frigorificoFrancisco Viana*

Se pudiéramos vernos al modo que nos ven los outros o al modo que nos verían se lo supieran todo, seria inevitable una reforma general. (Adam Smith, Teoría de los Sentimentos Morales).

A operação "Carne Fraca" e as denúncias da Polícia Federal sobre a venda de carne deteriorada por vários frigoríficos traz à tona uma questão ainda sem resposta: qual o grau de confiança que o consumidor, seja brasileiro ou internacional, pode ter na carne brasileira, inclusive aquela vendida pela midiática marca Friboi, de propriedade da JBS?

Em princípio, nenhuma. Houve reação de estados produtores e da agroindústria quanto à forma com que a PF fez as denúncias, mas não houve clareza quanto a origem do problema. Vem sendo ou não vendida carne deteriorada? Que carnes? Em qual quantidade? Há ou não corrupção na fiscalização sanitária? Qual é a verdadeira qualidade da carne levada à mesa do brasileira? Há quanto tempo os frigoríficos vêm lesando o consumidor?

Não é a primeira vez que o problema ocorre. Basta lembrar em que em maio de 2015 a Rússia chegou a suspender as importações de carne brasileira. Agora, a reação foi em cadeia – um verdadeira crise - e envolveu países da União Europeia, China, Hong Kong, Coreia do Sul, Chile e outros países. O que virá a seguir? Restauraremos a reputação perdida?

A resposta é outra e diz respeito à reputação dos produtos brasileiros. A vaca está indo para o brejo. E  vaca é sinônimo de Brasil. Se a carne é suspeita de ser vendida ilegalmente, quem garante que tudo o que vendemos não é também alvo de corrupção – no sentido de desvio de função - na origem?

Exemplos  como os da corrupção de parlamentares e empresários envolvidos na Operação Lava Jato – leia-se caixa 2 no financiamento de campanhas e propinas em larga escala - causaram grande impacto na opinião pública. Mas a realidade demonstra que o drama é muito maior. Castiga, como as sete pragas do Egito, a já combalida economia brasileira. E causa estrago pelo mundo afora.

Semeia-se a cada dia maior descrédito na sociedade. O que iremos colher? Descrédito? Desesperança? Tudo isso e, o que é pior, caminhamos para uma eleição presidencial radicalizada. Isto é mais do que ruim. É péssimo. O país precisa mudar. Precisa-se encarar a realidade e promover campanhas públicas contra o tipo de problema que hoje nos aflige – a corrupção e sua múltiplas faces.

O que a crise da área de frigoríficos demonstra ainda é que a publicidade está sob questão. A reação das redes sociais contra a propaganda feita por Tony Ramos para a Friboi foi abundante. O ator teve uma atitude lúcida. Veio a público, ameaçou romper o contrato, caso fique provada que a empresa é culpada, mas nas entrelinhas das suas entrevistas ficou demonstrado o quanto a simples construção e uma boa imagem são insuficientes na comunicação.

Pergunta: o que é hoje um profissional da comunicação publicitária? Que critério deve adotar para falar bem de um produto, de uma empresa? Qual deve ser o seu comportamento, por exemplo, quando ocorre um caso como o da Friboi ou quando uma construtora entra em falência e não entrega os imóveis prometidos?

De qualquer forma, a comunicação que fala a linguagem da ilusão está ruindo e a comunicação da consciência e da responsabilidade pede passagem. Nesse momento em que a pós-verdade e a corrupção contracenam na Galáxia de Gutemberg e na Galáxia da Internet, nada parece mais seguro do que cuidar da boa reputação. Que é construída no dia a dia e, historicamente, vem sendo sendo tão descurada em prol da imagem, tão frágil, tão facilmente demolida.

*Francisco Viana é jornalista e doutor em Filosofia Política (PUC-SP).

  

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