vigilanciaO WikiLeaks foi o primeiro a quebrar o encanto dos segredos bem guardados, revelando documentos secretos que os governos não gostariam se tornassem públicos. Vídeos de soldados americanos atirando em civis desarmados no Iraque, até segredos mantidos em documentos oficiais das chancelarias da América Latina. Pensava-se que nada poderia ser mais invasivo. Até aparecer Edward Snowden.

A presidente Dilma interpelou Obama sobre as revelações do ex-empregado da NSA: o Brasil foi espionado; Palácio do Planalto, Petrobras vigiados. Novidade? Alguém desconhecia que os americanos vigiavam outros países? Se a presidente desconhecia, no mínimo demonstra uma falha dos vários órgãos de inteligência e segurança pendurados na presidência da República. Porque qualquer estudante de história sabe que os EUA vigiam o Brasil há décadas.

Se a presidente Dilma tivesse assistido a dois documentários recentes sobre o governo João Goulart não teria se surpreendido tanto. “O dia que durou 21 anos”, de Camilo Tavares, e “Dossiê Jango”, de Paulo Henrique Fontenelle, mostram com toda a crueza o que os Estados Unidos faziam para manter Jango sob vigilância, num tempo em que não havia “drones”, nem câmeras indiscretas, muito menos Internet. E tudo sabiam.  

É dentro desse prisma que a revista Time desta semana traz uma excelente reportagem, com várias análises, sobre “A sociedade da Vigilância” ou sociedade vigiada.  Não existem mais segredos, diz o editor da revista, David Von Drehle, autor da reportagem, “agora que temos a capacidade de coletar e armazenar milhares de milhões de pedaços de dados para sempre”.

David Drehle diz que “Privacidade é mais uma ilusão. A ilusão útil, não há dúvida sobre isso, aquela que nos permite viver sem ser paralisado pela autoconsciência. A ilusão de privacidade nos dá espaço para ser plenamente humanos, compartilhando intimidades e arriscando erros. Mas o tempo todo, a linha entre o espaço público e privado é tão porosa como um papel de seda. O casal adúltero dando uma escapada a um hotel: há alguém a segui-los?

"Os adolescentes gazeteando a aula para visitar o shopping: será que eles vão cruzar com uma mulher do Clube do Livro da mamãe? O motorista solitário fazendo uma performance de guitarra invisível em um sinal de trânsito: será que o motorista da faixa ao lado está olhando? Assim como crianças de certa idade que pensam que fechando os olhos elas ficarão invisíveis, nós acreditamos que ninguém vê  ou ouve nossos momentos privados, e nós estamos certos - até que alguém veja ou escute.”

“Isto era verdade muito antes de a Agência Nacional de Segurança (NSA)  ter começado a colecionar nossos registros telefônicos e de Internet de empresas de tecnologia e de comunicações, e muito antes de a Câmara dos Representantes (EUA), em 24 de julho, ter dado um novo sinal de positivo para novas ações da NSA por uma margem de 12 votos estreita, 217-205 . Tudo isso era verdade, muito antes de um juiz militar ter encontrado culpa em Bradley Manning, por espionagem, por seu papel no caso WikiLeaks, mas o absolveu da acusação de ajudar o inimigo, em 30 de julho.”

“A qualidade ilusória da privacidade é um tema recorrente da literatura se voltarmos para a Bíblia hebraica. Considere a bela Bathsheba, que se despe para um banho no segundo livro de Samuel, um texto antigo, só para ficar sob o olhar concupiscente do Rei Davi, andando no telhado do seu palácio. Ou Hamlet, cuja conversa privada com sua mãe é ouvida por Polônio, escondido atrás das cortinas. O grande cineasta Alfred Hitchcock era fascinado por segredos que não ficariam escondidos e construiu uma obra-prima, o filme Janela Indiscreta, a partir da premissa de que vidas inteiras (e mortes) estão em exposição por trás das janelas devassadas de cidades anônimas, apenas esperando por um observador para descriptografá-las.”

“Mas a revelação de grandes programas de coleta de dados da NSA pela cruzada de um funcionário contratado, Edward Snowden, deixou claro que o aprimoramento da tecnologia está quebrando até mesmo a ilusão de privacidade. Na calada da noite, e com muito pouco de reflexão, os EUA e outras nações desenvolvidas se posicionaram a favor dos espiões. A sociedade da vigilância está criando raízes. As câmeras de vídeo espionam constantemente de postes a fachadas. Satélites e “drones” (aviões tripulados) sobrevoam hackeando os céus.”

“Smartfones retransmitem uma quantidade estonteante de informações sobre os seus proprietários para torres de sentinela que pontilham nas cidades e pontuam terras rurais. Câmeras de licença de placas e faixas de controle de velocidade acompanham o movimento de carros. São elas que mantêm um registro detalhado de sua velocidade e localização. Enquanto isso, na auto-estrada da informação, cada parada por cada viajante é anotada e armazenada pelos provedores de serviços de Internet como o Google, Verizon e Comcast. Os varejistas escaneiam, armazenam e analisam cada compra de cada consumidor. TVs inteligentes sabem que programas estamos assistindo -  em breve eles terão olhos para nos observar e medidores inteligentes para saber se nós apagamos as luzes.”

Leia a reportagem completa da revista Time, de David Von Drehle.

The surveillance Society

O glossário da vigilância do governo americano

Foto: Michael Wolf/laif/Redux

Atualização do artigo em em 07/10/13

Ministério das Minas e Energia alvo de espiões americanos e canadenses

O programa Fantástico, da Rede Globo, revelou em 6 de outubro, com base em documentos obtidos pelo ex-funcionário da NSA, Edward Snowden, entregues e apurados pelo jornalista Glenn Greenwald, atualmente residindo no Brasil, que o Ministério das Minas e Energia do Brasil foi alvo do serviços de inteligência e espionagem do Canadá.

A reportagem do Fantástico ouviu Glenn Greenwald e especialistas em espionagem. Eles asseguram ser grave a denúncia, pelo nível de sofisticação e potencial de invasão e acesso a dados altamente estratégicos para os negócios na área de energia e petróleo do Brasil.

Diz a resportagem do Fantástico: "O Ministério de Minas e Energia está na mira dos espiões americanos e também canadenses. O Fantástico teve acesso exclusivo a mais um documento vazado por Edward Snowden, o ex-analista de inteligência contratado da NSA, a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos. Hoje ele está asilado na Rússia.

Esse documento só foi localizado na semana passada. Estava com milhares de outros, entregues em junho, em Hong Kong, por Snowden ao jornalista americano Glenn Greenwald, coautor desta reportagem.

“A quantidade de documentos são bem altos. Tem milhares dos documentos. Os documentos são muito complexos, demora tempo para ler esses documentos, entender, para conectar todos os documentos”, Glenn Greenwald.Nos últimas dez dias, nós analisamos e checamos o documento, com a ajuda de especialistas em segurança da informação.

O material mostrado na reportagem é a apresentação de como funciona uma ferramenta de espionagem da Agência Canadense de Segurança em comunicação, a CSEC. O alvo é o Ministério de Minas e Energia do Brasil. A apresentação foi em junho de 2012 numa reunião anual de analistas ligados a agências de espionagem de cinco países."

Veja no link abaixo a reportagem completa do Fantástico.

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