murdoch_sundayMurdoch com a edição do The Sun on Sunday

Rupert Murdoch surpreende de novo. Lançou neste domingo a edição dominical do The Sun, sem dar importância aos críticos e desdenhando os processos movidos contra seus jornalistas.

A edição do The Sun on Sunday sai com tiragem de 3 milhões de exemplares, uma das maiores do mundo, e aposta na tendência dos britânicos por tabloides sensacionalistas, coloridos e recheado de fofocas de celebridades, além da confiança dos anunciantes.

O jornal em seu editorial prometeu "ser sem medo, sem rodeios, brincalhão e divertido", ao definir seu compromisso com altos padrões éticos, na esteira dos escândalos que abalaram a toda poderosa News Corporation e a mídia internacional. Nada menos do que 10 jornalistas do grupo foram presos por alegados pagamentos a funcionários públicos corruptos, a maioria da polícia de Londres.

O inferno astral da mídia britânica

Em meio à crise enfrentada pela mídia britânica, desde o ano passado, o que era ruim poderia ficar pior? Depende de quem estiver no meio da crise. Novamente, no centro do tsunami o todo poderoso magnata da mídia Rupert Murdoch, da News Corporation.

No sábado, 11, cinco jornalistas do tablóide sensacionalista The Sun, pertencente ao Conglomerado, entre eles editores, foram presos pela polícia de Londres. Para as grades também foram um oficial da polícia, um funcionário do Ministério da Defesa e um membro das Forças Armadas. Todos foram soltos depois de explicações e fiança.

São acusados de corrupção, suborno e obtenção ilegal de informações. “Estou chocado, como todo mundo, com as prisões de hoje, mas estou determinado a conduzir The Sun durante esses tempos difíceis”, disse o editor do jornal, Dominic Mohan, em um comunicado divulgado no dia da prisão. As prisões teriam ocorrido a partir de informações da própria empresa e isso teria irritado o staff do jornal. 

Este é mais um capítulo da novela que se arrasta desde 2006, quando o The Guardian começou a denunciar grampos ilegais praticados pelos tablóides de Murdoch, entre eles o que envolveu diretores e a redação do News of the World.

O “News”, jornal dominical de 168 anos, com quase três milhões de exemplares semanais, foi fechado abruptamente por Murdoch, numa decisão radical, em julho de 2011, após denúncias de gravações ilegais de políticos, celebridades, membros da família real e até de uma criança sequestrada e, posteriormente, assassinada. Neste ano, a polícia metropolitana de Londres não encontrou evidências e provas de que o telefone da menina foi realmente violado pelos jornalistas acusados. A crise com o “News” e demissão do staff teria dado um prejuízo à News Corporation de aproximadamente US$ 100 milhões.

O golpe do mestre

the_sun_placaApós o clima de insegurança gerado pelas prisões, para acalmar a redação do The Sun, Rupert Murdoch pessoalmente comandou uma reunião na semana passada, dando um voto de confiança à redação. E como a fênix, ele anunciou, em plena crise econômica no Reino Unido e acossado pela crise de moralidade no seio das redações de seus jornais, o lançamento da edição dominical do The Sun.

O golpe do mestre da mídia internacional foi o bastante para animar os jornalistas, que já temiam um futuro meio parecido com o do co-irmão “News”. Murdoch chegou a anunciar que os jornalistas presos e suspensos poderiam voltar a trabalhar, por serem inocentes, até prova de culpa.

É impressionante, como diz o jornal concorrente The Guardian, que, três semanas antes de completar 81 anos, Murdoch tenha fôlego para surpreender a todos. “O veterano homem dos jornais continua o arquimágico da imprensa, sem dar importância aos críticos, animando seu staff e surpreendendo seus rivais com sua rápida mudança de rumo e audácia. Mais de 40 anos depois de ter comprado o combalido jornal The Sun – e seis meses depois de ter abruptamente fechado o News of the World por razões corporativas – ele está de volta ao negócio com um tablóide dominical”.

