boston 1Por mais que as grandes potências, alvos preferenciais de ataques terroristas, aprimorem os serviços de segurança, espionagem e repressão, não há como garantir segurança absoluta aos cidadãos.  Os fanáticos,  radicais de direita, de esquerda ou religiosos – atacam de surpresa, de forma covarde.

Os criminosos permanecem como que recolhidos, meses, até anos,  à espreita. Aparentam uma trégua. São até meio que esquecidos,  como aconteceu nestes últimos anos em relação aos americanos. De repente, eles surgem no meio da multidão, matando e mutilando crianças, mulheres, idosos.

As lembranças do 11 de setembro de 2001 nunca foram apagadas do território dos EUA. Por isso mesmo, ali se montou a maior máquina de monitoramento e prevenção a potenciais ataques terroristas do mundo, talvez só equivalente a do Reino Unido.

Triagem rigorosas em aeroportos, câmeras por toda parte, policiais disfarçados em locais de grandes aglomerações, como metrô, estações, eventos culturais e passeatas, uma burocracia infernal para conceder vistos, como se todo o estrangeiro fosse um terrorista em potencial. Nem assim, as grandes potências conseguem detectar todas as formas de ataques, como o acontecido em Boston na segunda-feira, feriado lá, de 15 de abril.

Quem os responsáveis queriam atingir, com bombas (pelo menos quatro) colocadas no meio da multidão e acionadas possivelmente por controle remoto? Um menino de oito anos, uma das vítimas dos malucos que possivelmente queriam desafiar o imperialismo dos EUA? Como diz o escritor Ernesto Sábato, "nós adultos, sempre temos uma parcela de culpa. Mas as crianças? Que culpa têm as crianças?"

Assim também foi na escola Sandy Hook, de Newtown, em dezembro do ano passado, quando um jovem americano resolveu matar crianças, utilizando as armas colecionadas pela mãe, para se vingar não se sabe de quê. Ela foi a primeira vítima do maníaco.

A surpresa dos Estados Unidos foi atestada pela declaração do chefe de polícia de Boston. Não houve qualquer alerta, por parte do serviço secreto, de um possível ataque, como aconteceu em outra ocasiões,  quando a vigilância foi reforçada. O autor do atentado agiu tranquilamente, sem ser incomodado.

Não há limites para a sanha de quem vive brigado com o mundo ou resolve eleger alguns alvos inocentes, não importa onde. Todo cidadão do mundo se transformou em alvo potencial, porque em eventos internacionais, como a Maratona de Boston, ou nos transportes públicos, aviões, trens, ônibus, sempre há milhares de turistas, empresários ou trabalhadores, que nada têm a ver com as brigas dos poderosos e os fanáticos.

Crises com perda de vidas sempre provocam caos e comoção

Crisis têm o dom de desestabilizar. No caso de Boston, os policiais corriam para todos os lados, pegando as armas sem saber quem perseguir, quem prender e sequer o que fazer. Os pedestres também ficaram atônitos, perdidos quanto ao destino a tomar. Poderia haver outras bombas nos arredores. Nessa hora, há um misto de impotência e decepção, por não poder evitar a tragédia. As autoridades investem tanto em segurança e não conseguem detectar a fera no meio da multidão.

A comunicação entrou em pane, a ponto de ser anunciado no Twitter que,  por ordem do governo,  as empresas telefônicas haviam tirado as linhas de celulares do ar para evitar ataques por controle remoto. O que seria uma insanidade, pois muitas vidas poderiam ser salvas com a comunicação funcionando.  Essa informação era falsa. Os telefones pifaram pelo excesso de ligações.

O presidente Obama agiu com cuidado, não atribuindo prematuramente a autoria do atentado ou do “incidente” a nenhum grupo ou motivação, até porque ainda não há pistas dos autores. Os psicopatas podem vir de dentro também. Como aconteceu em 1995, em Oklahoma (EUA), quando um americano detonou explosivos em um edifício, matando 168 pessoas, entre elas dezenas de crianças de uma creche, e causando mais de 500 feridos. Ou como aconteceu na Noruega em julho de 2011, quando um psicopata norueguês, de dentro do próprio país, resolve matar dezenas de jovens para manifestar sua revolta com o mundo ou com a própria existência.

