja dado na simplicidade das declarações de quem perdeu tudo, a casa, parentes, os bens e utensílios e a própria história: “eu ainda não acordei, diz uma dona de casa, cada dia tudo parece que é um sonho e vou sair desse pesadelo”.

Vale

Nota sobre acidente na Samarco

06/11/2015

​​A Vale, como acionista da Samarco juntamente com a BHP, lamenta profundamente o grave acidente ocorrido nas barragens de rejeitos nos municípios de Mariana e Ouro Preto, em Minas Gerais, e solidariza-se com os empregados, suas famílias e as comunidades atingidas. Desde o acionamento imediato do plano emergencial da Samarco, para garantir a integridade das pessoas e do meio ambiente, a Vale vem oferecendo total apoio e assistência às equipes da empresa e autoridades locais que estão trabalhando na região.

"Gostaríamos de expressar nossa solidariedade a todos os atingidos por este lamentável acidente nas barragens de rejeitos da Samarco em Minas Gerais. Não mediremos esforços para prestar todo o apoio necessário à Samarco e às autoridades neste triste momento para os empregados, seus familiares e as comunidades vizinhas", declarou Murilo Ferreira, presidente da Vale.

A Samarco continuará centralizando a comunicação das informações de forma transparente e contará com nosso empenho irrestrito tanto neste momento quanto na apuração das causas do acidente. ​

Comunicado do conselho de administração (Board of Directors) da BHP Billiton Incidente na Samarco

08 November 2015

Read the release in English

O Conselho de Administração (Board of Directors) da BHP Billiton oferece suas mais sinceras e profundas condolências a todos que foram afetados pelos eventos trágicos ocorridos nas operações da Samarco e vizinhanças no Estado de Minas Gerais, Brasil.

O Conselho (Board) enfatizou que a Empresa continuará a fornecer à Samarco todo o apoio aos esforços de resposta emergencial que se fizerem necessários.

“Palavras não conseguem descrever o impacto desta tragédia para os empregados e terceirizados da Samarco, suas famílias e comunidades vizinhas, “ disse o Presidente do Conselho (Chairman) da BHP Billiton, Jac Nasser.

“Nossos pensamentos estão com as pessoas da Samarco, com a comunidade afetada, e com o povo Brasileiro.”

A BHP Billiton está estendendo suporte técnico e de gestão para a Samarco e continua a trabalhar juntamente com a Vale, que também é um acionista com 50% da joint-venture.

O CEO da BHP Billiton, Andrew Mackenzie, irá visitar o local do acidente esta semana e encontrar com a equipe de resposta emergencial da Samarco, autoridades e pessoas da comunidade para entender de perto os impactos humanos, ambientais e operacionais do incidente.

“Nossa mais alta prioridade é dar apoio à Samarco na provisão de uma resposta emergencial segura e efetiva à esta terrível tragédia”, disse o Sr. Mackenzie.

“Os empregados da BHP Billiton estão profundamente comovidos com este evento trágico e a Samarco tem nosso total apoio nos seus contínuos esforços de resposta emergencial.”

Como operadora, a Samarco continua a fornecer atualizações detalhadas em termos da resposta emergencial e status das operações. Informações adicionais disponível no website: www.samarco.com"

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