O mercado de mídia britânico foi sacudido pelo golpe do mestre numa semana nervosa para as redações da News International. A expectativa é o jornal sair neste próximo domingo com quase três milhões de exemplares. Quando o News of the World foi fechado, a média semanal aos domingos era de 2 milhões e 600 mil exemplares. A edição de sábado do The Sun, que herdou leitores do falecido jornal dominical, chegou a ter tiragem, no fim de 2011, de 2 milhões e 850 mil exemplares.

Murdoch também está de olho no mercado de publicidade perdido quando do fechamento do “News”, calculado em R$ 110 milhões por ano, hoje disputado pelos jornais dominicais remanescentes, alguns dos concorrentes. O The Sun será vendido a preços populares, possivelmente abaixo de uma libra, o que certamente manterá a tiragem na casa de quase três milhões.

Neste domingo, 19, o principal jornal britânico de Rupert Murdoch - The Sunday Times - publicou editorial questionando vários aspectos sobre o momento de crise vivenciado nos últimos anos pela mídia local, principalmente com acusações, prisões e envolvimento de jornalistas e policiais, num esquema para lá de promíscuo, com denúncias de subornos, gravações exclusivas, invasão de privacidade e grampos. Pela importância do editorial, para entender até que ponto relações suspeitas entre fontes e jornalistas pode comprometer o jornalismo investigativo, decidimos reproduzir aqui, na íntegra, o Editorial.

The Sunday Times – 19 de fevereiro de 2011

Editorial

O caminho certo para expor irregularidades

O maior orgulho de qualquer jornal - e o The Sunday Times em particular - é desvendar histórias. Às vezes, os denunciantes saem na frente e nosso trabalho é verificar as suas revelações. Em outros momentos, nós batemos num muro de tijolos e temos que encontrar caminhos para atravessá-lo. Mais frequentemente do que parece, o jornalismo investigativo envolve uma mistura de ambas as questões acima, juntamente com o trabalho de detetive, a persuasão, o sigilo, o confronto, e, ocasionalmente, o subterfúgio.

No mundo real, os métodos nem sempre caminham completamente limpos. Se quisermos saber mais sobre irregularidades, é inevitável algumas vezes que expedientes secretos e ilícitos sejam necessários. Mas apesar desse alcance, o jornalismo investigativo é o sangue da vida de uma democracia. Sem ele, não há qualquer controle e pouca responsabilidade pública. O jornalismo investigativo, por meio deste jornal e de outros, expôs a corrupção em ambas as Casas do Parlamento, bem como malfeitorias corporativas, encobrimentos de desastres ambientais e de saúde e suborno nos esportes. Foi também o jornalismo investigativo que descobriu o escândalo dos grampos telefônicos, que provocou a investigação Leveson e o atual debate sobre ética e regulação de jornais. 

Nós também,  muitas vezes, consideramos como verdadeiro exclusivamente o mercado competitivo de jornais na Grã-Bretanha. Mesmo nos fins de semana, quando em outros países jornais começam a dar para trás, este país tem uma vigorante imprensa dominical, que procura noticiar o que acontece no mundo e expor as malfeitorias. Cada um de nós tem sua própria visão, foco e estilo. Essa competição para os leitores, por construir histórias inéditas e um debate saudável, é totalmente voltada para o bem. Sem ela, nossa política e nossa vida pública seriam mais imorais.

A crise que virou o mundo do jornalismo (britânico principalmente) de cabeça para baixo, ao longo dos últimos sete meses, é a questão fundamental de todo o jornalismo investigativo: como ele é feito. Não precisa ser enfatizado que não há lugar para a criminalidade. Então, apesar de haver preocupação correta de como a polícia  conduziu as recentes prisões de cinco jornalistas do jornal The Sun, de forma exagerada, se há evidências de que a lei foi violada, sem o devido respeito pelo interesse público, então a lei deve seguir seu curso. E não são somente jornalistas que são presos em bando ao amanhecer para criar um fato de opinião pública.  

Mas há um perigo grave no atual clima de ir longe demais nesse assunto. Relatório da semana passada do Comitê das Comunicações da Câmara dos Lordes faz uma leitura gratificante, com uma forte defesa da necessidade de investigar o jornalismo. Ele corretamente argui que um dos principais problemas hoje é saber exatamente o que é e não é legal. Como a Câmara dos Lordes muito bem expôs, a lei é confundida por "inconsistências e falta de clareza", sem qualquer defesa relacionada com o interesse público.

