Francisco Viana

A Comunicação no Brasil ficou mais pobre neste domingo, 25 de agosto. Perdeu o jornalista Francisco Viana, 67, que morreu em Salvador, de parada cardíaca. Chico Viana era um dos maiores especialistas em comunicação empresarial do País, e autor, entre outros tantos livros, do "De cara com a mídia", em que abordava a nova problemática do relacionamento entre empresas, mídia, sociedade e poder público. Uma obra considerada indispensável pelos profissionais envolvidos na comunicação corporativa e estudantes da área.

Graduado pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, Mestre e Doutor em Filosofia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP e especialista em Media Training e Gestão de Crises, Francisco Viana possuia vasta experiência nas áreas de Comunicação Estratégica, Pública, de Crise e Filosofia da Comunicação, que podia ser comprovada pelas contribuições como escritor, professor, consultor de comunicação e colunista, palestrante e autor de diversos livros como "Hermes, a Divina Arte da Comunicação", "Marx, o labirinto da utopia", "Comunicação Empresarial de A a Z" e "A surdez das empresas: como ouvir a sociedade e evitar crises".

Chico Viana destacou-se como um dos grandes mestres da Comunicação no país; mente brilhante, criativa, inquieta e perturbadora para quem não quisesse ou não gostasse de debater. Todos nós que fazemos parte desse universo da Comunicação empresarial, principalmente, aprendemos muito com ele, não apenas nos livros, mas até num almoço, numa mesa de café. Dificilmente a lacuna deixada por ele será preenchida, pelo lastro de cultura que alimentou seu espírito inquieto durante toda a vida. Passou pela redação de diversos veículos de comunicação; pela comunicação corporativa de várias empresas. Deixou um grande legado de muitos livros e artigos publicados, escrevendo num estilo em que conseguia juntar a erudição sorvida nos grandes clássicos, de que tanto gostava, mais a formação filosófica, com a beleza e a clareza de um texto jornalístico impecável. Uma grande perda para a Bahia e o Brasil.

O pensamento de Chico Viana (como era chamado pelos amigos):*

"O Brasil se tornou uma terra mediada pelo social mais do que pela economia, mais pelas forças políticas, com raízes na população, do que pelas abstrações críticas. É uma situação que lembra, guardadas as proporções, a antiga Grécia ao ser invadida pelos romanos. Famílias enlouqueciam e se perguntavam: como podemos ser dominados pelos bárbaros? Não era exatamente assim. Como não é agora. A novidade é que a comunicação de um tornou-se um ponto de vista sobre a comunicação do outro. Vai demorar algum tempo que para que os polos dissonantes se entendam e que se afirme a educação, em larga escala, para a democracia, assim como caberá ao comunicador reeducar-se para compreender essa nova sociedade que emerge das urnas."

"As reclamações da sociedade precisam ser ouvidas. Elas, as reclamações, devem ser as tecelãs das mudanças para melhor, devem significar evoluções, devem significar, sobretudo, atenção e cuidado com o cidadão. O gestor democrático, público ou privado, como o representante político, precisam ser referências. Paradigmas de conduta."

"O Brasil vive uma situação paradoxal: quanto maior a liberdade, maior a intolerância. É como se houvesse uma vontade incontida de fazer como que todos fossem duplo dos outros, cópias fieis, como pregavam as utopias sociais, conservadoras ou à esquerda, nos séculos XVI e XVII – De Morus a Campanella. É um erro. Sem a crítica, não há evolução, não há dialética. Nem do conhecimento, nem da prática. Comunicar é partilhar, dialogar, absorver as diferenças."

"Primeiro, e o mais importante, é ouvir e atender as demandas da sociedade. Em paralelo, é urgente uma mudança total de comportamento. A coisa pública existe e deve ser cuidada. O interesse público se encontra acima dos interesses individuais."

"Eu sou uma pessoa muito positiva, gosto de ver as coisas pelo lado da construção, não dos problemas, que são, sim, para serem resolvidos. Nós brasileiros muitas vezes temos o hábito, péssimo, aliás, de criticar mais do que realizar. Prefiro abraçar, sempre, o ângulo da realização."

Artigo inédito de Francisco Viana, escrito pouco tempo antes de morrer, especialmente para este site:

Virilidade, mito que cai

 “(…) o sujeito só pode de fato centrar seu desejo se opondo ao que chamaremos de uma virilidade absoluta (…)” (JACQUES LACAN, O Seminário, livro V)

Acaba de sair na França, um livro que desconstrói, de alto a baixo, um dos poucos mitos masculinos que ainda parecia sobreviver: o mito da virilidade. No subtítulo, alerta. A virilidade, além de um mito, é uma armadilha para os dois sexos. A tese da autora, a filósofa Olívia Gazal é clara e soa realista: dialeticamente falar da virilidade é falar do feminismo, pois o homem construiu a narrativa da virilidade para ter poder de dominação e quando esta se esvai o que sobra? Nada. Só o próprio temor, não da mulher, mas dos fantasmas masculinos.

Por séculos, os homens tentam exorcizá-los. No passado, nas guerras, exibindo as forças das ereções, frequentando locais exclusivamente masculinos – clubes de tiro, bordéis, cavalariças -, não temendo águas geladas, duelos e castigos físicos ou simplesmente desdenhando de “impotentes”, “covardes” e “pusilânimes”. No presente, os fantasmas são enfrentados com o culto aos músculos, a rejeição à homofobia e a busca das modernas tecnologias para implantes penianos e as clínicas de rejuvenescimento. Em todas as tentativas, porém um fantasma persiste: o medo da caverna feminina, que o homem teme não ter vigor para penetrar. Soma-se que tanto no passado como no presente a virilidade foi quase sempre ambígua: circunstancial e aparente. Para entender ainda melhor a crise da virilidade é recomendável ler os três volumes da história da virilidade, sob a direção de Alain Corbin, Jean-Jacques Courtine e Georges Vigarello, que no Brasil foi editado pela Vozes. Os livros são ótimos e complementam à perfeição o livro da filósofa francesa.

Mais informações:

Título Le mythe de la virilité; Genero Ensaio; Autora: Olivia Gazalé; Editor Robert Laffont; Publicação Edition reliée; 416 pp.

*Esse texto sobre o pensamento de Chico Viana foi publicado no site Leia Mais.BA, em 25/08/19.

 

 

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