bbcnewsNão comemore quando o concorrente enfrenta uma crise. A próxima vítima pode ser você. Essa é uma das tantas máximas de gestão de crises. A britânica BBC, a mais prestigiosa rede de comunicação pública do mundo, está no momento provando do veneno que viu destilar ano passado, quando deu ampla cobertura à crise da News Corporation, do magnata Rupert Murdoch, que culminou com o fechamento do tabloide News of the World.

O gabinete de Mark Thompson,  ex-diretor-geral da BBC, contratado recentemente pelo New York Times, foi alertado pelo menos duas vezes sobre denúncias de que o excêntrico apresentador e estrela da BBC, Jimmy Savile, abusava de crianças e jovens.  A informação foi confirmada pelo Sunday Times, de Londres, na edição deste domingo, 28 de outubro.

Segundo o Times, a revelação levanta vários questionamentos sobre quanto Thompson, que deixou a BBC no último mês, sabia sobre como aquela rede colocou para baixo do tapete, ao cancelar um programa jornalístico, a investigação a respeito do suspeito comportamento do apresentador, falecido em outubro de 2011, aos 84 anos. Thompson afirmou diversas vezes que não sabia nada a respeito da investigação planejada pelo editor do programa Newsnight. Foi a partir dessa recusa que o escândalo vazou.

O executivo da BBC também vai ser interrogado pelo Parlamento britânico.  Enquanto isso, no New York Times já há um forte movimento  para ele não tomar posse.

O personagem do escândalo

O ex-apresentador Jimmy Savile foi um dos mais famosos astros de TV britânica, nos últimos anos, e comandava programas infantis na BBC.  Recebia convidados na TV e trabalhava como voluntário na comunidade. Era também o DJ da BBC – Radio 1. Uma profícua carreira de 40 anos na mídia. Quando morreu, ano passado, era uma das mais conhecidas personalidades do show business britânico.

Para a polícia britânica, entretanto, ele era um assediador sexual contumaz. Levantamento da polícia o acusa de ter abusado de pelo menos 300 mulheres, incluindo crianças e adolescentes, durante quatro décadas. Não está descartada pela Scotland Yard a possibilidade de outras pessoas de projeção da BBC terem envolvimento com os abusos.

Na semana passada, o diretor-geral da BBC, George Entwistle, precisou se explicar sobre o escândalo. A BBC foi questionada por não ter informado quando recebeu as denúncias. Em depoimento ao comitê de cultura do Parlamento britânico, Entwistle disse que desde que surgiram as denúncias contra Saville - que chamou de "muito, muito graves" - a BBC fez "muito daquilo que deveria ter feito".

Entwistle disse ainda acreditar que havia "um amplo problema cultural" na BBC, no passado, e que isso teria permitido que Saville perpetrasse os abusos.

"Não há dúvidas de que o que Jimmy Saville fez e a maneira com que a BBC se comportou naqueles anos - a cultura e as práticas da BBC  - parecem ter permitido que o apresentador tenha feito o que fez - vão gerar para nós perguntas sobre confiança e reputação", disse Entwistle ao comitê de cultura, mídia e esportes do Parlamento britânico.

"Esse é um assunto de extrema gravidade e não se pode olhar em retrospecto com qualquer sentimento que não seja o de horror, de que suas atividades tenham persistido o quanto persistiram sem serem detectadas".

A escritora britânica Karen Eddolls acaba de lançar um livro em que conta a forma como o apresentador, que ela chama de pedófilo, aproveitava sua fama e poder para praticar crimes contra mulheres na certeza da impunidade. Ela já tinha publicado um livro sobre abusos de que foi vítima, na infância, pelo padrasto. Agora, em seu novo livro, aparecem denúncias contra o apresentador da BBC, reveladas também num programa da própria BBC. Os abusos foram feitos quando ela tinha 14 anos.

A investigação contra o famoso apresentador bateu no Reino Unido como um escândalo semelhante ao dos grampos do News of the World, em 2011. A polícia está se preparando para prender pessoas que trabalharam com Savile e possivelmente foram coniventes. A BBC também abriu três inquéritos e agora quer tudo esclarecido.

O escândalo, com dimensões ainda difíceis de avaliar, causou uma das piores crises da história da BBC, rede pública britânica, atingindo também a imagem dos atuais e ex-diretores.

No bojo das acusações, uma das mais chocantes é dada por testemunhas e vítimas que denunciam abusos em hospitais onde o apresentador fazia trabalhos voluntários. Pacientes e enfermeiras registram uma série de abusos, que ele cometia contra pacientes internados e impossibilitados de se locomoverem. Os depoimentos de testemunhas, agora vindo à tona, são estarrecedores e até a polícia se supreende com as revelações. 

Escândalo choca ingleses

O caso está mobilizando a opinião pública na Grã-Bretanha e trazendo questionamentos sobre a atuação de meios de comunicação como a BBC, uma das emissoras de maior prestígio do mundo. Se a mídia, o último baluarte para denunciar as mazelas da sociedade, esconde um escândalo dessa magnitude, apenas porque envolvia uma de suas estrelas, o que podemos esperar para o futuro?

Saville era apresentador e DJ e foi agraciado com o título de "Sir" pela realeza britânica por seu trabalho filantrópico. Ele era célebre por sua imagem exótica, ostentando joias de ouro, um charuto e cabelos claros. Um programa da emissora britânica ITV, que foi ao ar no último dia 3 de outubro, trouxe depoimentos de diversas mulheres que diziam ter sido abusadas quanto ainda eram menores de idade.

Nos dias seguintes, diversas outras vítimas foram a público fazer denúncias semelhantes. O primeiro-ministro David Cameron disse que a BBC tem sérias questões a responder. A emissora é financiada com uma taxa anual paga por todas as residências com ao menos um televisor.

Será possível que durante anos, como admite a denúncia, o apresentador tenha abusado de mulheres e crianças e ninguém tenha visto ou sido conivente para esconder a verdade? Difícil acreditar. Os policiais anunciaram que devem efetuar prisões nos próximos dias, mas dizem que, embora haja indícios de que "pessoas de destaque" possam tê-lo acobertado e auxiliado, até o momento não há razão para se crer na existência de uma "rede de pedofilia".

 

 

 

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