crise na saude do rio doisNão bastassem as crises econômica, política e ética que o país enfrenta, moradores do Rio de Janeiro não mereciam o presente de fim de ano que a megalomania de Sérgio Cabral e seu afilhado Pezão lhes proporcionou. O caos na saúde pública do Rio resulta de incompetência administrativa, falhas graves de gestão e falta de planejamento.

O Estado do Rio navegou nos últimos anos pensando que era rico e que essa riqueza era disponível rapidamente e inesgotável, mergulhado na megalomania do pré-sal, a exemplo do que Lula e Dilma tentaram impingir ao país, quando desfilavam com mãos sujas de petróleo pelas plataformas da Petrobras. Enquanto eles mostravam as mãos borradas pelo óleo negro, diretores da estatal manchavam de modo implacável a reputação da maior empresa brasileira.

Lula e Gabrielli maos sujasO governo do Rio não contava com a queda do preço do petróleo e com o escândalo da Petrobras, que fizeram a festa dos royalties do Petróleo se transformar em miragem. Para completar, a crise econômica reduziu o ICMS. O governo estadual não planejou, nem fez ajustes, mesmo quando o mercado sinalizava a crise chegando. A falta de controle do orçamento, num governo embevecido pela eleição, e a sedução da Copa e das Olimpíadas explicam o resto.

Segundo especialistas, além de evidentes problemas de gestão, que estão na origem do caos neste final de 2015, a crise tem três pilares básicos: a rede se agigantou, com o estado passando a prestar atenção à saúde básica, atribuição dos municípios, a partir da criação das UPAs em 2007; a adoção das organizações sociais (OS) como modelo de gestão, também sem o devido controle, se revelou uma experiência extremamente cara; e o fator econômico, com a queda de 52% na arrecadação dos royalties do petróleo, só este ano.

A crise na saúde do Rio atingiu tal gravidade que ocupou os telejornais da semana do Natal em nível nacional. Hospitais recusaram atendimentos, mesmo de pacientes graves. Alguns foram fechados. Em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, o Hospital da Mulher fechou a emergência. No hospital Albert Schweitzer, os diretores chegaram a procurar a polícia para afirmar que não tinham como manter a unidade funcionando, segundo denunciou o jornal O Globo. O descalabro chegou a tal ponto que pela primeira vez estamos vendo pacientes, médicos e enfermeiros unidos pedindo melhores condições de atendimento nos hospitais. Todos são vítimas desse conjunto de fatores negativos, aliado à má gestão e ao marketing eleitoreiro.

Saúde não é prioridade

crise no rio empregadosSaúde nunca foi prioridade no país. Mas pelo menos o atendimento básico da população do Rio deveria ter sido preservado. Não importam obras arquitetônicas dispendiosas, como a recuperação da Praça Mauá e da zona portuária do Rio, ou a inauguração de museus com tecnologia e projeções do século XXI, nem VLTs e vias expressas que correm o risco de não ficar prontos; não adianta transformar o Rio de Janeiro num imenso canteiro de obras, se a população mais humilde, aquela que precisa realmente dos serviços de saúde, por não ter planos assistenciais, espera meses para fazer uma simples cirurgia ortopédica, que deveria ser imediata; ou são atendidos no chão por falta de leitos e macas. Em que um aposentado, após um calvário de porta em porta, não encontra hospital em condições materiais e disposto a atendê-lo, até morrer por falta de assistência. Como explicar ao paciente que os "reanimadores" cardíacos que faltam em hospitais estão reservados para a Rio-2016?

O sofrimento da população do Rio tem origem, primeiro no descalabro da saúde pública no Brasil. A saúde apontada em quase todas as pesquisas como “o maior problema do país”, praticamente no mesmo nível da corrupção e da falta de segurança. Não há prioridade do governo federal para a saúde, mergulhada sempre num eterno mar de lama, burocracia e empurra-empurra. E segundo, nas falhas do próprio estado, que administra o Rio pela viés do Pão de Açúcar e do Corcovado, de costas para a zona Norte e a população mais pobre da baixada fluminense.

Essa doença na saúde pública é endêmica. Quem não lembra do ‘Escândalo dos Sanguessugas’, que estourou em 2006, também conhecido como “máfia das ambulâncias”? Desvios de recursos, greves, esquemas para fraudar o ponto, faltade leitos, de equipamentos, pagamentos “por fora” de médicos que atendem pelo SUS, são práticas a que os brasileiros se acostumaram. Planos de Saúde que enganam e expoliam idosos. Se não, como explicar a atual crise da microcefalia que assola, principalmente, estados do Nordeste e aterroriza mães grávidas, sujeitas ao contágio com o zika vírus, que poderia ter sido evitada com um bom trabalho de prevenção? Lá mesmo, onde foram construídos estádios faraônicos em Fortaleza, Recife e Natal, para a Copa do Mundo, praticamente ociosos, e faltam recursos para combater o mosquito, o que pelo menos teria contribuído para reduzir a incidência da doença.

No caso do Rio, há uma combinação de desvios de recursos para projetos megalômanos, com falta de gestão para prioridades básicas da população. Em benefício do marketing e de preparar o Rio para as Olimpíadas, os governantes esqueceram que a saúde é o bem mais precioso da população.

