A crise do INSS expõe a incompetência do Estado como gestor
O desvio bilionário de recursos dos aposentados, por descontos não autorizados nos salários, geridos por sindicatos, entidades associativas de aposentados, e até funcionários públicos ligados ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), é um dos maiores escândalos financeiros na área pública do país, nos últimos anos. O crime escancara a incompetência dos órgãos públicos em geral, de fazerem a gestão correta dos recursos do Tesouro Nacional. Em uma grande empresa privada, com boa governança e gestão financeira, se fato similar ocorresse, muito provavelmente o ‘compliance’ ou a diretoria de gestão de riscos teriam descoberto. Esse crime escancara também a inépcia e irresponsabilidade dos gestores em usar mecanismos de controle, muitos nomeados sem experiência, apenas por indicações políticas e outros interesses.
Não bastassem as revelações dos desvios bilionários feitos na Petrobras por quatro diretores que estão presos; não bastassem compras de ativos podres, como a usina de Pasadena no México; não bastassem gastos bilionários em projetos megalômanos, que não se viabilizaram com a crise ética e financeira da empresa, como o da empresa Sete Brasil e outras, quanto mais se abre a caixa preta da Petrobras, mais nos surpreendemos com a incompetência, a leniência e a falta de compromisso das gestões que comandaram a empresa entre 2003 e 2014.
A falha de segurança da Bélgica nos atentados que vitimaram 35 pessoas no aeroporto de Bruxelas e num vagão do metrô, no último dia 21, ficou evidente. E levantou uma questão delicada para os vizinhos da União Europeia. A incapacidade da polícia e do serviço de inteligêncxia da Bélgica para investigar, conduzir e conter a ameaça terrorista. O fato desgastou o governo belga e levou dois ministros a pedirem demissão - não aceita - logo após a tragédia.
A reputação é o ativo mais precioso de uma organização ou de um governo. Em época de crise, a reputação corre sério risco, principalmente porque o escrutínio da mídia se torna mais intenso. Empresas ou executivos despreparados para enfrentar uma boa relação com a imprensa correm maior risco de comprometerem a marca, o nome da empresa ou o governo por deslizes ou erros cometidos na forma como se relacionam com os jornalistas. Alguns conseguem arranhar a relação definitivamente.
De celebridades a esportistas, de políticos a executivos, todos estão sempre preocupados em se apresentar bem para a mídia. Não apenas pela importância da imagem corporativa, mas também para preservar a própria imagem. Alguns, adotando a postura errada do “low profile” somem nos momentos decisivos e deixam a mídia escrever o que quiser. Outros, mesmo sem treinamento, enfrentam câmeras, jornalistas e coletivas no peito e na raça. Pagam para ver e às vezes se dão mal.
Que o governo se rodeou de gente despreparada, nós todos já sabíamos. Que a presidente, que nunca exerceu um cargo eletivo na vida, era inexperiente, arrogante e despreparada para o cargo máximo da nação também todo mundo sabia. Mas, pessoas que enfrentaram a ditadura, viveram na oposição grande parte da vida, apoiados por intelectuais de respeito, fossem tão despreparadas para enfrentar a crise, nós realmente não poderíamos imaginar.
Fernando Gabeira, um dos mais lúcidos jornalistas e políticos em atividade no País captou mais uma semana alucinante para o governo, em artigo magistral no jornal O Estado de S. Paulo.
* Carlos Castilho
Esta é a pergunta que mais tenho escutado nos últimos dias durante conversas pela internet e em debates públicos ou de botequim. Impressiona a quantidade de brasileiros confusos e desorientados diante de uma batalha informativa que aumenta de intensidade a cada dia e cujo desfecho não é possível vislumbrar. É o drama vivido por pessoas que não vestiram nenhuma camiseta partidária e que sofrem as consequências de um turbilhão de versões e contra- versões difundidas freneticamente por uma imprensa que perdeu o senso de isenção.
O Brasil passa por um dos momentos mais delicados e perigosos de sua história. A geração nascida a partir dos anos 1940, para ficar nas últimas décadas, lembra de muitas outras crises institucionais, políticas e econômicas, mal conduzidas, e que tiveram consequências nefastas para o país. Talvez estejamos muito próximos de momentos semelhantes. O impasse em que nos encontramos, há pelo menos um ano, está convergindo para um desenlace histórico dos mais dramáticos, se não se encontrar uma saída nos próximos 60 dias.