naufragio no mediterraneoO mundo assiste estarrecido há pelo menos um ano duas crises mundiais, sem que a ONU, a União Europeia e outros organismos internacionais consigam pelo menos amenizar, para não dizer resolver. Entre as várias crises que ocorrem hoje em muitos países, duas passaram a chamar mais a atenção.

Uma delas é o drama da corrente migratória da África em direção à Europa por refugiados de países pobres, muitos deles com guerras e revoltas de grupos armados, dominados ou ameaçados por milícias, terroristas e toda sorte de tragédias humanas. A Itália há uma semana pediu socorro à ONU pela quantidade de refugiados que chegam principalmente no porto de Siracusa, na Sicília, um dos lugares mais próximos à África. O país, e muito menos a comuna se Siracusa, com pouco mais de 100 mil habitantes, não têm mais condições de abrigar milhares de pessoas, que se jogam numa perigosa travessia pelo Mediterrâneo, a maioria só com a roupa do corpo. Chegam em precárias condições.

mapa da migracaoNão bastasse a quantidade de refugiados que chegam quase todos os dias, muitos deles mulheres e crianças, que precisam de ajuda imediata, alimentação, abrigo, remédios, assistência à saúde, a travessia se tornou o que o Primeiro-Ministro da Itália chamou de "genocídio". O Mediterrâneo se tornou uma perigosa ameaça para milhares de refugiados que se jogam numa aventura que lhes tem custado a vida.

Explorados por “coiotes” que aproveitam o desespero desses refugiados para arrancar dinheiro, eles são colocados em embarcações extremamente precárias, quando não são jogados ao mar, como aconteceu com alguns cristãos na semana passada. Arriscam a vida e acabam naufragando, transformando a tentativa de fuga em uma tragédia que já chama a atenção do mundo pelo número de vítimas e a facilidade com que os naufrágios acontecem.

No fim de semana, um navio português socorreu uma embarcação que naufragou. Segundo informações dos refugiados, pelo menos 700 pessoas teriam morrido no naufrágio. Apenas 24 foram resgatados com vida. Nesta madrugada de segunda-feira (20), mais mortes. De 300 a 450 pessoas teriam desaparecido em outros dois naufrágios. Este ano já teriam morrido na travessia pelo Mediterrâneo, vindo da África, 1.650 imigrantes, quase metade do registrado em todo o ano de 2014. Somente nos últimos dias, cerca de 1.000 imigrantes teriam morrido, com as mortes desta manhã, o que realmente se transformou num grande desastre humanitário.

O Exército Islâmico debocha

A outra crise não menos grave envolve a ousadia e o deboche do ISIS, o autodenominado Exército Islâmico, que nada tem de exército e muito menos de islâmico, a não ser o fanatismo terrorista e irresponsável, que viola todos os princípios religiosos e as leis internacionais. Esse grupo, combatido e perseguido por uma coalizão de dezenas países, liderados pelos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá e França, sequestra e mata quem discordar de suas ideias sectárias e fanáticas. Sequestram as mulheres, para vendê-las ou explorá-las como escravas sexuais, segundo relato das que conseguiram fugir; e meninos, para torná-los escravos e combatentes. Com práticas medievais de ocupação, exploração, condenação e execução, eles debocham do mundo ocidental, ao ostentar nas redes sociais inocentes indo para o cadafalso, sem julgamento, sem crime, apenas porque não aderiram às suas ideias ou pertencem ao mundo que eles odeiam.

Com todo o poderio das forças que os combatem, os aliados nessa batalha conseguiram até agora poucas vitórias, entre elas expulsar o Isis de Tikrit, no norte do Iraque, ocupada desde o ano passado. Ali foi achada uma cova coletiva, em que estavam semienterrados os corpos de 1.600 recrutas do Iraque, assassinados pelo Isis, quando invadiu a cidade. As minorias cristãs e os ocidentais parecem agora ser os preferidos dos terroristas.

Apesar da coalizão internacional perseguir os fanáticos, jovens principalmente da Europa continuam sendo seduzidos e cooptados pela Internet para se juntar ao grupo de terroristas. Desencantados, porque não conseguem emprego na Europa e em outros países da Ásia, os jovens são seduzidos pelos dólares prometidos pelo Isis, que continua faturando com o petróleo das regiões que ocupou na base da força e com o resgate de sequestros. O Reino Unido informou que 1.600 jovens de origem britânica teriam se juntado ao Isis, o dobro do que as autoridades calculavam há pouco tempo, segundo reportagem do The Sunday Times deste domingo (19).

Enquanto isso a ONU, a União Europeia, a Igreja Católica e outras igrejas, além dos demais organismos internacionais, todos se limitam a condenar, divulgar notas, mas de concreto poucos avanços ocorreram no combate a esses fanáticos. Os EUA, desde o ano passado, têm intensificado os ataques às bases do Isis, não envolvendo soldados diretamente, mas dando apoio militar, principalmente após o assassinato de um jornalista cidadão americano. Mas, por mais intensos que tenham sido os ataques e o repúdio mundial, inclusive por líderes muçulmanos, o grupo terrorista parece não se intimidar.

O que se depreende, tanto da tragédia dos africanos, que arriscam a vida para fugir do caos, quanto dos que sofrem na mão dos terroristas do Isis, principalmente mulheres e crianças, é que as nações, por mais poderosas que sejam; ou os organismos internacionais, criados para promover a paz, o progresso e a civilização, estão sendo incompetentes para responder ao que a população explorada e necessitada almeja nas crises: segurança, proteção, mínimas condições de sobrevivência. Muito pouco para quem já não tem nada.

Foto: Matthew Mirabelli/AFP

Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress

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