O Rio é o retrato do Brasil

Não há como Sérgio Cabral e Pezão culparem Garotinho, como fizeram em 2007, pela “calamidade pública” na saúde do Rio. Eles são os culpados. A situação hoje é pior do que em 2007, com uma dívida de R$ 1,4 bilhão com fornecedores, incluindo as Organizações Sociais, que administram os hospitais. Muitas estão colocando recursos do próprio orçamento para não fechar unidades e não perder os contratos. Falta tudo nos hospitais públicos do Rio, inclusive nos federais, do esparadrapo, às luvas e ao algodão, aos aparelhos reanimadores. Nada é mais emblemático do que a imagem de uma enfermeira chorando, divulgada no Jornal Nacional, da Rede Globo, por sentir-se incapaz de ajudar as pessoas que chegam sofrendo no hospital onde trabalha.

Pezão admite que o Rio está quebrado. Como diz a colunista Miriam Leitão, na coluna deste domingo: “Tudo bateu este ano, mas a crise estava desenhada há tempos. Faltou, portanto, planejamento administrativo para se preparar para a falta de recursos que impede o cumprimento de compromissos normais. O ajuste do Rio tinha que ter começado bem antes, com a redução do gasto para preservar as atividades essenciais.”

Ou como preconiza Bernardo Melo Franco, na “Folha de S.Paulo”: a crise no Rio “jamais chegaria a este ponto sem os gastos bilionários da Copa e Olimpíada. Parte da verba que sumiu foi torrada na fantasia dos grandes eventos esportivos”. Cabral e Lula se abraçando, quando o Rio foi escolhido para sede dos Jogos Olímpicos, é o símbolo mambembe dessa megalomania eleitoreira e comercial de torrar recursos públicos sem representar a contrapartida em benefícios sociais e econômicos para o Brasil. Como aconteceu na Grécia. Não foi preciso esperar muito pelo legado desses megaeventos. Da forma mais amarga e desumana possível, já o estamos colhendo.

A presidente da República, via ministério da Saúde, também é cúmplice desse descalabro. Apareceu no Rio na hora do marketing, para inaugurar o Museu do Amanhã e sumiu quando o filme de horror nos hospitais lembrava muito um outro: “O passado me condena”. Evitou a viagem para não ser vaiada. “O colapso do sistema da saúde do Rio retrata a capacidade de seu governo de viver na fantasia do amanhã”, nas sábias palavras de Elio Gaspari.

Ao dizer que “o Estado não fabrica recursos”, o governador do Rio tentou se safar da responsabilidade. Mas quem gastou? Quem não soube priorizar investimentos ou não se preparou para enfrentar as obrigações para suprir as necessidades mais básicas da população que paga impostos? Sim, os governos, tanto federal, quanto estadual, são responsáveis pelas dor dessas pessoas e pelo agravamento da saúde de pacientes que nos últimos meses têm percorrido hospitais em busca de atendimento. E encontram portas cobertas com tapume. Para eles, o que representam pistas, estádios, ginásios e museus?

A pressa do governo federal em socorrer Pezão, afundando num buraco cavado por ele e seu padrinho, não se deve apenas à pressão popular, à vergonha ou porque se sensibilizaram com as imagens. Tem a ver muito mais com a preocupação em não deixar o PMDB do Rio afundar mais ainda, com medo de perder a liderança para Eduardo Cunha, desafeto da presidente Dilma. Tudo tem a ver com a fragilidade de Dilma na presidência e não com a da saúde dos fluminenses, relegada há meses para segundo plano.

A criação de um Gabinete de Crise às vésperas do Natal chega a ser uma afronta aos habitantes do Rio. Primeiro, pela intempestividade. Qualquer manual de Crise preconiza que a criação do Gabinete de Crise deve ser uma ação pré-existente à crise, trabalhando com foco na prevenção, preparação, controle, primeiro para evitar que a crise chegue ou, em último caso, para mitigá-la, se acontecer. Segundo, porque o Gabinete de Crise só foi lembrado pelo tremendo desgaste do governo na mídia, com as cenas chocantes que apareceram nas imagens de televisão. No momento propício a imagens sempre bonitas de papais-noéis e enfeites luminosos de Natal, os telespectadores assistiram ao filme de horror dos doentes do Rio em busca de socorro.

Se alguém está pensando que Pezão e companhia estão preocupados com essas humildes pessoas que procuram os hospitais, esqueça. Governo federal, Pezão, Cabral e o garoto-propaganda Eduardo Paes só pensam naquilo. Qual o próximo megaevento que possa promovê-los e consertar o estrago que esses doentes acabaram trazendo para a imagem deles e da cidade que dormiu sonhando que era Londres ou Paris e acordou com hospitais apresentando cenas semelhantes às de Alepo, a cidade bombardeada e quase destruída pela Guerra na Síria.

Fotos: 1) Agência O Globo/O Globo - Mãe chora por não encontrar atendimento para o filho em hospital do Rio, em 23/12/15. 2) Protesto de médicos contra a crise na Saúde do Rio - Photo Press/Estadão - 23/12/15.

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