Globo_newsTerça-feira, 20 de maio, 17h16m. A Globo News interrompe a programação para informar que um avião da empresa Pantanal havia caído sobre um prédio em São Paulo: “Foi na zona sul da capital paulista. Ainda não se sabe se há vítimas, fora a tripulação. A queda foi próxima do aeroporto de Congonhas. O bairro atingido pelo avião se chama Campo Belo. Três carros de bombeiros estão se dirigindo para o local. Não se sabe se apenas um prédio foi atingido”.

A notícia é repetida às 17h17m22s pela emissora. O Blog do Noblat divulga as 17:26m: “Informa a Globo News que o incêndio é em uma loja de colchões da rua Araguaí. Mas ainda não se sabe de fato se foi provocado pela queda de um avião. “ Às 17:27, ainda no Blog: “Informa a Globo News que não há mortos nem feridos. A Pantanal desmentiu que tenha caído um dos seus aviões”.

A Globo News prosseguiu alguns minutos depois: “Há um incêndio em um prédio comercial. E agora a Infraero diz que ainda não pode confirmar se foi um avião que de fato caiu.  Foi na zona sul da capital paulista.”

Foi o bastante para uma sucessão de sites noticiosos e canais de TV repercutirem a notícia. Em questão de minutos, a suposta queda do avião da Pantanal virou manchete dos principais portais de notícias do país, com repercussões no exterior.

Com a confusão estabelecida por cerca de 6 minutos, e diante do desmentido por parte da Infraero e da Pantanal da queda de qualquer avião, as TVs e portais começaram a recuar e desmentir a notícia. Alguns rapidamente apagaram a informação das páginas. Mas durante alguns minutos a notícia falsa ficou no ar, gerando especulações e, pior, uma repetição em série do erro que começou com a Globo News.

A Central Globo de Comunicação (CGCom) informou em nota (veja abaixo) que a Globo News, como um canal de notícias 24 horas, pôs no ar imagens do fogo assim que as captou. Como é normal em canais de notícias, apurou as informações simultaneamente à transmissão das imagens. A CGCom se justificou, dizendo que naquele momento, bombeiros e Infraero não tinham informações sobre o ocorrido. Segundo a Globo, eram 17h17min22s, e o desmentido foi ao ar às 17h22min40s.

Os concorrentes da emissora dizem o contrário. Segundo eles, a Globo divulgou a informação às 17h16, pois a primeira emissora a dar a notícia foi a Globo News. A BandNews divulgou que a informação errada foi ao ar às 17h17 e assim ficou até as 17h23. No minuto seguinte, a emissora a retificou. Segundo a BandNews, a origem da notícia seria uma página da internet. A emissora disse que corrigiu na hora. Mais tarde, no Jornal das Dez, a Globo News pediu desculpas pelo erro da reportagem.

A Record News afirmou que divulgou a falsa queda do avião às 17h19, mas só mostrou imagens às 17h22 . Às 17h26, corrigiu a notícia. Todos os portais publicaram manchetes sobre o possível acidente, alguns, inclusive, com a confirmação da Infraero. Segundo a assessoria de imprensa do Aeroporto de Congonhas, isso nunca ocorreu. No UOL, às 17h19, a manchete com o título “Avião da Pantanal cai na zona sul de São Paulo” informava que um avião da empresa havia se chocado contra um prédio residencial.

Nesse jogo de empurra, a vítima principal foi a notícia. Ou como disse um escritor famoso: na guerra, a primeira vítima é a verdade. O que de fato aconteceu neste caso.

A busca pelo furo e a necessidade de sair na frente do concorrente na internet ou nos canais chamados “all news” leva a essa desenfreada corrida para dar a manchete. O resultado, como se vê, foi desastroso. No caso das TVs, as imagens do incêndio começaram a chegar e apressadamente foram colocadas no ar com informação equivocada e sem a devida checagem. O mínimo que deveria ter sido feito é um telefonema à Pantanal. Não se cumpriu aqui um preceito básico do jornalismo, de checar toda a informação.

Não foi a primeira vez. Às 19 horas do dia 17 de julho de 2007, quando caiu o avião da TAM em São Paulo, matando 199 pessoas, a Globo News estava transmitindo as imagens “de um incêndio num hangar do aeroporto de Congonhas, com um avião dentro”. Demorou algum tempo para descobrir que se tratava do maior desastre da aviação brasileira e era fora do aeroporto.

O argumento da Globo News e TV Globo para colocarem as imagens no ar com a informação da queda, de que até aquele momento Infraero e bombeiros não tinham a notícia correta, não vale como desculpa pelo erro. O que aconteceu é  recorrente no meio eletrônico. Muitos erros, menos visíveis, são cometidos todos os dias nos sites noticiosos e retirados do ar sem que muitos internautas percebam.

A pressa na divulgação das informações, mesmo de entrevistas, para sair na frente do concorrente, tem aumentado o número de erros. O controle de qualidade das notícias que são lançadas na rede mundial ainda está devendo. Isso inclui sites noticiosos e blogs.  Fica muito por conta da apuração do repórter ou do titular do Blog. Quanto atinge pessoas ou empresas esses erros podem acarretar danos morais e materiais irreparáveis. No caso da Pantanal, certamente a notícia, ainda que por pouco tempo, arranhou a imagem da empresa e deixou apreensivos empregados e parentes de passageiros.

Na velocidade atual da informação, um pequeno deslize vira uma bola de neve. Um cochilo e tudo vai água abaixo. A internet tem uma capacidade incrível de se auto-referenciar. As notícias surgem e migram com muita facilidade. É o tipo de estrago que não tem conserto, por mais que os envolvidos tentem amenizar.  

Resposta da Globo News ao Uol

A respeito do incêndio ocorrido hoje à tarde em São Paulo, a Globo News, como um canal de noticias 24 horas, pôs no ar imagens do fogo assim que as captou. Como é normal em canais de notícias, apurou as informações simultaneamente à transmissão das imagens. A primeira informação sobre a causa do incêndio recebida pela Globo News foi a de que um avião teria se chocado com um prédio na região do Campo Belo, Zona Sul de São Paulo. Naquele momento bombeiros e Infraero ainda não tinham informação sobre o ocorrido. As equipes da própria Globo News constataram que não havia ocorrido queda de avião e desde então esclareceu que se tratava de um incêndio em um prédio comercial. Poucos minutos depois o Corpo de Bombeiros confirmou tratar-se de um incêndio em uma loja de colchões.

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