Brasil na secaO Procurador Geral da República incluiu o ex-presidente Lula, mais o empresário José Carlos Bumlai e seu filho Maurício Bumlai, em denúncia encaminhada ao STF, no processo em que acusa o ex-Senador Delcídio Amaral, junto com mais 30 pessoas. A decisão do PGR formaliza em linguagem jurídica bastante contundente o que a “voz do povo” há pelo menos dois anos reverberava nos bares e esquinas do Brasil.

A decisão da PGR a rigor não advém de perseguições da “mídia golpista”, do MP, de Sérgio Moro e muito menos da Polícia Federal. Ela se atém aos indícios cada vez mais fortes do envolvimento do governo, o que significa Lula, Dilma e vários políticos e assessores ligados ao PT e outros partidos nos escândalos da Petrobras e outras empresas do governo, em conluio com grandes empreiteiras. São denúncias que emergiram de delações de acusados, muitos deles já presos. Delcídio foi pescado numa gravação, onde transparece estar pilotando um esquema para abafar a Lava Jato.

A sabedoria popular e as redes sociais eram pródigas em duvidar que tantos desvios pudessem ter acontecido com pessoas ligadas ao governo sem que ninguém da Esplanada dos Ministérios, incluindo o Planalto, soubessem. Mesmo entre aqueles que não fazem parte do seleto clube de “formadores de opinião”, o volume de delitos praticados pela quadrilha que tomou conta da Petrobras, Eletrobras e outras empresas nos últimos anos não poderia ter acontecido sem o conhecimento dos caciques: presidente, ministros e titulares das empresas. Isso inclui, para citar apenas a cúpula do poder, Luiz Inacio Lula da Silva, Dilma Roussef e dirigentes, como Sergio Gabrielli.

As palavras do Procurador-Geral são duras sobre a atuação de Lula, ao abrir outra frente, no chamado inquérito-mãe da Operação Lava Jato, que apura os crimes que já levaram empreiteiros, políticos e operadores para a cadeia. “Pelo panorama dos elementos probatórios colhidos até aqui e descritos ao longo dessa manifestação, essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse”. O Procurador diz de forma bem clara que há indícios, e para isso precisa ser apurado, de que Lula comandava o esquema de corrupção. Uma autoridade não ousaria inferir denúncia dessa gravidade se não estivesse sustentada por indícios muito evidentes.

Desde 2014, quando a Operação Lava Jato começou a desvendar os dutos de propina da Petrobras, os brasileiros se perguntavam: “como seria possível diretores indicados pelo ex-presidente Lula e confirmados pela então presidente da República desviarem bilhões de reais da Petrobras sem que eles e os superiores hierárquicos desses gerentes e diretores nada soubessem?" Ou eram incompetentes para comandar, sem saber o que se passava. Ou, pior ainda, coniventes com os acusados. Como admitir que um gerente de uma estatal, como aconteceu com a Petrobras, possa ter amealhado US$ 90 milhões (devolvidos após delação premiada) e ninguém, nenhuma Auditoria, nenhuma área de compliance da empresa, ou sequer o Conselho de Administração tivesse descoberto? Para se ter uma ideia da dimensão do escândalo, no balanço da Petrobras divulgado ano passado foi reconhecida uma perda de R$ 6 bilhões com os desvios da propina.

A pista para pegar Lula surgiu na investigação provocada pelas gravações que levaram à prisão o Senador Delcidio Amaral, quando se articulava um esquema, envolvendo o amigo de Lula, José Carlos Bumlai e outras pessoas, para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. A denúncia aponta vários indícios de que Lula interferia nas negociações para calar diretores, o que corrobora  a acusação de que ele sabia dos delitos que praticavam durante seu governo e depois, na gestão Dilma, e temia que a verdade aparecesse.

A crise exacerba os malfeitos

Lula escapou da responsabilidade quando, lá entre 2005 a 2007, estourou o escândalo do Mensalão. Muita gente sempre se perguntou, como ele não sabia de um esquema montado ao lado de seu gabinete, na Casa Civil, comandada por José Dirceu? Agora, essa crise atingiu o limite e, mesmo fora da presidência, segundo a PGR, Lula continuaria comandando um esquema que envolvia empreiteiros amigos, “operadores”, políticos e assessores, todos voltados para os contratos de obras superfaturadas.

No encaminhamento ao STF, Rodrigo Janot não economiza acusações. Considera ações “espúrias” a tentativa canhestra da presidente Dilma de nomear Lula para a Casa Civil, ante boatos de sua presumida prisão por causa de outro escândalo, a compra de um apartamento num edifício de Guarujá-SP. Essa operação Tabajara de nomeação de Lula também pode ensejar pedido de denúncia contra a presidente Dilma, por tentativa de obstruir a Justiça.

O cenário para o governo Dilma Roussef e os assessores mais próximos como Wagner, Berzoini, Giles, Cardoso, Edinho Silva, Erenice e outros é o pior possível. Foram todos denunciados por Janot e podem virar réus, assim que o STF se pronunciar. Essas ações seriam facilitadas ainda pela iminente perda de foro especial de vários denunciados, caso o impeachment seja aprovado.

A crise do impeachment que, a rigor, segue o rito por outros motivos, piorou com a denúncia contra Lula e pessoas do governo. A PGR não poupou ninguém. Nem Aécio Neves, nem Eduardo Cunha. Para este, o Procurador afirmou no pedido de abertura de novo inquérito que “essa célula (criminosa) tem como um dos seus líderes o presidente da Câmara...”, ao se referir à denúncia sobre Furnas.

A respeito de Lula, o desenlace de anos de uma trajetória que foi do céu ao inferno, nos últimos meses, pode manchar uma bela história de superação. Lula foi o primeiro brasileiro sem uma educação superior a chegar à presidência da República. Era, de certa forma, a cara do brasileiro pobre do interior. Talvez aí estivesse o seu carisma. Há vários meses, a força tarefa da Lava Jato, em Curitiba, tem vasculhado documentação e ouvido delações que o aproximam dos desvios da Petrobras e de favores suspeitos recebidos de empreiteiras, entre eles milhões de reais por palestras em países amigos.

A decisão do PGR pegou de surpresa apenas quem não acompanha o que ocorre nos bastidores das apurações ou aqueles militantes que acreditavam que o ex-presidente era intocável. Como diz o comentarista João Domingos, no “Estadão”, “o argumento de Rodrigo Janot de que “o petrolão só pôde existir com Lula”, é muito forte. Estará a partir de agora como um carimbo a marcar a biografia do ex-presidente, um fantasma a perseguir aquele que ainda é um mito para uma faixa da sociedade”.

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