creche de janaubaO incêndio provocado na creche Gente Inocente em Janaúba-MG, junto com um dos maiores atentados com vítimas fatais da história dos Estados Unidos, marcaram uma semana para apagar, mas não para ser esquecida.

Em Janaúba, no norte de Minas Gerais, um vigia da própria creche, num possível surto psicótico, mas em ato friamente planejado, como suspeita a polícia, chegou à escola pertencente à prefeitura, pela manhã; fechou crianças e professores num salão do prédio, onde se realizava uma festa alusiva ao dia das crianças, e jogou álcool em todos os que estavam naquela sala, inclusive sobre si próprio. A crueldade, segundo relatos dos presentes, chegou ao extremo de o vigia tentar impedir a fuga dos atingidos pelo fogo, na hora do pânico.

Até esta segunda-feira (9), foram 11 vítimas, nove crianças na faixa de 4 a 5 anos; a professora Heley de Abreu Silva Batista, de 43 anos, que tentou evitar a tragédia lutando com o criminoso, quando vislumbrou o perigo; e o próprio vigia, que morreu logo em seguida. Por mais que autoridades, polícia, professores da creche e psicólogos tentem explicar o que aconteceu, é muito difícil aceitar, como fruto da violência que campeia pelo Brasil e pelo mundo, um crime tão bárbaro. Assemelha-se ao atentado à Escola Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, ocorrido em abril de 2011, quando morreram 12 crianças, vítimas de um ex-aluno que chegou atirando com um revólver calibre 38 nas crianças, em várias salas, e se suicidou após o crime.

Ataques a crianças, apesar da covardia e sordidez, não são raros. Um dos piores, nos últimos anos, ocorreu em Beslan, na Ossétia do Norte, Rússia, quando terroristas chechenos fortemente armados fizeram mais de 1.200 reféns, depois de invadir uma escola, em 2004. Depois de colocarem explosivos na escola, e constrangerem reféns - a maioria estudantes menores de idade - a cenas de humilhação, os terroristas foram atacados pelo exército russo, quando eles detonaram os explosivos. Saldo do massacre: 334 civis mortos, sendo 186 crianças. Centenas ficaram feridos e com sequelas.   

Na Nigéria, recentemente houve vários atentados a escolas cristãs pelo grupo terrorista Boko Haram, de ideologia muçulmana radical, matando e sequestrando estudantes. Numa das incursões no interior do país, em episódio que ficou conhecido no mundo todo, eles invadiram uma escola e sequestraram mais de 200 meninas, em 2014. Até hoje, apenas 60 conseguiram ser resgatadas. Sem falar nos Estados Unidos, onde atentados a escolas se tornaram uma triste rotina e das maiores crises do setor educacional, em vários atentados que deixaram dezenas de crianças e adolescentes mortos nos últimos 30 anos.

Em dezembro de 2014, a barbárie chegou ao Paquistão. Oito militantes do Talibã invadiram uma escola militar e mataram friamente 132 estudantes e nove professores. Os exemplos se espalham pelo mundo, atingindo principalmente instituições que concentram grande número de pessoas e provocam uma comoção, como escolas, igrejas e unidades militares.

Até países desenvolvidos, com excelente nível de qualidade de vida, podem ser vítimas quando se deparam com um fanático. Na Noruega, em 2011, um psicopata com ideias neonazistas preparou uma emboscada numa ilha e assassinou a tiros 93 pessoas, sendo 86 jovens até 16 anos que estavam numa convenção partidária. Isso, depois de ter provocado uma explosão no centro da cidade para desviar a atenção da polícia. Tudo foi premeditado nesse atentado da Noruega e o psicopata preso e condenado quer agora processar o estado porque teria sido maltratado na prisão. Surpreende ele ainda estar vivo.

