Caminhões que matam MGDifícil apontar qual a crise pior neste fim de ano. Mas qualquer levantamento vai mirar o trânsito nas estradas, principalmente, como uma grande ameaça à vida dos motoristas e passageiros Em 2024, O Brasil registrou 36.403 mortes no trânsito. E esse número aumentou pelo quinto ano consecutivo desde 2019, segundo o Ministério da Saúde. 6,16 mil pessoas morreram apenas nas rodovias federais, em 73 mil sinistros.

E, nesse contexto, os caminhões têm uma participação extremamente grave. Os constantes acidentes com caminhões quase sempre resultam em mortes, pela magnitude e até porque a maioria das ocorrências tem ocorrido à noite, quando motoristas estão cansados e os demais veículos aproveitam para correr.

Caminhões e ônibus

Em 2024, nas rodovias federais brasileiras, foram registrados 20.744 acidentes envolvendo caminhões e ônibus, com um total de 3.291 mortes e 24.148 feridos. Nessa guerra do trânsito, os caminhões representaram cerca de 16,3% de todas as ocorrências nas rodovias federais.

Em alguns estados, como o Espírito Santo, por exemplo, o trânsito já mata mais pessoas do que crimes violentos. Motociclistas e jovens são maioria das vítimas. De janeiro a outubro deste ano, 860 pessoas morreram no trânsito, enquanto 693 foram vítimas de homicídios no mesmo período, segundo dados do Observatório da Segurança Pública, naquele estado.

Entre as principais causas para esse morticínio no trânsito brasileiro, destacam os especialistas, estão o comportamento dos motoristas (velocidade, uso do álcool, celular e desrespeito às leis); a cultura de risco no trânsito (normalização das infrações; desrespeito aos outros motoristas); infraestrutura inadequada das estradas (mal conservadas, sinalização deficiente, falta de ciclovias); fiscalização insuficiente, principalmente no interior do país; falhas do poder público (lento nos reparos, priorização do carro e não do transporte público, que é insuficiente e ineficiente).

O que fazer? O Brasil está como um ônibus lotado, no trânsito complicado, e precisa de um freio de arrumação, antes que sofra um acidente. Admite-se até que evoluiu muito, o cinto de segurança, por exemplo, se tornou um hábito; as estradas principais, no sentido das áreas mais desenvolvidas, melhoraram muito nos últimos anos. E até o preparo dos motoristas também melhorou. Mas o governo precisa urgentemente melhorar a conservação e a fiscalização nas demais estradas, sobretudo as localizadas no interior dos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Não pode admitir como fatalidade que todos os dias tenhamos um acidente de caminhão, quase sempre com mortes, nas estradas brasileiras.

Diante desse cenário, o que é possível fazer para reduzir essa tragédia nas rodovias e até mesmo nas cidades?

Em dois anos, muito pouco mudou

caminhoes viloesEm julho de 2023, este site publicou o artigo “Quase metade das mortes nas rodovias federais do Brasil envolve caminhões”. Naquele artigo registramos dados da Policia Rodoviária Federal que informou números assustadores em acidentes com caminhões nas estradas federais. O que não deve ser muito diferente nas demais rodovias e até no meio urbano do país. 37% dos óbitos nas estradas do Brasil tinham a participação de caminhões. Ou seja, muito pouco mudou de 2023 para cá.

Excesso de jornada de trabalho, uso de drogas, pressão para acelerar as entregas e, por isso excesso de velocidade; condições precárias de descanso, valor de frete baixo e até uso de substâncias proibidas são alguns dos fatores que contribuem para os sinistros envolvendo caminhões.

"O crescimento no número de acidentes acompanha o aumento do fluxo de veículos. Ou seja, com mais tráfego, há uma tendência natural de elevação no número absoluto de ocorrências. Quando ponderamos os dados pelo volume de tráfego de cada ano, vemos uma estabilidade relativa no índice de acidentes", afirma o coordenador técnico da FDC, Ramon César. “Apesar do senso comum reforçar uma maior parte dos acidentes à noite, mais da metade ocorre durante o dia”, explica o professor. O levantamento também mostra que mais da metade das ocorrências (52,38%) se dá em rodovias de pistas simples. Em seguida, estão as pistas duplas (39,53%) e múltiplas (8,09%).

A velocidade segue sendo o fator de risco no trânsito mais letal e também o mais negligenciado por todos. É comprovado que reduzir a velocidade média em 5% pode diminuir as mortes em 30%.

Estados Unidos reduziram acidentes

Em 2025, os Estados Unidos, que possuem a segundo maior frota de veículos do mundo (283 milhões)* tiveram 17.740 mortes no trânsito, até junho. Dados não conclusivos indicam 40 mil mortes nas estradas americanas, em 2024. Nos Estados Unidos, há cinco anos os caminhões matavam milhares de pessoas por ano, principalmente pela falta dos para-choques laterais naqueles enormes caminhões que cruzam as rodovias americanas. O forte sindicato dos caminhoneiros se recusava a aceitar a obrigatoriedade de para-choques laterais, porque o material indicado era muito caro. Chegou-se ao ponto de descobrir até fraudes nas estatísticas desses acidentes, conforme revelou um documentário da PBS, a TV pública americana.

Neste final de 2025, dados preliminares do primeiro semestre indicam uma tendência de queda nos acidentes fatais envolvendo caminhões nas estradas dos EUA, dando continuidade a um declínio iniciado em 2022. No primeiro semestre de 2025 (janeiro a junho), estima-se que 1.600 acidentes fatais com caminhões foram registrados. Esse número faz parte de uma redução geral nas fatalidades em veículos motorizados, que apresentou uma queda de 8,2% em todos os tipos de acidentes durante esse período.

* A maior frota de veículos do mundo é da China, com 329 milhões de unidades: EUA, 283 milhões; Brasil é o terceiro maior, com 88 milhões de veículos.(Fonte: Instagram). Maiores frotas de caminhões: China, entre 20 a 30 milhões; Estados Unidos: 13,5 milhões; Índia, 4 milhões; Brasil, 2,2 milhões.

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