seca em sp doisAs atenções do mundo foram monopolizadas na última semana pelo violento e covarde atentado contra a publicação Charlie Hebdo, em Paris. Mas por aqui, as crises não estancaram. Ao contrário, existem eventos graves ocorrendo no país, afetando a vida de milhões de brasileiros. Os governos, como também as empresas privadas, são incapazes ou lentos para resolvê-los. E as consequências perniciosas para a população ou os stakeholderes são imprevisíveis.

Os desmandos do governo do DF

No DF, mais um governo que envergonha os políticos e o partido. Pela primeira vez, em 50 anos de Brasília, um governo sai sem deixar um tostão em caixa, sequer para honrar os salários dos servidores, principalmente professores e pessoal da área da saúde, do mês de dezembro, incluindo o 13º salário.  Num país sério, todos os administradores com responsabilidade nesse escândalo seriam denunciados e responsabilizados.

Como não há dinheiro para salários? Se foram gastos bilhões na Copa do Mundo, incluindo mordomias, um elefante branco: o estádio Mané Garrincha. Custou R$ 1,5 bilhão e ficará entregue às moscas nos próximos anos, porque não há dinheiro para manutenção, numa cidade, onde a média de público nos jogos dos times de futebol locais não passa de 1.500 torcedores.

A crise do GDF demonstra de forma cabal como um grupo toma o poder não para exercer o múnus público, utilizando os recursos de forma equilibrada, racional, em benefício da população. O que se nota, na hora em que um partido ou facção ganha uma eleição é que, quais hienas nas carniças, tão logo toma posse, um monte de apaniguados vai buscar o seu quinhão por pertencer ao partido, à base aliada ou por ter ajudado na eleição. E os cargos, ao invés de serem atribuídos a quem tem competência, são dados com presentes, moeda de troca para agradecer a eleição.

O resultado só pode ser o descalabro de que é exemplo, no GDF, a construção e inauguração de um luxuoso novo centro administrativo, em Taguatinga, que custou R$ 600 milhões, construído numa parceria público-privada. O ex-governador fez questão de inaugurar o “novo centro administrativo”, no último dia de gestão. Entregou, na verdade, mais um “elefante branco” para o governo que entrou. O Centro é apenas um grande complexo de imóveis. Não tem absolutamente nada: móveis, equipamentos, iluminação; até para obter o "habite-se" houve fraude; o GDF precisou demitir o funcionário, que negou, nomeando outro no apagar das luzes do governo, para que este liberasse o documento.

O legado do "novo Centro" é um passivo de R$ 17 milhões mensais, resultado da prestação que o GDF deve pagar à construtora. Enquanto o ex-governador curte férias nos EUA, mais de 15 mil servidores passaram o fim de ano sem salários. E a área de saúde está em greve também por causa de atrasos nos compromissos e falta de dinheiro para equipamentos e condições mínimas de atendimento. A ponto de o governador do DF, Rodrigo Rolllemberg, decretar, na segunda-feira, 19, "situação de emergência" no DF. "Caos total" é a expressão mais usada neste mês de janeiro para definir a situação da Capital do país. Até agora ninguém foi preso.

Crise da Petrobras

Efeito perverso da crise na petrobrasA outra grande crise brasileira no momento envolve a ex-maior empresa brasileira. Sim, porque os descalabros ocorridos na Petrobras foram tantos que derrubaram o valor de mercado da empresa a ponto de rebaixá-la no ranking das maiores corporações nacionais.

Com imagem e finanças corroídas pela ingerência política, pelo maior escândalo de corrupção da moderna história do país e, agora, pelos efeitos do preço do petróleo no mercado internacional, a Petrobras caiu para a quinta posição entre as maiores empresas do país, no ranking da Bolsa de Valores. Desde 1996, a empresa não estava nessa posição.

No início do ano, a empresa valia R$ 106,7 bilhões em valor de mercado, enquanto a primeira no ranking, a Ambev, valia R$ 253 bilhões. Em 2010, o valor da Petrobras chegou a R$ 310 bilhões.

Mas a crise da Petrobras transcende apenas a desvalorização contábil e o desprestígio da empresa no cenário internacional. O escândalo, que cada dia tem revelações mais graves do que as anteriores, arrastou em cadeia uma série de setores para a crise. Das empreiteiras que estão envolvidas diretamente, aos fornecedores, bancos, acionistas, empregados, empresas que dependem das encomendas da estatal, estaleiros, todos são impactados pelos efeitos financeiros e econômicos desta crise.

