Capa RelatorioDois anos de pandemia e uma guerra para fechar um ciclo de atraso da civilização. A maior migração de pessoas sem destino certo, desde a II Guerra Mundial. O que propiciou teorias absurdas, um certo messianismo barato, aliado a um cenário de incertezas. É surpreendente admitir. Mas o mundo não estava preparado para o golpe do Coronavírus. Nem os países ditos adiantados. Foi como se uma tempestade tivesse iniciado em 2020 e continuasse um ano depois. Como não estava preparado para uma guerra. Às vésperas da decisão surpreendente e absurda de Putin, de invadir a Ucrânia, muitos analistas e até governantes experientes negavam ou duvidavam que o fato realmente ia se efetivar.

É ainda sob o choque desse cenário de apocalipse que acompanhamos análises e pesquisas sobre esses dois anos totalmente atípicos e estressantes. Só faltava uma guerra para ser pior. Não falta mais.

A divulgação do Edelman Barometer 2022* mostra como, após dois anos de pandemia, a confiança nas instituições e nas autoridades, seja das empresas ou seja dos governos, acabou se deteriorando. Não é um fenômeno que começou durante os anos 2020 e 2021. Essa confiança foi se derretendo desde 2008, quando a crise econômica varreu os mercados, não importava o poder econômico dos países, e os governos foram incapazes de apresentarem soluções rápidas e eficazes. Coincide também com as grandes ondas de imigração do Oriente Médio, da África e da Ásia em direção à Europa, principalmente.

Preocupação com Fake News

Os entrevistados se preocupam que as 'fake news' sejam usadas como uma arma

Quando se fala em confiança, significa também credibilidade, a certeza de que são fontes que agem e produzem conteúdos importantes para as organizações e para os clientes. Governo e mídia alimentam um ciclo de desconfiança, uma vez que nos últimos anos vêm perdendo pontos na avaliação de quanto os stakeholders acreditam nessas instituições. Como os jovens da Europa e da América Latina, por exemplo, podem ter confiança em governos que foram incapazes de recuperar a economia, melhorar a qualidade de vida e gerar empregos? Em alguns países o índice de desemprego dos jovens chegou a ultrapassar 25%. Ou mais. O que um jovem recém formado espera, nesses países, quando chega ao mercado de trabalho?

Sobre os escombros de 2008, que ainda não tinha sido de todo retirado, junto com a surpresa de uma pandemia de nível global, o mundo acabou registrando um enorme “gap” na confiança, que ano a ano se acentua, difícil de ser revertido. Quase 1 em cada 2 entrevistados, mostra a pesquisa da Edelman*, vê o governo e a mídia como forças divisórias na sociedade.

Edelman 2022 Confianca nas fontes

 

"Dois anos após uma pandemia que correu mundo, os inquiridos veem os cientistas como membros mais confiáveis ​​da sociedade – por três quartos das pessoas – enquanto os líderes governamentais são os menos confiáveis.

“O governo foi a instituição mais confiável em maio de 2020, quando o mundo procurou uma liderança capaz de enfrentar uma pandemia global”, diz Richard Edelman. “Agora, após a resposta confusa, quando se trata de competência básica, o governo é menos confiável do que empresas e ONG´s. As pessoas ainda querem que o governo enfrente os grandes desafios, mas apenas quatro em cada 10 inquiridos afirmam que o governo pode executar e obter resultados”.

A pesquisa também coloca as empresas, os negócios na berlinda. Até porque elas não estão fazendo o suficiente para resolver os problemas sociais, ambientais e econômicos. E não vale dizer que as empresas visam o lucro e não têm papel social. A agenda da ESG – (da sigla em inglês -  ambiental, social e governança, em português) deixa bem claro que as empresas – não importa o ramo de negócio e a bandeira – têm sim um importante papel social, representado pelos cuidados com os empregados, com os clientes, a sociedade e os acionistas.

Nos últimos dias, temos visto uma debandada das grandes marcas multinacionais como Apple, McDonald's, Boeing, Google, cerca de 300 empresas 'fugindo' da Rússia para não terem seus nomes associados à barbárie que está acontecendo na Ucrânia. Elas não saíram porque quiseram; porque odeiam a Rússia ou os russos. Mas pelo medo de perderem negócios no resto do mundo e de terem a marca associada ao ataque covarde de Putin a um país independente.

Voltando ao Edelman Barometer, metade dos pesquisados diz que mudanças climáticas, a desigualdade econômica e a requalificação da força de trabalho são temas que não estão na preocupação das empresas.

"O fracasso da liderança torna a desconfiança o padrão

 Para restaurar o ciclo da confiança, o Relatório Edelman aponta 4 vetores:

1. O papel social das empresas veio para ficar. As pessoas querem mais liderança empresarial, não menos.

2. Demonstrar progresso tangível.

Restaure a crença na capacidade da sociedade de construir um futuro melhor: mostre que o sistema funciona.

3. Concentre-se em planos de longo prazo.

Soluções sobre divisão; a liderança deve se concentrar no pensamento de longo prazo sobre o ganho de curto prazo.

4. Forneça informações confiáveis.

Informações confiáveis, consistentes e baseadas em fatos são essenciais para quebrar o ciclo de desconfiança."

Edelman 2022 Empregador mais confiavel

 

Os números apurados na pesquisa podem dar um norte sobre o que as empresas e os governos precisam fazer para se integrarem à agenda do século XXI. Podem-se tirar boas conclusões da pesquisa, principalmente quanto às fontes de informações mais confiáveis. Como as ‘fake news’ estão afetando o negócio e o comportamento dos consumidores; as dificuldades dos governos e demais organismos de solucionarem as crises globais; como o ‘medo’ na sociedade está crescendo. Medo de quê? 85% de perder o emprego; 75% de mudanças climáticas; 71% dos hackers e cyberataques; 65% de perder “a minha liberdade como cidadão”; e 57% de experimentar um preconceito ou racismo.

É surpreendente como três níveis de liderança, decisivos na gestão das organizações e, ao mesmo tempo, formadores de opinião, perderam confiança nos últimos anos. Teriam eles perdido a batalha da comunicação? Os líderes de governo, os jornalistas e os CEOs aparecem na pesquisa Edelman* com índice negativo de aprovação. Cientistas (75%), o colega de trabalho (74%) e o "meu CEO" (66%) são as pessoas mais confiáveis para os pesquisados. Importante: os pesquisados apontaram o próprio empregador como a fonte mais confiável. O que é muito importante para esse momento que vivemos, em que, de certo modo, há um clima de desânimo na sociedade com a forma com que muitas empresas atuaram nos últimos anos.

*O Edelman Barometer trata-se de uma pesquisa anual, realizada (em 2022) em 28 países, com 36 mil pessoas, sobre confiança e credibilidade das instituições. Trata-se de um panorama bem completo para as empresas e os profissionais de comunicação conhecerem as tendências mundiais de confiança das instituições.

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