professoresO que importa nas escolas são os professores. Felizmente, didática pode ser ensinada.

"Esqueça uniformes elegantes e turmas pequenas. O segredo para notas excepcionais e alunos promissores são os professores. Um estudo norte-americano descobriu que, em um único ano treinando os melhores 10% dos professores, é transmitido aos alunos três vezes mais aprendizado que os piores 10% dos professores conseguem. Outro estudo sugere que se os alunos negros fossem ensinados por 25% dos melhores professores, a defasagem entre o aproveitamento deles e o dos alunos brancos iria desaparecer.”

Esse é o tema de artigo (How to make a good teacher) publicado em junho pela revista britânica The Economist. O debate no Brasil faz todo o sentido, na medida em que nos últimos meses tivemos várias crises envolvendo escolas e o setor educacional. Na verdade, temos uma crise quase permanente na educação. Crises que vão desde o desrespeito dos alunos pela figura do professor, até a formação dos docentes, que resulta da própria crise da universidade brasileira. Professores mal formados, desmotivados e desvalorizados não fazem milagres.

Infelizmente, a escola deixou de ser instituição de referência para o jovem e a população em geral, no Brasil,  como acontecia, por exemplo nas décadas de 1950 ou 1960. E ao contrário do que acontece nos países mais adiantados. Aqui é mais fácil o jovem dedicar uma espécie de culto a uma multinacional da moda, a um conjunto musical ou até mesmo a locais de diversão do que à escola. Talvez seja o rescaldo de uma cultura que herdamos de não valorizar a educação, a disciplina e o respeito aos mais sábios. A escola se transformou numa obrigação compulsória, o que tem favorecido o alto índice de desistência até mesmo antes da conclusão do ensino médio. A degradação da profissão de professor, não apenas pela defasagem de salários, como pela fraca formação, também contribuiu para que a crise da educação talvez seja o maior desafio que o país terá de superar nos próximos anos, se quiser sair do atraso.

Por isso, é muito oportuno o artigo da The Economist. Ele trata da formação do professor, que no Brasil não é levada a sério. O título de "professor" vulgarizou-se, a ponto de ser adotado para qualquer pessoa que treine alguma coisa, do futebol às academias de ginástica, não importa o nível de educação que ele tenha. Quando se sabe que “professor” é outra coisa. Mas o que diz o artigo da The Economist?

“Mas os esforços para assegurar que cada professor possa ensinar são paralisados pelo forte mito de que bons professores nascem, não são preparados. Os heróis das salas de aulas como Robin Williams em “A Sociedade dos Poetas Mortos” ou Michelle Pfeiffer em “Mentes Perigosas” são dotados de poderes motivacionais excepcionais e inatos. Políticas governamentais, que geralmente partem do mesmo pressuposto, buscam aumentar os padrões de ensino atraindo formandos arrojados e estimulando a saída dos maus professores. Por sua vez, os sindicatos de professores insistem que, se apenas os seus membros fossem desobrigados da imposição central, resultaria em excelência.

“A premissa de que a habilidade de ensinar é algo que você tem ou não, está errada. Um novo grupo de instrutores de professores está criando uma rigorosa ciência da pedagogia. O propósito é tornar ótimos os professores medianos, assim como os treinadores esportivos ajudam seus atletas de todas as habilidades a melhorar seus próprios desempenhos (veja o artigo Teaching the Teachers). Se bem feito, isso irá revolucionar as escolas e mudar vidas.

Quis docebit ipsos doctores*

escola rural“A educação tem histórico de oscilar de uma solução milagrosa para outra. As melhores delas até são benéficas. O Teach for America, e dezenas de organizações que ele inspirou em outros países, trouxeram recém-formados ambiciosos e enérgicos para a carreira. E a ação de dispensar professores por mau desempenho melhorou os resultados em Washington e em outros lugares. Mas cada método tem seus limites. Ensinar é uma profissão de massa: ela não pode pegar todos os melhores formandos, ano após ano. Quando os professores ruins são demitidos, são necessários novos – e eles terão sido treinados pelo mesmo sistema que tentou fazer de seus predecessores bons professores.