Então, é bom que Keir Starmer, o diretor de processos públicos, elabore um documento político sobre os fatores a serem considerados quando eles decidem se o comportamento ilícito de jornalistas é, na verdade, criminal - incluindo a defesa do interesse público. Como o Serviço de Investigação da Coroa Britânica disse, o jornalista do The Sun, que recentemente de modo secreto expôs um funcionário judicial que aceitava subornos, não deve ser processado, porque ele revelou uma infração penal protegida nos termos da Lei do Suborno. Mas este ato, como muitos outros, não encontra defesa sob o aspecto do interesse público. 

Ao fim, cabe aos jornais colocar suas próprias casas em ordem. Precisamos mais vigorosamente da auto-regulação para deter os abusos, mas não devemos esquecer que foi o policiamento ou monitoramento inadequado que falhou ao não conseguir acompanhar o escândalo dos grampos telefônicos,  e a polícia agora está tentando consertar o seu fracasso. Uma imprensa livre terá sempre de assumir riscos e trilhar uma linha delicada com a lei. Mas nem o inquérito da polícia, nem a investigação da ética jornalística deveriam se tornar uma caça às bruxas. 

The Sunday Times - February 19, 2012

Editorials

Right way to expose wrongdoing

The proud boast of every newspaper - and The Sunday Times in particular - is to break stories. Sometimes whistleblowers come forward and our job is to verify their claims. At other times we hit a brick wall and have to find ways through it. More often than not, investigative journalism involves a mixture of both of the above, along with detective work, persuasion, secrecy, confrontation and occasionally subterfuge. 

In the real world, the methods are not always going to be squeaky clean. If we want to learn about wrongdoing, it is unavoidable that sometimes covert and illicit means are necessary. But however it is achieved, investigative journalism is the life-blood of a democracy. Without it, there is no scrutiny and little public accountability. Investigative journalism by this newspaper and others has exposed corruption in both Houses of Parliament, as well as corporate malfeaseance, cover-ups of environmental and health disasters and sports bribery. It was also investigative journalism that uncovered the very phone-hacking scandal which brought about the Leveson inquiry and the current debate about newspaper ethics and regulation. 

We too often take for granted the uniquely competitive newspaper market in Britain. Even at weekends, when in other countries newspapers take a back seat, this country has a lively Sunday press that seeks to report the world and expose wrongdoing. We each have our own outlook, focus and style. Such competition for readers by breaking stories makes for healthy debate and is wholly to the good. Without it our politics and public life would be sleazier. 

The issue that has turned the world of journalism upside down over the past seven months is the fundamental question at the bottom of all investigative journalism: how it is done. It should not need to be emphasised that there is no place for criminality. So althought there is rightfull concern that the police's handling of the recent arrests of five Sun journalists was heavy-handed, if there is evidence that the law was broken, without respect for the public interest, then the law must take it course. And it is not just journalists who are arrested mob-handed at the crack of dawn to make a public relation point. 

But there is a serious danger in the current climate of going too far. Last week's report by the House of Lords communications committee makes for rewarding reading, with a strong defence of the need for investigate journalism. It rightly argues that one of the main problems today is knowing exactly what is and is not legal. As the Lords put it, the law is bedevilled by "inconsistencies and lack of clarity", with no overall defence of reporting in the public interest.

So it is good that Keir Starmer, the director of public prosecutions, is drawing up a policy statement on the factors to be considered when deciding if the illicit behaviour of journalists is, indeed, criminal - including a public interest defence. As the Crown Prosecution Service has said, the Sun journalist who recently covertly exposed a court clerk taking bribes should not be prosecuted because he uncovered an offence under the Bribery Act. But this act, like many others, has no public interest defence.

In the end, it is up to newspapers to put their own houses in order. We need tougher self-regulation to stop abuses, but we should not forget it was inadequate policing that failed to root out the phone hacking scandal, and the police are now seeking to make amends for their failure. A free press will always have to take risks and tread a delicate line with the law. But neither the police inquiry nor investigation of journalistic ethics should become a witch-hunt.

Foto: Arthur Edwards/AFP/Getty Images

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