No caso de Boston, de longe, parecia um atentado pequeno, porque à primeira vista não havia grandes danos materiais, por ter ocorrido na rua. Entretanto, o objetivo não era material, mas atingir o maior número de pessoas, pelo potencial destruidor das bombas.

Um ex-membro da Marinha que ajudou a socorrer os feridos disse ao The New York Times que “havia muitas pessoas sem pernas. Tudo era sangue. Você via sangue, fragmentos de ossos. Foi terrível”. Ele ajudou, pela experiência adquirida, a pôr torniquetes em várias pessoas que tiveram danos em membros superiores ou inferiores.  Além disso, a hora das explosões – quatro horas após o início oficial da corrida – coincidiu com grande aglomeração naquele local, por isso tantas pessoas ficaram feridas. O que denota uma preparação.

Lições de gestão de crises

Se nas primeiras horas podemos tirar algumas lições de gestão de crises, chamou a atenção como as redes sociais se transformaram no meio mais utilizado para disseminar informações, algumas corretas, muitas de utilidade pública, outras boatos, especulações. Pessoas anônimas pediam para quem tivesse wifi codificado nas proximidades do atentado, para liberar a senha, para facilitar o contato das pessoas com parentes ou o socorro médico.  Havia milhares de turistas entre os corredores e o público que assistia à corrida.

A Biblioteca JFK, de Boston, onde houve um incêndio logo após as explosões, utilizou as redes sociais, Facebook e Twitter,  para tranquilizar os parentes dos empregados, informando não haver feridos no staff. Como isso, amenizou especulações sobre o que aconteceu.  E os jornais que cobram uma tarifa pelo acesso, como The Wall Street Journal e The New York Times, liberaram o site, logo após as explosões,  para facilitar o envio de notícias e os contatos da população.

Por meio das redes, o governo local pediu à população para ficar em casa e evitar se dirigir ao local das detonações. Não queria mais tumulto e também por motivos de segurança.

Mesmo assim, milhões de posts colocados por pessoas ali presentes, repórteres, curiosos, analistas de plantão transformaram as redes num outro caos, a ponto de um escritor de Los Angeles desabafar: "O Twitter teve o seu melhor momento nos primeiros cinco minutos do desastre; e o seu pior, nas 12 horas após tudo acontecer."

As explosões criaram um caos também no transporte. Turistas não encontraram táxis, ônibus ou metrô para voltarem aos hotéis, como aconteceu com muitos brasileiros. Esse é um problema não resolvido nas crises que envolvem atentados, porque as autoridades determinam imediatamente a interrupção de voos e transportes terrestres, com medo de novos ataques. Talvez com ações preventivas, deva ser criado um lugar de “refúgio” para o caso de tragédias, como acontece nos grandes navios, para as pessoas se dirigirem nos casos de atentados. Ali seria organizada a identificação e o transporte. Evitaria a confusão, o caos e a falta de informação, como aconteceu ontem em Boston.

Nessa hora, por mais terrível que seja, forma-se uma corrente que tenta, pelo menos, amenizar os danos. As entrevistas foram comedidas, sem especulações. Também circularam no Twitter apelos para que a mídia não fizesse sensacionalismo ou publicasse notícias exageradas, prejudicando a estratégia da polícia metropolitana e o governo de tranquilizar a população, evitando o pânico. Nas primeiras horas, não se sabia sobre a existência de outras bombas ou a extensão do ataque. Descobriu-se depois mais duas bombas não detonadas, desativadas pela polícia.

Não há clareza como o atentado foi preparado e a autoria. Entretanto, isso também mostra como há um longo trabalho a fazer  em inteligência da informação para que a população se sinta mais segura.  Hoje, os EUA amanhecem analisando as consequências do atentado. Imediatamente repercutiu nas bolsas internacionais. Criou de novo uma grande insegurança quanto ao futuro. O monstro está vivo, ele apenas estava fingindo dormir.

Com diz o colunista Howard Fineman, do Blog Huffington Post, “Gritos são a doce música para os terroristas, a trilha sonora que eles precisam ouvir quando eles dramatizam suas queixas, assassinando inocentes. Eles são os inimigos da liberdade, pois seu único objetivo verdadeiro é prender a sociedade nas correntes do medo.”

Foto: John Tlumacki/The Boston Globe

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