Museu foto boa 1O ano que passou vai ser sempre lembrado como aquele em que o Brasil, sem dar a importância que a História merece, perdeu um dos bens mais preciosos que possuía: o acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro. No dia 2 de setembro, sem ainda se saber como, o histórico prédio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, pegou fogo. Sem um sistema de alerta e nem equipamentos básicos anti-incêndios, que qualquer museu do mundo possui, a negligência e o desprezo pelo acervo que lá repousava levaram a essa desastre irreparável.

Era o maior museu de História Natural do Brasil, com um acervo de 20 milhões de itens, como fósseis, múmias, peças indígenas e livros raros, grande parte dele obtida por Dom Pedro II, no século XIX. O prédio ainda pode ser restaurado, mas o que se perdeu nesse desastre o transforma na maior catástrofe da cultura brasileira nos últimos anos. O incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro é apenas mais um, numa sucessão de acidentes parecidos que atingiram, entre outros, o Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, há 40 anos; e o Instituto Butantã, em 2010; o Memorial da América Latina, em 2013; e o Museu da Língua Portuguesa, em dezembro de 2015, todos em S. Paulo.

O Museu Nacional do Rio de Janeiro foi também mais um dos imóveis, sob gestão da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que pegou fogo nos últimos anos, numa sequência de prédios de faculdades, institutos e centros de pesquisa que, por falta de manutenção, acabaram incendiados. Seria mera coincidência? Ou resultado de uma gestão incompetente que não é capaz de preservar o patrimônio público?

Se alguém acha que essa não foi uma crise grave para o País, basta ver a declaração do presidente do Museu Nacional de História Natural de Paris, Bruno David, que disse: “É como a destruição do Museu de Berlim, na II Guerra”. Para ele, as perdas do Museu Nacional são irreparáveis para a humanidade.

O pior, como analisado no artigo abaixo, é reconhecer que foi uma crise prevista, anunciada. E não aconteceu absolutamente nada com o diretor do Museu Nacional, Alexandre Kellner, indicado para o cargo por viés político. Sequer foi demitido. Nenhum dirigente foi responsabilizado até agora. Mas ele é culpado? Naturalmente que sim. Não apenas ele, mas toda a gestão, em cadeia, incluindo a da UFRJ. Se alguém é gestor de um patrimônio cultural daquela importância, como deixar o Museu chegar ao nível de desleixo e risco no nível em que estava quando a tragédia aconteceu?

Como sempre acontece nesses casos, após a tragédia aparece um rosário de queixas, apontando os culpados. O diretor do Museu e o Reitor da UFRJ culpam o governo federal pela falta de recursos. Para Roberto Leher, "temos um problema muito grave em relação aos prédios tombados pelo patrimônio histórico e aos nossos museus, porque não existe nenhuma linha de financiamento do Ministério da Educação para museus e para prédios tombados. Todas as melhorias e investimentos feitos neste museu têm sido feitos com recursos da própria UFRJ, que, como todo o país sabe, tem sofrido quedas brutais no orçamento." Imaginem se todo o gestor no país usasse esse argumento para justificar o desleixo com um patrimônio como o do Museu Nacional. 

Em qualquer lugar do mundo se sabe que desastres naturais, como fogo, inundações, terremotos e mesmo os ladrões são os maiores inimigos dos museus. Mas faltava dinheiro. A UFRJ estava com problemas de orçamento. Mas perguntem se não havia dinheiro para outras rubricas não prioritárias. E por que a diretoria do Museu não foi à mídia, ao MEC, ao Congresso Nacional, ao Ministério Público e denunciou o grau de penúria do Museu e o perigo que corriam não apenas o prédio, mas principalmente o acervo? Após a tragédia não adianta dizer que não havia dinheiro. O que ali foi perdido, perdido foi para sempre.

Leia o artigo completo sobre a crise do Museu Nacional

Museu Nacional, uma crise prevista no limite da irresponsabilidade

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