Psicopatas, fanáticos, terroristas de cunho religioso e até os traficantes perderam a vergonha, e não têm escrúpulos de atacar crianças que nem sabem o que está acontecendo. O autodenominado exército islâmico (Isis), que está sendo expulso do Iraque e do norte da Síria, não tem o menor pudor em sequestrar e matar crianças, seja meninas ou meninos. Como dizia o escritor Ernesto Sábato... Nós, adultos, de algo sempre somos culpados. Mas as crianças, que culpa podem ter as crianças?”

O Ministério Público de Minas Gerais instaurou quatro inquéritos para apurar as circunstâncias sobre o incêndio da creche de Minas e sobre a contratação do vigia que provocou a tragédia. O MP quer saber se o empregado estava apto a trabalhar na creche; se o prédio tinha estrutura e um plano de combate a incêndio; se o dinheiro das doações vai ser aplicado corretamente; e se as vítimas estão recebendo assistência adequada.

Sob qualquer ângulo que analisemos, o ataque às crianças da creche de Janaúba, no que respeita ao gerenciamento da crise, convém verificar se houve alguma falha em monitorar o comportamento do vigia; se a contratação dele não atendia a algum interesse; se já tinha dado sinais de atitudes estranhas e estas foram ignorados. Consta que ele tinha problemas mentais, desde a morte do pai, e não se tratava. De que serviria agora essa apuração que a polícia e o MP estão fazendo? Além de dar uma satisfação à sociedade, sobre o que de fato aconteceu naquela creche, o apurado poderá servir de  alerta às escolas, para quem lida com crianças, sobre como devem conduzir a seleção rigorosa das pessoas que contratam. Não é a primeira vez que empregados de estabelecimentos que lidam com crianças, sejam escolas, parque de diversões, transporte escolar, creches são os pivôs de crises graves provocadas por erro humano, abusos ou desrespeito às normas da empresa. 

EUA sob ataque lidam com atentados cada vez mais letais

Las Vegas atentadoNa sequência de violência que marcou a semana passada, o mundo foi surpreendido na manhã de 5a feira (5/10) pelas imagens chocantes de um fanático atirando em milhares de pessoas que assistiam a um show de música country na cidade de Las Vegas, Colorado, Estados Unidos. A frieza do atirador, usando um fuzil adaptado para funcionar como se fosse uma metralhadora, é diretamente proporcional à loucura que se instalou na multidão, quando percebeu que não eram fogos, como alguém gritou ou julgou, mas eram tiros realmente. E tiros letais.  

Foram 59 mortos, até esta segunda-feira (9), não sendo descartada a possibilidade de mais mortes, pela quantidade de feridos, mais de 500, que tentaram se esconder deitando-se no chão, correndo, escondendo-se embaixo de carros, sem saber que deitar era uma posição vulnerável, pois o fanático militante cometia os crimes do 32º andar de um hotel, na frente de onde ocorria o festival. Levou pelo menos 5 a 10 minutos para um policial perceber que os tiros vinham de cima.

O atentado de Las Vegas por um fanático, que premeditou e preparou com detalhes todo o esquema de ataque, é um alerta para os setores de segurança, principalmente num país onde a aquisição de armas é livre. Mesmo com essa carnificina, o presidente dos EUA, políticos e boa parte da população fingem que não aconteceu nada; não querem discutir nenhuma medida para restringir a compra e a posse de armas. Como um hóspede pode chegar a um hotel com 23 armas, incluindo explosivos, segundo a polícia, subindo com dez malas, e ninguém levanta qualquer suspeita. Nem parece que os EUA estão sempre alerta para ataques terroristas. O fanático ainda possuía mais 19 armas em casa.

O problema dos EUA é que os ataques com armas letais praticamente diários já mataram mais gente do que nas guerras disputadas pelos americanos nos últimos 50 anos. Até quando o país estará disposto a assistir loucuras como essa, do atirador de Las Vegas, sob a égide de um artigo da Constituição que garante a liberdade do cidadão americano para decidir se quer ou não portar uma arma? Ou os americanos se acostumaram à rotina de, em média, suportarem um atentado por dia (com no mínimo quatro vítimas), quase sempre com armas letais?

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