bate bocaO Brasil esta semana lava roupa suja em público. Não bastasse a imagem do país ter atingido o volume morto, com a deterioração da economia, aumento do desemprego, desvalorização do Real, somada à crise institucional e aos escândalos de corrupção, a presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados resolveram baixar ainda mais o nível.

Se já tínhamos a pecha de “república cucaracha” no exterior, esse bate-boca via Oceano Atlântico, acompanhado pela mídia estrangeira, só contribui para piorar a imagem do país. Que Eduardo Cunha fique dando estocadas no governo, era esperado. Ele está quem nem fera acuada pelos caçadores e nenhuma reação dele, por mais descabida possível, pode ser surpresa. Ele resolveu cutucar o governo com vara curta, porque conhece a fragilidade da presidente. Dá uma estocada aqui e outra ali.

Mas um governo sério não entra nessa provocação. Age rigorosamente dentro da Lei e não pode ficar trocando farpas com um deputado acusado pelo Ministério Público de ter recebido propinas e manter contas fantasmas no exterior. Ele está nas cordas e o governo, especialmente a presidente, ao entrar nesse bate-boca, só faz o que Eduardo Cunha quer. Posar de carrasco de um governo que também está nas cordas e desaprovado por mais de 90% da população.

Mas presidente da República não bate boca com desafetos pela mídia. Muito menos em entrevistas com correspondentes estrangeiros fora do país. Se o governo se sentiu ofendido por Eduardo Cunha, quem deve responder, em nome do governo, deveria ser o Vice-Presidente, o porta-voz do governo, líderes do partido no Congresso ou algum ministro escalado para tanto. Nunca a presidente da República. Ela caiu no jogo rasteiro  e debochado de Eduardo Cunha, que não tem nada a perder. O que mostra mais uma vez o despreparo e o improviso da presidente para exercer a função de Chefe de Estado e de governo, até porque ela tem extrema dificuldade de articular alguma coisa com consistência e equilíbrio, não conseguindo dissimular a arrogância, o destempero verbal e a autossuficiência. Exatamente no momento em que mais precisa de autodomínio e ponderação.

Todos os pronunciamentos de um presidente da República devem ser muito criteriosos, preparados e avaliados. Essa provocação inútil começou, erradamente, há dois dias, quando Dilma, perguntada sobre as contas de Eduardo Cunha, descobertas na Suíça, disse lamentar serem contas de um brasileiro. Poderia ter se esquivado: "isso não é problema da presidente da República". Cunha não perdoou. Devolveu a provocação, dizendo: “Lamento que seja com um governo brasileiro o maior esquema de corrupção do mundo.”

Hoje, na Finlândia, a presidente tentou remendar com outra declaração infeliz, tornando pior o que já estava ruim: “O meu governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção”. Afirmação que não corresponde à realidade. Além de ter aberto o flanco para a tréplica e para virar motivo de piada.

O Ministério Público acaba de afirmar em evento no Rio que o valor das propinas recebidas pelos envolvidos em esquemas de corrupção na Petrobras e em outras estatais e órgãos públicos supera os R$ 10 bilhões. Se considerar o sobrepreço nas obras contratadas, o rombo pode chegar a R$ 20 bilhões. Como, então, afirmar que esse governo não está envolvido em nenhum escândalo? 

Ora, além de dar corda para receber outra resposta desaforada de Eduardo Cunha, a presidente ignora que os diretores e funcionários envolvidos no escândalo foram todos mantidos nos cargos em seu governo e que houve falha grave de auditoria, compliance e governança na Petrobras e outras empresas, durante seu governo.

Declarações de presidente da República deveriam ser raras, muito bem acertadas, ensaiadas e nunca improvisadas. Nenhum assessor de comunicação criterioso recomendaria a um presidente da República que está sob ameaça de impeachment, envolvida numa crise grave, precisando negociar com o Congresso e exposta por um dos maiores escândalos de corrupção da história do país ir a público no exterior e começar a bater boca com um acusado pelo Ministério Público. Esse voluntarismo, que pode ser muito bonito para a militância, que aplaude qualquer coisa, só contribui para desgastar ainda mais a imagem do governo e demonstrar que a presidente está mal assessorada.

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