brasil crisePolícia Federal faz buscas em residências de figuras que ontem participavam de reuniões para decidir o futuro do país.

Está muito difícil explicar para uma criança de 10 ou 12 anos o que acontece no país atualmente. Como ensinar cultura cívica, explicar como se constitui uma nação, definir os poderes que regulam a vida do cidadão quando todos os dias os brasileiros assistem a um verdadeiro festival de pessoas públicas intimadas, presas ou constrangidas por operações da Polícia Federal.

Pelo menos há um ano e meio esse teatro do absurdo parece ter se incorporado ao dia a dia do País. E não há sinais de que acabe. Quanto mais a PF e o MP se aprofundam nessa máfia que tomou de assalto o país nos últimos anos, de empreiteiros a políticos; de governantes a parentes e burocratas, muitos travestidos de afiliados políticos, nos deparamos com denúncias que transformam o Mensalão num inocente chá de freiras às 4 horas da tarde.

A cada manhã o país acorda com nova operação da Polícia Federal chegando mais perto do poder. Choca ainda mais, porque envolve pessoas que há alguns dias ou meses sentavam nas reuniões da presidência da República decidindo o futuro do país.

Se não, vejamos quem foi atingido hoje pela Operação Catilinárias: Eduardo Cunha (todo poderoso presidente da Câmara), Henrique Alves (ex-Câmara e agora Turismo), Celso Pansera (ministro), senadores e ex-ministros Edison Lobão e Fernando Bezerra Coelho; Sérgio Machado (ex-presidente da Transpetro), deputado federal Aníbal Gomes, Fábio Cleto (ex-vice-presidente da Caixa) e mais uma plêiade de figuras, a maioria ligados ao PMDB.

O que a PF foi fazer hoje na residência deles e ou de familiares e de outros tantos com 53 mandados de busca e apreensão? Tentar buscar documentos e provas; ou evitar que estas sejam destruídas. Custa crer que alguma prova tenha deixado de ser destruída, após tanto tempo em que esses nomes já andam rolando nos gabinetes da PF e do MP. Se eles foram “safos” para se envolver em falcatruas e participar do festival de corrupção da Petrobras e de outras empresas, não seriam tolos para deixar provas à mercê da PF e do japonês que virou o triste símbolo das figuras presas nas operações da PF, desde o ano passado.

De acordo com a PF, os investigados respondem a crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, entre outros. Naturalmente, os advogados regiamente pagos virão de novo com a cantilena de que “não há provas”; “que o réu é inocente”, como se a PF e o MP estivessem brincando todos os dias de investigar, fazer buscas e prender, apenas para ficar nas manchetes. Esses acusados poderiam nos poupar pelo menos das entrevistas dos advogados.

Como é possível uma empresa séria planejar alguma coisa no país para 2016, diante de um cenário desses? Qual multinacional estrangeira aprovaria a vinda para cá, diante da incerteza de quem será o presidente da República nos próximos meses; de quem comandará a Câmara dos Deputados, o Senado, o ministério da Fazenda e demais ministérios, até porque o titular de hoje pode tanto estar em Brasília, quanto em Curitiba ou em alguma penitenciária por aí?

Por isso, os movimentos pró-impeachment crescem. Ante a inércia e incapacidade de iniciativas da presidente da República frente as graves crises que o país enfrenta (porque são várias) e da incompetência de seu ministério em ajudá-la a encontrar a saída para o imbróglio em que se meteu e nos meteu, muitas pessoas que, em situação normal, talvez não apoiassem o impeachment, torcem para alguma coisa acontecer. Pelo menos para o país escapar do marasmo que destrói 5 mil empregos por dia; paralisa o Congresso Nacional; tumultua e sobrecarrega o Judiciário e o Ministério Público; posterga ações emergenciais na Saúde, na Segurança e na Educação. E impede investimentos que poderiam gerar empregos. Essa inação tira daqueles que nada têm a única coisa com que ainda poderiam sonhar: a esperança.

 

Essa inação tira daqueles que nada têm a única coisa com que ainda poderiam sonhar: a esperança.

 

Há um terrível “gap” de liderança no país hoje. Parece um transatlântico a navegar sob forte tempestade sem os passageiros sentirem firmeza do comandante, tanto em buscar um porto seguro, quanto em ações para salvá-los. Não é um Messias de que o país precisa. Apenas um líder com credibilidade, iniciativa e mais preparo. Isso se deve à forma como as benesses do Poder são geridas e repartidas historicamente no Brasil. De que a Operação Lava-Jato é apenas um dos tristes exemplos.

Não precisa ser expert em análise política para perceber que o Brasil foi vítima de um grupo que tomou o poder, mancomunado com empresários, politicos, burocratas, lobistas e operadores para criar mecanismos muito sofisticados de desviar recursos públicos. Os tentáculos se estendem a projetos megalômanos: ferrovia Norte-Sul; transposição do Velho Chico; megarefinarias; pólos petroquímicos; plataformas; usinas nucleares, hidrelétricas, onde jorra muita água e muito dinheiro. Dutos recheados de R$ bilhões, que escoam para contas na Suíça e para as campanhas políticas. Obras superfaturadas prontas para cobrir os interesses privados. Ou esquemas montados em gabinetes da Esplanada para martelar a contabilidade do Tesouro Nacional e parir a pior crise dos últimos 25 anos no país. 

No momento em que um ex-presidente é intimado a depor na Polícia Federal, por causa de negócios do filho; que a presidente está ameaçada de ser apeada do poder; e os titulares de um dos poderes da República estão na iminência de serem denunciados, só resta à população torcer por um desfecho rápido. Já passou do momento em que alguém, com mais capacidade, deveria assumir as rédeas desse navio e dar aquilo que qualquer líder precisa mostrar nos momentos graves de crise: um norte. Exatamente o que atualmente não temos.

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