Paris Torre Eiffel corretaQue houve uma falha grave da Inteligência francesa em detectar a iminência de um ataque violento ao país, particularmente a Paris, todos concordam. Mas como é possível o serviço secreto francês ter falhado, 11 meses após o violento ataque ao jornal Charlie Hebdo, com 12 vítimas, sabendo que se tornaram alvos do Isis e têm a maior população muçulmana da Europa?

Difícil entender como a polícia francesa deteve um dos terroristas que participaram do massacre nos diversos locais de Paris, no dia anterior, e o deixaram sair livre, sem uma apuração mais cuidadosa. Excesso de zelo, para não correr o risco de reter alguém sem provas? Ou falha para fazer uma investigação e descobrir ligações com os terroristas da Síria e do Iraque, antes de soltá-lo?

“O ataque representou um grave erro para as agências de espionagem ocidentais que não conseguiram disparar o alerta, depois que a polícia da Baviera (Alemanha) informou às autoridades da União Europeia que tinham interceptado um carro na fronteira alemã carregando granadas e fuzis AK47s, na última semana”, informa o The Times, de Londres, de 16 de novembro. Como em outros atentados (apenas para lembrar, World Trade Center e o ataque ao Shopping em Nairobi), alguns sinais de alerta de risco de ataques existiam e por que foram ignorados? Seria porque a polícia estava muito confiante no esquema de segurança e nos trabalhos da Inteligência francesa?

Segundo o jornal britânico, Ludwig Waldinger, um porta-voz da polícia alemã disse: "Nós somente sabemos que ele (um dos homens procurados pela polícia francesa) queria dirigir até Paris, mas não sabíamos se havia qualquer conexão com este ato horrível de terrorismo e ele não quer falar com a gente sobre isso. Ele disse somente que queria apenas olhar para a torre Eiffel ".

Não está claro, também, diz o The Times, por que a policia francesa deixou Salah Abdeslam, 26 anos, um dos três irmãos que participaram do atentado, escapar de suas mãos. No sábado de manhã (14), um carro carregando três suspeitos jihadistas foi parado na fronteira da França com a Bélgica, mas foi permitido que eles continuassem até Bruxelas, quando ele foi preso sete horas depois. Esta falha possibilitou que um dos passageiros (Abdeslam), que estava usando outra identidade, possivelmente de seu irmão Mohamed, escapasse pouco antes de ser encontrado.

"Chefes da inteligência da França terão que responder por que eles não retiveram jihadistas fanáticos, que circularam livremente pela França com carros fortemente armados", conclui a reportagem. Numa cidade sabidamente alvo de terroristas, num país que faz parte da facção que ataca o Isis, foi muito fácil para os fanáticos circularem com carros cheios de armas e não serem descobertos.

Oficiais graduados do Iraque haviam alertado a França e outros países da coalizão anti-Isis, na terça-feira, sugerindo um iminente ataque terrorista, de acordo com fontes do jornal britânico. Essa informação ficou restrita às forças de segurança. Será que um alerta geral, por toda a mídia francesa, não teria desestimulado os terroristas de fazer vários ataques com a desenvoltura como ocorreu, sem serem incomodados pela polícia?

Britânicos não poupam

Segundo reportagem do The Times de 16/11, uma falha grave dos serviços de inteligência europeus permitiu que os ataques a Paris acontecessem, no entendimento de especialistas em segurança britânicos.

Há preocupação, até porque uma sofisticada célula terrorista, que envolve conhecidos suspeitos, um extenso planejamento e a aquisição e gestão de armas e explosivos, através das fronteiras europeias, não tenha sido registrada no radar dos serviços de inteligência.

Uma fonte da área de segurança britânica disse ao Times: "Os serviços de inteligência franceses têm um bom recorde, mas há alguma evidência de que sua capacidade técnica e as próprias técnicas escorregaram. Os alemães são bons, mas excessivamente burocráticos, e os belgas são totalmente incompetentes.”

