Fake News boaO grande volume de informações que circula nas redes sociais aliado à nossa limitada capacidade de absorvê-las pode explicar o motivo para a proliferação de boatos e notícias falsas nas plataformas virtuais. Essa é uma das conclusões de estudo publicado na revista online Nature Human Behavior nesta semana.

Nossa capacidade de atenção coletiva a curto prazo está contribuindo para o surgimento de notícias falsas. Compartilhar essas notícias falsas nas mídias sociais não ajuda, porque isso acaba viralizando ainda mais a "notícia falsa", as chamadas “fake news”.

Embora o estudo tenha sido publicado numa revista restrita a assinantes, outras fontes a publicaram, como o site Semantic Scholar. Clique aqui se quiser ter acesso ao artigo completo.

De acordo com a pesquisa, encomendada pela Agência Reuters e conduzida pela Universidade de Oxford, mesmo que as pessoas deem preferência para informações de boa qualidade, o fato de terem muita informação à disposição e pouco tempo de atenção dedicado a cada informação faz com que boatos tenham a mesma chance de viralizar que uma informação de fonte confiável.

"Estamos expostos a centenas se não milhares de mensagens todos os dias, mas nós não conseguimos prestar atenção em todas elas. Por exemplo, quando você vai ao Facebook ou ao Twitter, você recebe muitas mensagens, fotos, memes de seus amigos, mas apenas uma pequena quantidade delas consegue capturar sua atenção”, explica o físico brasileiro Diego Oliveira, um dos autores do estudo publicado na revista.

Como foi feita a pesquisa

Os pesquisadores rastrearam 100 mil postagens diferentes em 20 simulações e descobriram que "se a rede social é constantemente inundada por novas postagens e os usuários não têm infinitas tensões de atenção (o que não fazemos), o grupo perde sua capacidade de discriminar entre boas e más ideias”, dizem os pesquisadores.

Os cientistas desenvolveram um modelo de transmissão de meme para explorar a relação entre a carga de informações (número médio de memes recebidos por um indivíduo por unidade de tempo) e a atenção individual com o impacto em sua popularidade.

A pesquisa é o resultado da colaboração entre alguns pesquisadores de várias instituições. Publicado na revista Nature Human Behavior, o estudo foi intitulado "Atenção individual limitada e viralidade em linha de informações de baixa qualidade". Para chegar a tal análise, os cientistas avaliaram o comportamento de usuários de Twitter, Tumblr e Facebook e seguiram uma relação de notícias falsas, classificadas como de baixa qualidade, bem como notícias que desmascaram tais "fake news", classificadas como notícias de alta qualidade.

A pesquisa mostrou que as informações falsas se espalham nas redes sociais na mesma proporção que as informações de alta qualidade.

Redes sociais e "fake news"

Oliveira, físico da Escola de Informática da Universidade de Indiana, acredita que as redes sociais são um campo fértil para a disseminação de boatos. Até porque o nível de responsabilidade ainda está muito difuso, com legislações diferentes em cada país. Isso facilita a relativa “irresponsabilidade” com que são disseminadas as informações, bem diferente do que acontece na mídia tradicional.

"Devemos ter em mente que nossos amigos provavelmente não são bons editores e são impulsionados por emoções e menos objetividade e confiabilidade", ressalta o pesquisador. "Nossos resultados mostram num primeiro momento que as informações de baixa e alta qualidade têm as mesmas chances de sucesso", afirmou Diego Oliveira à AFP. "E essa falta de discriminação é resultado da nossa atenção limitada e da quantidade de informação (para a qual) estamos expostos".

Como frear essa disseminação de notícias falsas e boatos? Para os cientistas, uma maneira de aumentar o poder discriminativo das mídias sociais, evitando a disseminação de informações erradas, é impedir o uso de bots - usuários falsos criados para disseminar publicações, aumentando o alcance delas nas redes sociais-- que inundam as mídias sociais com informações de baixa qualidade. Essa prática é muito comum em época de eleições.

Ele elogia, também, iniciativas do Google e do Facebook em tentar reduzir este número de notícias falsas em suas plataformas, bem como do papel de agências de checagem de fatos na verificação da autenticidade das notícias.

Ele afirma, contudo, que cabe a nós o maior papel de não espalhar notícias falsas nas redes sociais. "Devemos verificar as fontes de informações, evitar assumir de que algo compartilhado por um contato social é confiável e evitar compartilhar algo sem analisar o conteúdo criticamente", diz.

A equipe de pesquisadores chega a admitir que a falsa notícia é até uma ameaça para a democracia – "Estudos anteriores mostraram que a qualidade não é uma condição necessária para a viralidade online e que o conhecimento sobre escolhas pares pode distorcer a relação entre qualidade e popularidade. No entanto, esses resultados não explicam a disseminação viral de informações de baixa qualidade, como a desinformação digital que ameaça a nossa democracia ".

"Usar as mídias sociais como uma fonte de notícias não é muito confiável, a menos que se concentre apenas em postagens de fontes de mídia confiáveis ​​que seguem práticas jornalísticas estabelecidas", afirmou o pesquisador brasileiro. É por isso que em recente pesquisa sobre credibilidade das mídias, também realizada pela Reuters e pela Universidade de Oxford, somente 24% dos entrevistados acreditavam em notícias veiculadas pelas redes sociais. Na mídia tradicional, esse índice atingiu 40%. O estudo reitera que as redes sociais perderam espaço como fonte de dissemnação de informação.

Assim, um afluxo de mensagens de baixa qualidade leva o público a tornar-se complacente, já que "tanto a sobrecarga de informação como a atenção limitada contribuem para a degradação do poder discriminativo do mercado". Para combater esse desejo aparentemente insaciável de informações - independentemente da qualidade - parece que editores e hosts como o Facebook e o Google precisarão intensificar seu jogo, eliminando notícias falsas antes de elas se disseminarem, concluem os pesquisadores.

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