suicidios fotoA imprensa segura a informação. De início, quase sempre as empresas negam. Depois, admitem reservadamente. Mas na maioria dos casos, quando o assunto se torna um risco à imagem, não há como esconder. Estamos falando de um fato muito comum nas organizações modernas e que pode ser o estopim de crises, quando mal administrado: o suicídio de empregados.

Desde 2008, a France Télécom, empresa de telefonia da França,  tem enfrentado uma onda de suicídios. O caso da France Télécom já foi analisado neste Blog. Em abril deste ano, o número de suicídios entre os empregados, em dois anos, chegou a 46. Em quatro meses de 2010, eram 11. Os sindicatos atribuem essa onda às pressões da empresa, que teve parte do capital privatizado, com metas e cobranças austeras sobre os funcionários. Há dois anos, as empresas PSA Peugeot Citroën e Renault também enfrentaram problemas semelhantes na França.

China e as pressões do capitalismo

Este ano foi a China que pulou para as manchetes de suicídios. Embora o país controle rigorosamente os meios de comunicação, não teve como segurar a notícia. Os suicídios cresceram em empresas fornecedoras de gigantes americanas de tecnologia, como Apple, Dell e IBM. Uma delas, a Foxconn Tecnology começou a ter problemas com empregados na própria sede. São jovens entre 18 e 24 anos que não aguentam a pressão por produtividade e acabam cometendo suicídio em casa ou se jogando das instalações da empresa. Ma Xiangqian, 19 anos, foi achado às 4h 30 em frente ao prédio do alojamento em janeiro deste ano. A irmã afirmou que ele odiava o emprego. Até maio, foram 13 suicídios na companhia.

A geração atual de trabalhadores na China, onde os suicídios começam a preocupar, discorda da forma como seus antepassados trabalhavam. O suicídio acaba sendo uma forma trágica de protesto contra as condições de vida e trabalho na Foxconn. O resultado dessa pressão é o país começar a enfrentar uma realidade bastante comum no mundo capitalista, mas desconhecida para os chineses, até há bem pouco tempo: as greves. A mão de obra barata não aceita mais trabalhar em regime quase escravo. Prefere abandonar o emprego e procurar outro. Para aliviar a tensão, a Foxconn anunciou em junho um aumento de 33% nos salários da maioria dos empregados.

Naturalmente, a empresa, com sede em Taiwan, mas com 800 mil empregados na China, negou que os suicídios estejam relacionados ao trabalho, dizendo que seria resultado de doenças sociais e problemas pessoais dos jovens trabalhadores migrantes.  Mas ativistas acusam a companhia de ter um estilo de administração rígido, uma linha de montagem excessivamente rápida e excesso de trabalho.

A Índia também é outro país asiático onde foi constatado um alto índice de suicídios entre agricultores da Província de Punjab. Segundo organizações não governamentais, 2 mil agricultores cometem suicídio por ano, uma taxa altíssima, ignorada pelas autoridades. Eles chegam a esse extremo para fugir da vergonha das dívidas crônicas relacionadas aos insumos agrícolas, como sementes e pesticidas, e à queda nos rendimentos.

Traumas de pós-guerra

Outra organização vítima dos suicídios é o exército americano. Em junho último foram registradas 32 mortes, o maior número de suicídios desde a Guerra do Vietnã. Das 32 mortes, 21 foram cometidas por combatentes em atividade, sete no Iraque ou Afeganistão. Desde janeiro, 145 soldados americanos se mataram. Em 2009, foram 245. Oficialmente o exército dos EUA não tem uma explicação para a onda de suicídios. “Não há uma tendência ou linha comum”, dizem os oficiais. Os dirigentes da associação de veteranos asseguram que os soldados têm medo ou vergonha de procurar ajuda.  

“O pesado estigma associado a doença mental impede muitos membros da ativa e veteranos de procurar tratamento”, disse um oficial americano. “Mais da metade dos soldados e mariners no Iraque, que foram diagnosticados como positivo para algum problema psicológico, temem serem vistos como fracos por seus companheiros de serviço”.  Por isso se recolhem na própria solidão. O exército tem um serviço telefônico 24 horas para dar assistência aos soldados. Os problemas são muito parecidos, sempre ligados à baixa auto-estima e traumas de guerra. Criada em 2007, a linha, com número especial para atender soldados ou veteranos em crise,  já recebeu 300 mil chamados em 15 ramais telefônicos.

Como agir nos casos de suicídio

Essa é um evento negativo bastante difícil de enfrentar. Trata-se de um tema delicado, na maioria das vezes relacionado a problema pessoal e nada tem a ver com a empresa. Mesmo quando o suicídio ocorre nas instalações da empresa, não significa necessariamente o seu envolvimento no episódio.  Valem também para esse tema os preceitos básicos de gestão de crises: transparência, clareza de informação e discrição. Até porque o assunto é preservado pela ética médica e respeitado pela imprensa.  

Na década de 90, o Sindicato dos Bancários começou a pautar a imprensa com informações sobre o número de suicídios no Banco do Brasil. Argumentavam que os casos haviam aumentado, em função do Plano de Desligamento Voluntário-PDV, implantado pela empresa. E também pela pressão dos chefes para cumprimento de metas. Os jornalistas aceitaram a pauta e começaram a divulgar as informações, mesmo inconsistentes.  

A assessoria de comunicação do BB encarou o problema de frente. Resolveu fazer um levantamento com a Previ (o fundo de pensão e aposentadoria dos empregados) sobre todos os casos de suicídios na empresa durante o ano do PDV e constatou que não passavam de 12. Essa seria a média anual, num contingente de quase 100 mil pessoas. Esse número estava dentro da média nacional para grupos de 100 mil habitantes e abaixo do índice de países onde o suicídio é um problema real, como Suécia, Japão e China, com média superior a 20. Comprovou também que não havia qualquer prova de que os suicídios, cometidos em sua maioria em casa, tinham alguma relação com pressões na empresa. Alguns, comprovadamente eram por problemas amorosos ou dívidas.  

Essas informações foram repassadas à imprensa, sempre que a assessoria era procurada com a pauta bastante constrangedora. Com isso, o tema deixou de despertar o interesse da imprensa. Em alguns casos, quando se trata de autoridade, em que não existe nenhuma relação com a instituição ou o governo, basta uma Nota à imprensa bastante lacônica, comunicando a morte do servidor e lamentando o ocorrido, mas sem entrar em detalhes. A imprensa, nesses casos, age de maneira bastante discreta e compreensiva. Só são explorados os casos em que há escândalo, como fraudes, desvios ou suspeita de crime. Ou no envolvimento de celebridades. Até porque, não compete à organização afirmar que se trata de suicídio, mas à polícia.

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