Os investigadores britânicos, ao criticar as falhas de segurança na França, dizem que eles têm melhor chance de interceptar uma célula complexa, envolvendo múltiplos executores, do que eles teriam de parar um terrorista chamado, no jargão do terror, “lobo solitário”, que deixa pouco ou nenhum rastro digital.

"Nós nos permitimos achar que aquilo que faz um alvo realmente difícil é a atuação como lobo solitário", disse uma fonte do governo britânico. "Mas essa coisa (que apareceu em Paris) não se trata de um lobo solitário. Assim que um grupo de pessoas desse tamanho começa a se comunicar, eles emitem sinal. Por que eles não foram pegos"? conclui.

Certamente, após os múltiplos ataques na fatídica noite de 13 de novembro, em Paris, o que os serviços secretos e inteligência policial estarão perguntando é como foi possível um grupo tomar conta de uma certa região de Paris e cometer assassinatos em série, sem que nenhuma força de segurança os tivesse interceptado ou pelo menos descobertos a tempo de evitar verdadeira carnificina, pelo menos em dois locais de aglomeração.

Outros países

A polícia de Londres informou que forças especiais serão criadas e receberão ordens de atirar para matar, se terroristas sequestrarem grande número de pessoas, em um cerco em alguma cidade britânica, por exemplo. Essa foi uma declaração enfática do Primeiro Ministro britânico David Cameron ao Parlamento.

O massacre no Bataclan convenceu os chefes de segurança britânicos da necessidade de mudar a estratégia de buscar negociação com homens armados que precisam ser neutralizados. Eles descartam, em princípio, a possibilidade de negociar.

Os britânicos admitem que os serviços de inteligência da França são susceptíveis de enfrentar um inquérito sobre os motivos que levaram às falhas de informação sobre a ameaça jihadista, dada a ocorrência dos ataques contra o jornal Charlie Hebdo e a um judeu em Paris, apenas dez meses antes.

Mas por que a polícia francesa foi incapaz de interceptar os atentados, se desde janeiro as ruas do país são vigiadas por milhares de militares, e 25 mil policiais patrulham lugares com potencial para serem escolhidos como alvo de atentados, pergunta a BBC News.

O problema é que as autoridades "não podem prever onde será realizado o próximo ataque", analisou Frank Gardner, correspondente de Segurança da BBC. E muitos especialistas vão na mesma linha.

Para a porta-voz do Partido Socialista (governista), Corinne Narassinguin, "obviamente houve uma falha da inteligência francesa", e as investigações sobre o que ocorreu mostrarão no que os serviços de segurança devem melhorar.

Em conversa com a BBC, porém, ela ponderou que "é impossível garantir segurança absoluta hoje em dia, especialmente porque os terroristas operam em uma escala muito menor. Os terroristas entendem que é mais fácil organizar um grupo muito pequeno de pessoas que vão a lugares muito lotados com armas automáticas e provocam um banho de sangue".

Ainda segundo a BBC , “um questionamento sobre eventuais falhas das agências de segurança francesas ao não conseguir evitar o atentado de sexta talvez seja simplista ao desconsiderar a complexa realidade atual e os vários fatores em jogo.”

A França faz parte da coalizão de dezenas de países que hoje combatem o autodenominado “exército islâmico”. Que de exército não tem nada. Trata-se, na verdade, um grupo terrorista que conquistou territórios na base das armas e da tortura; não tem religião, porque afronta os princípios da doutrina islâmica, que diz seguir, com assassinatos, sequestros, estupros e prática de escravatura e violência contra as pessoas que prende. Ou, como definiu o presidente Barack Obama, "simplesmente uma rede de assassinos". Ao tomar a decisão de bombardeá-los, intensificada após os ataques ao jornal Charlie Hebdo, em janeiro, as autoridades francesas sabiam o alto risco que o país estava assumindo.

Hoje, há quase uma semana do atentado, parece fácil aceitar a tese da falha. Mas não há dúvidas de que a polícia e autoridades francesas, incluindo seu serviço secreto, terão muito que explicar como foi possível um grupo de terroristas comandar um massacre em pleno centro da cidade, sem ser interceptado.

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