“Em contrapartida, a ideia de aperfeiçoar o professor mediano poderia revolucionar toda a profissão. Ao redor do mundo, poucos professores estão bem preparados o suficiente antes de deixarem as rédeas soltas com as crianças. Em países pobres, muitos recebem pouco treinamento de qualquer tipo. Um relatório recente encontrou 31 países nos quais mais de um quarto dos professores de escola primária não atingiram os padrões nacionais (mínimos). Nos países ricos o problema é mais sutil. Os professores se qualificam após participarem de um longo e especializado curso. Isso muitas vezes envolve discussões insubstanciais sobre teoria – possivelmente sobre ecopedagogia ou conscientização (não pergunte). Alguns desses cursos, incluindo mestrados em educação, não têm nenhum efeito sobre o quão bem ensinados serão os alunos de seus formandos.

“O que os professores falham em aprender nas universidades e nas escolas de treinamento para docentes eles raramente captam no trabalho. Eles se tornam professores melhores em seus primeiros anos à medida em que se ocupam com alunos reais, em salas de aula reais, mas depois disso as melhorias diminuem. Em grande parte, isso se dá porque as escolas negligenciam seus pupilos mais importantes: os próprios professores. Ao redor do clube de países mais ricos da OCDE, dois quintos dos professores dizem que nunca tiveram a chance de aprender assistindo à aula de outro professor; nem nunca lhes foi pedido feedback sobre seus colegas.

Aqueles que podem, aprendem

 “Se isso for mudar, os professores precisam aprender como transmitir conhecimento e a preparar as mentes jovens para recebê-los e retê-los. Bons professores estipulam metas claras, impõem altos padrões de comportamento e administram sabiamente suas horas-aula.Eles usam técnicas institucionais testadas e comprovadas para assegurar que todas as mentes estão trabalhando todo o tempo, por exemplo, fazendo perguntas de forma inesperada e aleatória em sala, ao invés de contar que os mesmos alunos ávidos levantem suas mãos.  

“Incutir essas técnicas é mais fácil na teoria do que na prática. Com o ensino tal como as outras habilidades complexas, o caminho para a maestria não são as teorias incompreensíveis, mas a prática intensa e guiada do conhecimento do assunto e de métodos pedagógicos.  Os trainees deveriam passar mais tempo em sala de aula. Os lugares onde os alunos estão melhores, por exemplo Finlândia, Singapura e Xangai, submetem os jovens professores a um aprendizado exigente. Nos Estados Unidos, as escolas autônomas (charter) de alto desempenho ensinam seus trainees em sala de aula e os provoca por meio de coaching e feedback.

“As instituições de treinamento para professores precisam ser mais rigorosas – preferivelmente como as escolas de medicina que, há um século, aumentaram a qualidade dos médicos ao introduzir currículos sistemáticos e promover experiências em clínicas. É essencial que as escolas de treinamento de professores comecem a coletar e a publicar informações sobre o desempenho de seus alunos em sala de aula. Cursos que produzem professores que continuam fazendo pouco ou nada para melhorar o aprendizado de seus alunos não deveriam receber subsídios ou ver seus formandos se tornando professores. Então eles teriam que melhorar para sobreviver.

“Grandes mudanças são necessárias nas escolas, também, para assegurar que os professores melhorem ao longo de suas carreiras. Nas melhores escolas, os instrutores aperfeiçoam seus ofícios através da observação e do coaching. Eles aceitam feedback críticos – algo que o seu sindicato não deveria combater, mas aprovar como apropriado para pessoas que desempenham tão importante função. Os melhores diretores de escola apoiam seus professores novatos ao, digamos, dar-lhes planos de aula de alta qualidade e ao organizar para que professores mais experientes possam substituí-los quando aqueles precisarem de tempo para estudo e treinamentos adicionais.

“Dinheiro é menos importante do que você acha. Os professores das melhores classes da Finlândia recebem aproximadamente o salário médio da OCDE. Mas estando certo de que ter o melhor em sala de aula provavelmente, na maioria dos lugares, significa pagar mais. As pessoas que prosperam diante de seus alunos não deveriam se tornar gerentes para receber um aumento. E mais flexibilidade nos salários tornaria mais fácil atrair os melhores professores para as piores escolas.

“Melhorar a qualidade do professor mediano elevaria o prestígio da profissão, estabelecendo um ciclo virtuoso do qual os formandos mais talentosos implorariam para fazer parte. Mas os maiores ganhos virão ao preparar melhor os novos professores e promover os que já estão em sala de aula. A lição é clara; ela agora só precisa ser ensinada.”

* Quem ensinará os próprios professores.

Tradução: Isadora Rabelo Hausen

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