Roy Greenslade (Greenslade Blog)                                            

the_times_primeira_paginaÉ da natureza da cultura da imprensa britânica que os nossos jornais optem por destacar o excepcional em vez do ordinário, do comum. O extraordinário sempre tem precedência sobre o ordinário. Isso pode ser compreensível. Mas isso ajuda os leitores a entender?

Olhe as primeiras páginas de hoje. The Sun, Daily MirrorDaily Express e Daily Star, todos repercutem a história da "menina Olímpica" Chelsea Ives – uma jovem de  18 anos acusada de ter atirado um tijolo em um carro da polícia durante um motim em Enfield.

Ela é uma embaixadora das Olimpíadas, uma das pessoas nomeadas para atender e receber os visitantes, nos jogos de Londres no próximo ano.

A primeira página do Daily Mail apresenta uma imagem da "menina milionária" Laura Johnson, acusado de roubar aparelhos eletrônicos de uma loja no Charlton, sudeste de Londres.

Somos informados de que ela é uma universitária quase graduada, que foi para uma escola de gramática e é filha de um empresário, supostamente de alta renda.

A primeira página do Times é dominada pela figura de uma universitária, Natasha Reid, sob a manchete "Por que eu fiz isso?". Ela é acusada de ter roubado uma TV.

Ficamos sabendo que ela vem de "um estrutura familiar confortável" e estava se preparando para uma carreira como trabalhadora social.

A primeira página do Daily Telegraph mostrou-nos duas fotos de um menino de 12 anos, condenado por roubar vinho de uma loja em Manchester. Ele "foi solto", diz a história, após ter sido dada uma ordem de encaminhamento (detenção) por nove meses.

O que une as histórias de Chelsea, Laura, Natasha e do anônimo menino de 12 anos de idade é que eles são exemplos atípicos das centenas de pessoas presas durante os tumultos.

Eles não exemplificam as características da maioria esmagadora das pessoas - homens, adolescentes e jovens, na faixa dos vinte, de origem pobre e pouca educação ou simplesmente pobres. No entanto, o quarteto é apresentado num padrão superior pelos jornais.

Eu posso entender o raciocínio dos editores. Eu estive lá. Eu já fiz isso. Mas estando de volta, anos depois de ser responsável pela produção de um jornal, é possível ver como a nova agenda da mídia tornou-se enviesada. Essas quatro pessoas não contam a história real. Eles não compartilham as experiências de vida da maioria das pessoas que romperam em violência através de nossas cidades.

De fato, colocando os holofotes sobre eles, os jornais tendem a obscurecer os problemas sociais mais amplos e profundos que deram origem ao fenômeno sem precedentes de caos em massa com o vandalismo, saques, incêndios criminosos, assalto, e quatro assassinatos. 

Cada um dos quatro preenche uma descrição histórica cunhada por um ex-colega: eles têm o "Hey Doris factor". Em outras palavras, eles despertam o interesse por causa da sua diferença. Mas será que este interesse se estende além da estranheza em si? Isso leva as pessoas (leitores) a conhecer a história verdadeira?

A propósito, eu aceito que a imagem do menino de 12 anos também foi a imagem principal na primeira página do The Guardian. Mas foi uma barra lateral para a manchete, que foi o confronto entre o primeiro-ministro e a polícia.

E, como registro, o The Independent também se concentra em uma história política, sobre como David Cameron se prepara para dar à polícia poderes extras.

Roy Greenslade é colunista do jornal The Guardian, Londres.

Riots coverage: are newspapers right to highlight the extraordinary? 

It's in the nature of British press culture that our newspapers choose to highlight the exceptional rather than the run-of-the-mill. The extraordinary always takes precedence over the ordinary.

That may be understandable, but does it help readers to understand?

Look at today's front pages. The SunDaily MirrorDaily Express andDaily Star all splash on the story about "Olympic girl" Chelsea Ives - an 18-year-old alleged to have thrown a brick at a police car during a riot in Enfield.

She is an Olympics ambassador, one of the people appointed to meet and greet visitors at the London games next year.

The Daily Mail front page features a picture of "millionaire's girl" Laura Johnson, who has been charged with stealing electronic goods from a store in Charlton, south-east London.

We are told she is a university undergraduate who went to a grammar school and is the daughter of a supposedly high-earning businessman.

The Times's page 1 is dominated by the picture of a university graduate, Natasha Reid, under the headline "Why did I do it?". She is alleged to have stolen a TV.

We learned that she was comes from "a comfortable background" and was preparing for a career as a social worker.

The Daily Telegraph front page showed us two pictures of a 12-year-old boy convicted of stealing wine from a store in Manchester. He "walked free", said the story, after being given a nine-month referral order.

What unites the stories of Chelsea, Laura, Natasha and the anonymous 12-year-old boy is that they are untypical examples of the hundreds of people arrested during the riots.

They do not exemplify the characteristics of the overwhelming majority of people - male, teenage and 20s, poorly parented, poorly educated, and just plain poor. Yet the quartet are given top billing by papers.

I can appreciate editors' reasoning. I've been there. I've done that. But standing back, years on from being responsible for producing a paper, it's possible to see how skewed our news agenda has become.

These four individuals do not tell the real story. They do not share the life experiences of most of the people who went on the rampage through our towns and cities.

In fact, by putting the spotlight on them, papers tend to obscure the wider and deeper social problems that gave rise to the unprecedented phenomenon of mass mayhem with vandalism, looting, arson, assault and four murders.

Each of the four fulfils a story description coined by a former colleague: they have the "Hey Doris factor".

In other words, they excite interest because of their difference. But does this interest extend beyond the oddity itself? Does it lead to people overlooking the genuine story?

By the way, I accept that the picture of the 12-year-old was also the main image on The Guardian's front page. But it was a sidebar to the splash, which was about the clash between the prime minister and the police.

And, for the record, The Independent (and i) also concentrated on a political story, about David Cameron preparing to give the police extra powers. 

Posted by Roy Greenslade, August, 12, 2011. 11.54 BST

Tradução: João Paulo Forni

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