O mal causado por essa quadrilha, que se apossou de pelo menos três diretorias da Petrobras, controladas por partidos políticos, ainda não foi totalmente dimensionado. É quase impossível calcular todo o efeito deletério desse escândalo, ocorrido pela inexplicável omissão dos órgãos fiscalizadores, da diretoria e do conselho de administração, desde 2003. Bancos americanos calculam que o prejuízo da empresa pode chegar a R$ 20 bilhões.

O pior dessa crise é a falta de um horizonte que aponte uma solução a curto prazo. Qualquer que seja o cenário imaginado para os próximos meses ou anos, a Petrobras vai demorar a recuperar a imagem e o mercado que ela tinha antes da crise.  

Tempo ruim para a gestão de São Paulo

A terceira grande crise que paira sobre o país, especificamente sobre a população de São Paulo, é a escassez de água. Os prognósticos são os piores possíveis. O governo de São Paulo desde o ano passado administrou essa crise com pouca transparência, provavelmente influenciado pelo clima eleitoral. Contava também que as chuvas do verão poderiam amenizar a ameaça de racionamento ou de colapso total no fornecimento de água.

Nem uma coisa, nem outra. Não choveu o suficiente. As chuvas que vieram em dezembro e janeiro foram pródigas em causar problemas e alagamentos na cidade, tumultuando a vida do paulistano, mas insuficientes para amenizar a escassez de água nos reservatórios de S. Paulo. As medidas agora anunciadas estão atrasadas, no mínimo. Deveriam ter sido adotadas lá, quando os primeiros sinais da crise deram o alerta para o que poderia acontecer.

A Prefeitura de São Paulo e a Agência Nacional de Águas também não levaram essa crise a sério. Somente agora, no início do ano, a Prefeitura encaminhou projeto de lei proibindo lavar calçadas ou carros com água potável, uma medida também atrasada e que só será discutida na Assembleia Legislativa após o recesso. Crise não combina com burocracia e lentidão. A ANA segue a linha das demais agências reguladoras. São lentas e burocráticas para fiscalizar e para interferir em processos semelhantes. Prefeitura e ANA não são protagonistas dessa crise e, por isso, o governo de São Paulo tocou como quis o problema. O governo federal que também deveria ter tomado providências num ano eleitoral torceu para o quanto pior, melhor, apostando que quanto mais os reservatórios naturais ficassem vazios, os votos para Alckmin também secariam nas urnas. Deu com os burros n'água para usar um apropriado trocadilho. E quem paga o pato, como sempre, é o contribuinte, principalmente os mais pobres.

Essa crise é tão grave que, a persistir o índice diário de queda do sistema Cantareira, que abastece quase metade da população da cidade de S. Paulo, há uma ameaça real de que, a partir de março, 6 milhões de paulistanos fiquem literalmente sem água. Apesar de todos os desmentidos das autoridades. O novo presidente da Sabesp, que assumiu há menos de um mês, já admitiu que é uma crise grave e que teremos que torcer para São Pedro mandar mais chuva, porque do ponto de vista técnico muito pouco há a fazer. A não ser economizar e racionar. Mais ou menos como tentar parar um trem desgovernado, que já apresentava defeitos nos freios há pelo menos um ano.

As consequências dessa crise para São Paulo também são imprevisíveis. Não há dúvidas de que terá repercussão não apenas na vida do cidadão, mas na indústria, no comércio, no setor de serviços, com impactos no emprego, no turismo, nos negócios. E não adianta jogar a culpa na natureza, no clima que mudou, na poluição. Começa ficar mais claro que houve falta de planejamento para um cenário que há vários anos apontava para o colapso.

A crise financeira do Distrito Federal, o assalto à Petrobras e a seca em São Paulo são, entre tantas, apenas três situações dramáticas em que os governantes e dirigentes eleitos ou escolhidos foram incompetentes para responder às demandas e cumprir as mínimas obrigações de um gestor público. Tristes exemplos de como falhas de gestão podem comprometer totalmente uma administração. Mostram também por que temos um longo caminho para trilhar, até nos tornar um país sério.

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